terça-feira, 10 de novembro de 2009

O etnógrafo Victor Segalen, a língua perdida dos Maoris, Gauguin e a "arte de tudo ousar"




VICTOR SEGALEN, foi um etnógrafo, arqueólogo, escritor, poeta, explorador, teórico de arte, linguista e crítico literário francês. Tudo isto no curto espaço de vida de 41 anos...

Nasceu em Brest em 14 de Janeiro de 1878. Estudou medicina naval em Bordeaux. Viajou, e viveu na Polinésia(1903-1905) e na China (de 1909-1914 e em 1917).
Morreu, acidentalmente, em circunstâncias misteriosas e de causas desconhecidas, em 21 de Maio de 1919.

Foi, de facto, encontrado morto, dois dias depois do seu desaparecimento durante o que deveria ter sido um passeio normal, na floresta de Huelgoat, França.
Apresentava apenas uma ferida no calcanhar.
Dizem que, aberto em cima do peito, tinha um exemplar do “Hamlet” de Shakespeare .
Depois da morte, deram o seu nome à “Universidade Victor Segalen II, de Literatura e Ciências Sociais”, de Bordeaux.


















À procura de Gauguin e da “arte de ousar”

Quem terá falado a Segalen de Paul Gauguin, o exilado dos mares do Sul?
Em 1903, Victor Segalen parte para o Tahiti, numa missão médica. Tem 25 anos, e a cabeça cheia de literatura, mas nunca tinha visto uma pintura ou uma cerâmica do grande Gauguin.


Jovem médico, saído de fresco da Escola de saúde naval de Bordeaux, vai encontrar involuntariamente um "mestre de arte -e também “um mestre de pensar”- nesse revoltado que foi Gauguin.

É encarregado de verificar o legado de Gauguin, após a sua morte, e nada sabia dele...

Parti para o Tahiti mal conhecendo o seu nome...”, confessará mais tarde.

E o que lhe disseram, quando chegou, desembarcado do navio La Touraine, desta personagem “odiada pela colónia” francesa, deve-lhe ter esfriado o entusiasmo:


Gauguin? Um doido que pinta cavalos cor de rosa!”, disseram-lhe.
Gauguin pertence, com Manet e outros, à família dos pintores malditos”, diz lacònicamente André Breton no seu Journal des Iles, em 1903.

Quando Segalen desembarca em Papeete, Gauguin morrera três meses antes, em Hiva-Oa, depois de ter estado na prisão três meses por causa duma discussão com um gendarme francês. Morre com uma overdose de morfina, num estado de grande debilidade, com sífilis.
Participa no leilão das obras do pintor -onde todos os haveres daquele "louco que pintava os cavalos de cor de rosa" são vendidos a preços irrisórios- e compra alguns quadros (entre eles, "Paisagem de neve em Pont-Aven " (1883), algumas tábuas pintadas que faziam parte da "casa" de Gauguin, e a paleta do pintor ainda suja de tinta, que guardará como um talismã precioso.
Segalen recolhe em Nuku-Iva a pasta dos papéis de Gauguin e, deslumbrado com o que vê e lê, parte em peregrinação à procura dessa personagem.
Aproxima-se da figura do grande pintor depois de ver o “legado” estético por ele deixado e ficar seduzido com a grandeza do pintor e da sua alma completamente livre.

Aí, nessa obra, compreende o génio selvagem do revoltado, “verdadeiramente artista, exilado e solitário...”

No relatório que envia para França, arrisca-se a tomar posição quando evoca "os tristes restos de um povo com uma vida híbrida de selvagens em vias de perversão civilizada"...
É com Gauguin que aprendera já “o direito de tudo ousar”?
Gauguin fora um "monstro", reconhece Victor Segalen, sem outras palavras para o definir, porque ele não “entrava em nenhuma das categorias conhecidas que bastam para definir a maior parte dos indivíduos".
O artista colossal e frágil, solar e cheio de desespero, o artista diverso, e em tudo excessivo. É esse excesso que dará força à sua obra altiva, dolorosa.

Gauguin, ex-marinheiro, ex-agente de câmbios, ex-marido, ex-chefe de família, Gauguin que deixou tudo para trás e tudo queimou na sua vida. Mas se tudo queimava era porque ele também era fogo e ardia.
E é desse Gauguin "ardente" que Segalen vai à procura, ou parte à conquista, numa espécie de peregrinação às raízes, aprendendo com ele o significado de "tudo ousar", quer dizer tudo ter a coragem de dizer, pintar, interpretar, simbolizar, imaginar...


Escrevia Segalen ao pintor e amigo Georges Daniel de Monfreid: " Posso dizer que nada tinha percebido do país e dos seus Maoris, antes de ter visto e quase vivido os desenhos e croquis de Gauguin..."

É em Hiva-Oa que encontra o fiel amigo de Gauguin, que o acompanhara até à morte, o velho maori Tioka, e dele recebe as últimas recordações do pintor. Fala com Sara, uma das mulheres que vivera com ele e guarda as cartas que ele lhe escrevera.
Diz-se no Prefácio (de Marie Dollé e Christian Doumet) a Les Immémoriaux (Classiques de Poche):

"O que Segalen deve acima de tudo a Gauguin é "um certo olhar" sobre o universo polinésio. Tal como ele, o pintor era um estranho na Oceania; mas, sem renegar essa diferença essencial, nunca deixou de marcar a sua distância em relação aos outros Brancos vindos incarnar e assegurar, entre os autóctones, a soberania europeia!"
Como súmula dessa aprendizagem, desse conhecimento, dessa semelhança de "olhares" é a homenagem da qual vos aconselho a leitura (“Homenagem a Gauguin, o insurrecto das ilhas"). Assim como também a leitura dos outros livros dele que citei...

Deixo-vos alguns "links" úteis -que me ajudaram a saber um pouco mais sobre esta personagem invulgar...

René Leys (1922)
Polynesia (1903-1905)
China (1909-1914 and 1917).
Huelgoat, France - a floresta onde morre em circumstâncias misteriosas talvez com um exemplar do Hamlet ao lado...
Victor Segalen Bordeaux 2 University, de literatura e ciências sociais, em Bordeaux.


2 comentários:

  1. olá!!!!obrigada por passar no meu blog !!!Eu não conhecia Vitor Segalem , sempre é bom aprender coisas novas !!!


    bjussss

    ResponderEliminar