segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Ismaïl Kadaré, o romancista albanês


ISMAIL KARADÉ nasceu em 1936 numa cidade do sul da Albânia, em Gjirokastër.

"Pertencia a uma família de pequenos funcionários" diz-nos a nota biográfica da edição Folio de: "Os Tambores da Chuva" (Les tambours de la pluie, Librairie Arthème Fayard, 1985).



Falo dele porque vi, há dias, uma tradução deste livro, da  Quetzal (colecção "Serpente emplumada") e apeteceu-me lembrar um livro de que gostei muito.


 O título é maravilhoso e, sem ter nada que ver uma coisa com a outra, de tal modo as realidades são diferentes, sempre o associei à minha estadia em São Tomé...

Quantas vezes me lembro de  ouvir, ali, bater os tambores da chuva! A chuva que nos libertava da atmosfera electrizante, do calor húmido insuportável,  e que nos dava, por momentos, um grande alívio.

Revela-nos a nota introdutiva: “Este romance (que se passa no século XV)  evoca a Guerra de Tróia, com o cavalo sedento que, desta vez, está fora da cidade cercada e, não, dentro dela”.
Torre de castelo, em Beja

Trata-se de uma cidade medieval albanesa cercada por forças inimigas, há muitos meses. O castelo protege-a, mas a defesa é difícil. 

Quem é  Ismaïl Kadaré?

Durante a II Guerra Mundial a sua cidade foi ocupada várias vezes por Italianos e Gregos, pelas forças reaccionárias albanesas, pelos alemães, sendo finalmente retomada pelos resistentes  anti-fascistas albaneses...



Estudou primeiro na sua cidade natal e depois foi fazer os estudos superiores na Faculdade de Letras de Tirana, onde se formou, estudos que irá continuar na Rússia no Instituto de Literatura “Gorki”, em Moscovo.

Sai de Moscovo em 1960, aquando da ruptura faz relações entre a  Albânia e a URSS.

Publicou contos, antologias de poemas e alguns romances entre os quais "O General do Exército Morto" (1966), "Os tambores da chuva" (1970) e outros como "Qui a ramené Doruntine" ou "Le crépuscule des dieux de la steppe"... 


Os seus romances foram traduzidos e publicados numa série de países.





Durante anos, foi jornalista - colaborando especialmente em revistas literárias. Depois, consagrou-se inteiramente à actividade de escritor. É membro União dos Escritores e Artistas da Albânia.

Nos anos 80, conseguiu enviar para França os seus manuscritos e, em 1990, a seu pedido, recebeu asilo político e a nacionalidade francesa.

O que me encantou no livro? A atmosfera de angústia, uma batalha, as muralhas fumegantes, ensanguentadas, debaixo de um sol tórrido? A luta dos homens, a vontade de acreditar nessa luta, sangrenta, impossível  de suportar?



 O livro é uma espécie de “crónica” desses dias impossíveis, do calor infernal em que vivem assaltantes e sitiados, da morte sempre presente, da crueldade de ambos os lados, da enorme angústia debaixo do sol que queima e decompõe as imagens e enlouquece os espíritos dos mais fortes.


imagem decomposta do castelo de Portalegre

imagem medieval de um castelo cercado por Carlos Magno

E, depois, a chuva que cai torrencialmente e que bate nas tendas, nas lanças, como tambores...

Li dele também, com grande prazer, noutra colecção (Livre de Poche) “Qui a ramené Doruntine?” (1986), história de “suspense”, enigma policial em ritmo de “thriller” .



Romance inquietante, referindo-se, agora, às lutas entre católicos e protestantes. 

Kadaré recebeu o Man Booker International Prize, em 2005, pelo conjunto da sua obra,  e, em 2008, o Prémio Literário Príncipe das Astúrias.

edição brasileira de O general do exército morto"

Em 1982, o italiano Luciano Tovoli (produção franco-italiana) adaptou o romance “O General do Exército Morto”, com o nome de "L'Armata ritorna". 


Com intérpretes extraordinários (mas não vi o filme) como Marcello Mastroianni, Anouk Aimée e Michel Piccoli.

Tenho a certeza de que vão gostar de Ismaïl Kadaré!

2 comentários:

  1. Quem não vai gostar de esse reconhecido intelectual que é Ismael Kadaré? Para minha desgraça não li nada dele, há tantos livros que não li quando devi fazê-lo, e agora já é tarde! Os Tambores da Chuva é muito conhecido na Espanha.
    Vou a yoga, mando-te um beijinho

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  2. Ó Maria, nunca é tarde! Sobretudo para ler... beijinhos e bom yoga!

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