sábado, 8 de agosto de 2009

Agatha Christie, sempre! "The Mousetrap" (A Ratoeira), no St. Martin's Theatre

"The Mousetrap", em Londres no St. Martin's Theatre, do West End
































Não resisti. Sabia que não resistiria: fui ver a representação da peça de Agatha Christie, The Mousetrap”, no St. Martin’s Theatre, em Londres. Tinha que ir, mas tinha medo de não conseguir bilhetes, de chegar o momento de me ir embora sem ser possível, enfim, uma data de medos. Mas consegui!
Ainda cá fora, ao ver a rua, a pequena West St. (dificílima de encontrar -no dédalo de courts, streets, lanes, que rodeiam Trafalgar Square) e o edifício do teatro, que vira nas fotos da internet, senti o coração apertado, numa ânsia.
Perto, do outro lado da rua, o teatro onde a peça se estreara, 57 anos antes (faz 58 que está em cena: em 25 de Novembro) -o "Ambassador’s Theatre"-, com actores como o hoje célebre realizador Sir Richard Attenborough, no papel do Sergeant Trotter e Sheyla Sim, sua mulher, no de Mollie Ralstom.

Seria como sonhara? Iria perceber o inglês dos actores? Viria desiludida?
Antes, lera o primeiro acto da peça, para poder estar “preparada” e, pelo menos, ter uma ideia da intriga, que é a mais secreta que se possa imaginar.
Entrei no hall, fiquei a olhar para as fotografias de actores, de personagens importantes, espectadores da peça (até a rainha, em 2002, quando passaram os 50 anos da estreia) e quase ia comprando uma T-shirt preta, com um ratinho e a ratoeira a encarnado, mas tive vergonha e agora estou arrependida...
E lá fui sentar-me nas cadeiras de veludo vermelho de uma pequena sala harmoniosa.
Rodeei-me de programas (um “souvenir book”), papéis, guardei religiosamente os bilhetes, tirei fotografias da sala, das pessoas, sempre de nariz no ar.

Quem me viu, disse que parecia uma criança. Talvez. De facto, sentia-me como quando chegava a feira à minha terra -a expectativa dos dias anteriores tinha sido enorme!- e sabia que vinha aí o circo, e as barracas cheias de bonecos, de brinquedos e de luzes, e o carrocel: tudo aquilo de que eu mais gostava.
Durante todo o tempo o coração bateu. Inclinava-me para a frente para não perder uma palavra e lá fui percebendo tudo. Os actores ingleses são sempre bons e estes não falharam, pelo menos à minha vista e ouvido.
Posso ter imaginado Mollie Ralston de um certo modo, Chistopher Wren mais austero (impossível, mesmo no livro ele é extravagante, impulsivo, nervoso, infantil...), tendo-se revelado Crispin Shingler, no entanto, um bom actor, ou Mr. Palavicini um pouco mais italiano, o Detective Sergeant Trotter mais polícia, enfim, pequenos pormenores apenas. Muito bom também (o perfeito actor inglês) o actor Graham James no papel do Major Metcalf.
Representação sem falhas, julgo, mas é claro que eu não sou a pessoa indicada para “criticar” nada que se refira à Lady do Crime, por isso não vou criticar nada.
Já agora, uma explicação da “origem” da peça, que o tal "livrinho-souvenir" dá.
Estreia em 1947, na rádio. E porquê?

A BBC procurava um espectáculo na rádio (a televisão era desconhecida) para festejar os 80 anos da Rainha-Mãe, em 26 de Maio.

Foi feito um inquérito: Ópera? Shakespeare? A resposta era infalível, sempre a mesma: “Uma peça de Agatha Christie”.
Então, a Lady do Crime escreveu uma peça de trinta minutos para o aniversário da rainha, intitulada Three blind Mice (“Três ratos cegos”). À roda dos ratinhos perdidos (ou serão os ratos cegos o que se vêm fechados na ratoeira?) gira toda uma trama infernal.
E assim nasce a lenda! Porque a peça “Três ratos cegos”, acrescentada pela autora, vai dar origem ao texto de The Mousetrap ("A Ratoeira").
A peça estreia (é a estreia mundial...), no Theatre Royal, em Nottingham, no dia 6 de Outubro de 1952.
Passa, a seguir, pelos grandes teatros de Oxford, Manchester, Liverpool, Leeds, e outras cidades, antes de se instalar, definitivamente, tal como a sua autora decidiu, no West End, em Londres, em 25 de Novembro, num teatro tão pequeno que teria de ser um êxito súbito para sobreviver.
Diz o tal livrinho: “Pois bem, teve-o e sobreviveu! Como? Ninguém sabe. Talvez por ser uma peça familiar, um bom “whodunit” (assunto misterioso: “quem foi?”), ao mesmo tempo comédia e suspense, bem construída (mais do que se possa pensar). Mas o mesmo sucedeu com outras peças. Além disso, depois de 18 meses, a estrela do cast, Richard Attenborough (actor muito famoso no momento), afastou-se, o que teria sido a morte para a maioria das peças. Mas, mesmo sem “nomes” soantes, The Mousetrap continua, triunfante, até se transformar numa instituição. E o público continua a rir, a admirar e a sonhar.”






os actores da 1ª representação



No tal “souvenir book”, li que os actores do cast mudam praticamente todos os anos (os actuais começaram em Março de 2009) e poucos voltam a repetir o papel (excepção feita para o Mr. Palavicini que eu vi, John Fleming, que fazia o papel pela 4ª vez).
Neste momento já são mais de 390 os actores que representaram os diversos caracteres, numa peça com 8 personagens...
Outra curiosidade: o revólver que foi usado na peça, foi leiloado na Sotheby’s, em 1985, atingindo o preço de 600 libras, e foi comprado pelo "Departamento de Teatro" do Museu Victoria e Albert.

E a única peça do "décor" que esteve presente em todos os espectáculos foi o relógio que está sempre em cima da lareira...

No final, depois dos aplausos -que achei poucos: vi que o público inglês é menos caloroso do que muitos outros: o italiano e o russo, por exemplo, com os seus “bravos” entusiasmados, ou o português, a fazer vir à cena os actores uma ou duas vezes, ou mais-, veio à boca da cena um dos actores (o Sergeant Trotter) e disse:
“Agora somos parceiros no crime... Não revelem a ninguém o que aqui se passou... "


Sorrisos e mais palmas, sempre poucas. Eu fiquei ainda a olhar, de olhos brilhantes, feliz, e a bater palmas até o pano descer.
Tive pena que acabasse, claro. Como quando o Circo fazia a despedida, trazendo palhaços, acrobatas, trapezistas, de roda, fazendo a volta e agradecendo...
Ilustrações:
1. vista exterior do St. Martin's Theatre, na noite de 4 de Agosto 2009
2. capa do livro-souvenir sobre The Mousetrap, de A. Christie
3.cartazes, afixados fora do teatro, com quatro dos actores do cast actual
4. cartazes com fotografias dos outros quatro actores
5. fotografia do interior da sala (má..., da autora)
6. fotografias dos actores do actual espectáculo, 57º ano, 2009 (do souvenir book)
7. fotografias dos actores do 1º espectáculo, 1952 (do souvenir book)

Sem comentários:

Enviar um comentário