domingo, 13 de janeiro de 2013

Homenagem a Jacques Brel: a vida...



Jacques (Romain Georges) Brel nasceu em Shaerbeek, distrito de Bruxelas, na Rua do Diamante,  em 8 de Abril de 1929 e morreu em Bobigny (a poucos quilómetros de paris), em 9 de Outubro de 1978.

Filho de pai com antiga ascendência flamenga, de Ypres, e  mãe que mistura sangue italiano e francês.



A cidade de Ypres  fica na Flandres, província na parte ocidental da Bélgica e cuja capital é Brugges. 

No entanto,  não falam o flamengo (holandês), mas sim o francês, como na zona dos valões.

Cocktail que tinha de levar longe! Tanta diferença de “sangue”, de espírito, de atitudes, de falas, de religiões...

Em casa de Brel falava-se francês, apesar dessa ascendência flamenga ser muito forte e próxima. Mas Brel canta em flamengo e fala dessa realidade. Lembro uma das minhas canções preferidas "Mon père disait" e Scheveningen, ou "Marieke" cantada em parte em flamengo...
praça de Scheveningen

Criança e adolescente, não gosta  de estudar e cedo se interessa pelas artes e aos 15 anos participa num grupo de teatro de jovens, representando pequenas histórias e tocando ao piano canções.
Não lhe interessa seguir a vida do pai, que tem uma fábrica de cartão e quer continuar a cantar.
Em 1950, já se apresenta em vários bares de Bruxelas.  Grava um disco em 78 rotações em 1953. Deixa a família, o emprego, a sociedade burguesa de Bruxelas. E decide seguir para Paris, à aventura.
Jacques Brel em 1963

Foi autor de letras e compositor de músicas. Actor de cinema, realizador de filmes, Jacques Brel foi sempre a pessoa humana, emotiva, verdadeira que sentimos ao ouvir as suas canções. 
Em Paris, Jacques Canetti ajuda-o, contratando-o para o seu célebre cabaret parisiense, Les trois Baudets onde, pouco, antes cantara Georges Brassens.
“Juliette Gréco interessa-se pela sua música e canta a canção “Le Diable”, composta por Brel”.

Em 1956, vai viver para Montreuil-sur-Bois com a mulher e os filhos. Casara na Bélgica, em 1950, com Thérèse Michielsen, Miche, que, em 1958,  volta à Bélgica em 1958, com os dois filhos e grávida de uma terceira filha que nascerá ali,).

Torna-se amigo de Brassens, Léo Ferré e de tantos outros cantores do momento. Era um carácter doce e agradável, todos gostavam de Brel.


Associa-se a Gérard Jouannest, pianista e acompanhante de Gréco, e ao orquestrador François Rauber. 

Em 1955, conhece Georges Pasquier, baterista do grupo Trio Milson, de quem vai ficar toda a vida amigo”(wikipedia).


É o Jojo das suas canções. E, com esta gente à volta,  vai mudar um pouco o seu estilo. Em 1956,  temm um grande sucesso com  a canção “Quand on a que l’amour”.


A canção “Ne me quite pas” tornou-o famoso em todo o mundo...


Brel alia o sentido do humor, da ironia e da observação à sua "poesia" natural e assim toca em todos os problemas da realidade, de diferentes maneiras, do cómico ao emotivo e ao dramático (Voir un ami pleurer, Vieillir, ou Jojo, canções do seu último álbum “Brel”).
Sem esquecer, porém,  a crítica feroz da sociedade burguesa que despreza (Jaurès, Les bourgeois, Ces gens-là)...

Quem não se lembra da letra?

"Les bourgeois 
c'est comme des cochons/
plus ça devient gros/
plus ça  devient bête..."


Em 1959, é já famoso, e apresenta-se no Bobino. Vai cantar também no L’ Ancienne Belgique, em Bruxelas com Charles Aznavour.

Em 1966, inesperadamente,  decide pôr fim à sua carreira. 

Realiza vários espectáculos, incluindo o último no Olympia, em Paris.


E voltará a cantar pela vez derradeira, em Bruxelas, no Palais des Beaux Arts, (desenhado pelo arquitecto Art Nouveau, Victor Horta, e conhecido por BOZAR).




Sem esquecer os espectáculos no Carnegie Hall, de Nova Iorque e o Albert Hall de Londres.

“Apesar das insistências dos amigos, não muda de ideias  a última aparição em público será no dia 16 de Maio de 1967, em Roubaix", numa pequena sala de teatro... (wikipedia).
E passa ao teatro, ao cinema e  a outras actividades e experiências. 
Entra numa série de filmes de sucesso, semi-policiais e  divertidos : 

em 1968, "La bande à Bonnot",  de Philippe Forestié, sobre a célebre "banda" dos anarquistas Bonnot; 



em 1971, "Les assassins de l'ordre", de Marcel Carné; 


em 1972, "L'aventure  c'est l'aventure", de Lelouch; 


com Lino Ventura

em 1973, "L'emmerdeur", de Edouard Molinaro, uma história hilariante, com Lino Ventura;

 ou, ainda,  "Mon oncle Benjamin" do mesmo cineasta.
E outros...
Simultaneamente, realiza filmes em que participa como actor, mas que não têm grande relevância: "Franz", ou "Le Far-West"...



Uma outra experiência vai ser  dar a voltar ao mundo, no veleiro que compra em 1974, com um grupo de amigos, nos quais se inclui a jovem Maddly Bamy, a mulher com quem vivia há 3 anos e que o acompanhará até à morte.


A jovem bailarina que conhecera na rodagem do filme de Claude Lelouch “L’aventure c’est l’aventure"(1972) trabalhara como bailarina nos shows do cantor Claude François, o amado "Cloclo", era uma das chamadas "clodettes".
Em Outubro desse ano, a Jacques Brel é diagnosticado um tumor no pulmão, e é operado em Bruxelas.
No ano de 1975, escolhe ir viver nas Ilhas "Marquises", na Polinésia francesa. Tendo conhecimento do avanço da doença e sabendo os seus dias contados, prefere morrer num sítio tranquilo, sozinho e em paz.
Hiva Oa, nas Ilhas Marquesas

E isola-se, com a mulher que ama, longe da civilização. Aluga uma casinha em Hiva Ao, vende o barco e compra um avião bi-motor.

Em 1977, ainda volta a Paris para gravar o último LP. Vai chamar-se apenas “Brel”, em cima de um céu azul com nuvens.

Antes da saída do álbum, já estavam “reservadas” um milhão de exemplares.
Numa das canções, intitulada “Les Marquises”, diz:
“Veux-tu que je te dise:/
Gémir n’est pas de mise/
aux Marquises”
(Queres que te conte? Gemer não se usa nas Marquises”...)

Apesar do enorme sucesso do álbum, volta à ilha da Polinésia onde encontrara o sossego. Mas a situação de saúde piora e, em Julho de 1978, regressa a Paris para tratamentos. 

Em Outubro, é internado no Hospital com uma embolia pulmonar. E morre a 9 desse mês, com 49 anos. Mas vai voltar à sua ilha...

túmulo de Brel, em Atuona: com um baixo relevo de dois rostos, o dele e o de Maddly


O corpo de Brel regressa à ilha que amava e é enterrado no cemitério Calvary de Hiva Ao, em Atuona Bay.

Onde - por ironia do destino-  se encontra outro “grande” fugitivo do mundo dito “moderno” ou civilizado, alguém que se foi refugiar na Polinésia como ele: Paul Gauguin...


Maddly Bamy escreverá sobre ele alguns livros. O primeiro, ""Tu leur diras", respondendo a um pedido de brel fala desses tempos juntos e recolhe grande número de litografias e cerca de 350 fotografias (editions Grésivaudeau, 1981) que teve várias reedições.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jacques_Brel


Mais links com  canções de Jacques Brel...

Ces gens-là:



Le diable:

Mon père disait:

Quand on a que l'amour

ne me quitte pas

Vezoul


Sobre a vida de Jacques Brel:



3 comentários:

  1. Querida Maria João,
    Foi tão bom reviver a vida de Brel nesta bela homenagem. As canções, as pessoas e as Marquises tudo me encantou. Só não vi Le Far West.
    Obrigada por esta viagem às memórias.
    Beijinho e boa semana! :)

    ResponderEliminar
  2. Interessantíssimo este post.
    Há muita coisa que desconhecia.

    Um beijinho grande

    ResponderEliminar