quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A procura do conhecimento: recordando Jules Michelet .que acreditava no homem...



Júlio Resende, pássaro azul



Retrato de Michelet por Thomas Couture


Folheando o grande historiador Jules Michelet ("Le Peuple", primeira edição, 1848, Meline, Cans et Compagnie, Bruxelles), ficou-me a vontade de voltar um dia, para o ler com mais atenção.

Tempos heróicos em que se acreditava (com ingenuidade e boa-fé) que o homem tinha na mão o mundo e o podia melhorar. 
Que outros dias viriam, cheios de sol e de luz.



Oh! como eu gostava  de “ainda” acreditar naquilo em que Michelet acreditou!

“Luz, mais luz, ainda!” foi a última frase de Goethe, que Michelet cita, a dada altura.
O que era essa "luz" para Goethe não vou aprofundar...

Para mim, luz é como conhecimento. 

E não resisto a copiar o que Michelet diz, em seguida, onde se "sente"  a crença sincera desse homem na humanidade e no desejo de saber ( a "luz" desejada), por vezes à custa de tantos sacrifícios dolorosos. 
Certa gente, das classes mais baixas, lutam para a ter. Mas as condições de vida e de trabalho são penosas e -quantas vezes!- acedem a essa “luz”, com a maior dificuldade, sempre numa insatisfação, por não lhe poderem dedicar a atenção e o tempo de que não dispõem, nessa luta pela vida.

Escreve o historiador:

Luz é o grito geral da Natureza e soa no mundo inteiro, de mundo em mundo” (pág. 60, o.c.)
Van Gogh, "lírios azuis"

"Esse grito vem dos mais humildes, os seres menos avançados na vida animal, os moluscos gritam-no no fundo do mar, não querem viver onde a luz não chega. A flor vira-se para ela, sem ela morre. Os nossos companheiros de trabalho, os animais, alegram-se, como nós, conforme ela vai ou vem”.

E acrescenta, adiante, um “belo” momento de poesia pura!

encontrado no Facebook (única indicação "spraguespipit")

"Pássaros", pintura de Gedo Ilka

Castelo de Vacoeil onde Michelet passou algum tempo

“Este Verão, passeando no meu jardim, ouvi e vi, num ramo, um pássaro que cantava ao sol poente; erguia o bico para a luz, maravilhado... 


o pássaro azul de uma lenda russa

Eu fiquei encantado só de o ver: os nossos tristes pássaros de gaiola nunca me tinham dado a ideia dessa inteligente e forte criatura, tão pequenina e tão apaixonada... Eu vibrava com o seu canto...


o milheirinho, (blog "Trepadeira")

Ele deitava a cabeça para trás, com o peito bem redondo; nunca cantor algum teve tão ingénuo êxtase. Não era, porém, o amor que o movia (o tempo passara já), era sim o encanto do dia que o deslumbrava, o encanto do dia e a doçura do sol”. 


"não era amor" (aqui dois pintarroxos a namorar, no blog "Trepadeira")

Van Gogh, Salgueiros ao pôr do sol, Outono em Arles(1888)

Não é necessário acrescentar mais nada. A luz, o conhecimento abre os espíritos e conduz ao entendimento da beleza. Que faz crescer as plantas. Que faz viver todos os seres. Que move os seres humanos (e os animais) para a procura de um absoluto que pode ser a natureza, a criação. 


Aldo Zari, pássaros dourados(?), sem título

E a poesia!
Azulejo português


6 comentários:

  1. E nós que vivemos num país cheio de luz!

    A "luz" do Sol é a vida e a beleza. A "luz" do conhecimento é o que nos permite apreender e desfrutar a beleza.

    Adorei o post. As pinturas são todas muito lindas e as fotos dos passarinhos também.

    Acho tão triste que muitos não tenham o calor da luz, da beleza, do conhecimento...

    Um beijinho grande

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  2. Querida Isabel, obrigada! há luz, há sol, mas há tanta gente que nem a "pode" ver, apesar de estar aí à vista!
    Um beijo

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  3. Maria João,
    Há muitos que também não a querem ver. Será receio?
    Para atingir a luz é preciso procurá-la e nem sempre nos deixam ter essa possibilidade.
    Procuro-a todos os dias mas às vezes não a enxergo como quereria.
    Há uma forte corrente que tenta apagar a chama, minando-nos com mandos injustos.
    Não vou dizer mais nada porque hoje o sol aqueceu muito pouco e não quero trazer sombra a uma postagem com uma luminosidade bela e pertinente.
    Beijinhos. :)

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    1. Eu sei que é difícil e, por mais que teime, nem sempre a vejo também...beijinhos

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  4. La mia ignoranza del portoghese mi obbliga spesso a chiedere aiuto al traduttore automatico, purtroppo, ma anche così leggerti è un piacere

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