quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Corto Maltese, Hugo Pratt e as "baladas" do mar salgado e de Veneza!
































Conheço o Corto Maltese há tantos anos! Li as suas aventuras em Roma, “aconselhada” pelos meus filhos. Lembro-me que eram uns livrinhos pequenos, de capa mole, que um dos ainda conserva...





Desenhador, gráfico, escritor, Hugo Pratt (1927-1995) é conhecido em todo o mundo pela sua fantástica banda desenhada cujo herói é o marinheiro Corto Maltese: um aventureiro e um anarquista, como o seu criador, no fundo, seu alter ego. E um mito! De facto a vida de Hugo Pratt foi uma aventura pelos vários portos e peripécias da vida. Viajou pelos quatro cantos do planeta e transformou o seu diário de bordo na matéria daquilo que sempre chamou "literatura desenhada".

Nasce em Veneza onde passa a infância e passeia por todos os seus sestieri, pátios, praças, pontes, "porteghi" e “sottoporteghi”...
Como ele próprio diz, na “Introdução” à edição francesa (Fable de Venise, Casterman, 1981), de Una Favola di Venezia, a aventura começa cedo.

Nos passeios a pé, com a avó, ao longo dos canais até ao Ghetto, e com todas as histórias que, cedo, lhe começam a contar e ele ouve interessado.

Fala das origens judaicas da família por parte da mãe, os Genero, que eram “judeus sefarditas-marranos que vinham de Toledo onde se tinham convertido ao cristianismo, depois das sangrentas matanças de 1360 em Espanha”.


Fala do encanto dessa avó, viva e terna, que o leva a visitar uma velha amiga que vive no tal Ghetto (onde os judeus foram confinados durante séculos), a Senhora Bora Levi. Olhando da janela para o pátio, de lajes brancas com o seu poço de mármore, cheio de musgo à volta, repara que se chama Corte Sconta detta Arcana. Era uma espécie de pátio interior com muitas portas ou entradas debaixo das casas.

Mais tarde vai ser o título de um do seus livros - do qual, em 2002, foi tirado um filme, como veremos), uma espécie de pátio cheio de entradas "secretas".

Um dia a Senhora Bora Levi vai mostra-lhe "as sete portas secretas” para as quais, diz, são precisas sete chaves e leva de facto uma menorah com ela (candelabro hebraico de sete braços) .



E continua: “É ali que ouço pela primeira vez os nomes de Simão o Mágico, Origenes, Arius, Tertuliano, Hypasia e Agostinho. Foi neste mundo que enfeitiçante que me falaram da Clavícula de Salomão e da Esmeralda de Satan que, segundo a tradição, se teria soltado da cabeça do anjo do Mal para se tornar no símbolo da Ciência maldita entre os homens...”



Depois dessas tardes, a avó levava-o outra vez para casa, mas antes paravam sempre para ela jogar um número no loto, segundo a kabbala veneziana.
Evoca as tias, jovens irmãs da mãe: Ida, Duma e Eglantine Foà, cujos retratos desenha no livro.






Ou o esboço do rosto da maravilhosa Louise Brookszowyc, heroína da Favola di Venezia, personagem complexa, que vive numa casa velha, debruçada sobre os tectos de Veneza. Mais tarde, Pratt acompanha os pais à Etiópia (que era nessa altura colónia italiana)onde, cedo, se habitua aos costumes e aprende as línguas, entre as quais swahili e o abissínio. Durante a Revolução na Etiópia, em 1941, é preso e enviado para Itália.
A aventura continua. Durante a ocupação alemã foi capturado pelos SS e esteve em Veneza numa prisão. Consegue evadir-se, e junta-se aos aliados, entretendo-se a organizar espectáculos para os soldados.

Em 1967, conhece Florenzo Ivaldi, e ambos decidem lançar uma nova revista mensal, “Sgt. Kirk”, onde aparecem os primeiros esboços de Una Ballata del Mare Salato (A Balada do Mar Salgado), com um personagem, Corto Maltese, ainda num papel secundário.
Só a partir da segunda metade dos anos 70 -e anos 80-, é que Hugo Pratt desenvolve as aventuras de Corto Maltese.


Corto é um aventureiro e um anarquista, como o seu criador, no fundo. Personagem que "teria nascido" em 1887 -mas nada é certo nesta figura que sai de uma espécie de "maravilhoso" onde tudo é possível e onde as pessoas se cruzam nos tempos como tantas dimensões.
Hugo Pratt põe na boca de Corto afirmações revelam ter ele encontrado figuras históricas como os escritores Jack London, Frederich Rölfe (Baron Corvo), John Reed, ou, ainda, o próprio Staline! Corto Maltese vive em vários tempos, ou várias vidas e nada lhe é impossível.
Companheiros de aventuras são os outros personagens que não esquecemos e que passam muitas vezes de história para história: desde o Capitão "Rasputin", o russo, (que ora é amigo, ora inimigo feroz), o "Monge" que vive na Ilha de Escondida onde tem todos os poderes, e outros que aparecem e desaparecem, como o "piccolo piede d'argento", de Una Favola di Venezia, figurinha inesquecível (ver na página da B.D. ao alto, em cima, na Piazza San Marco com Corto).
E as fascinantes figuras femininas: a loira e sofisticada "Pandora", a "Bocca Dorata"- a mágica esotérica brasileira, mais a sua jovem discípula "Morgana",

ou a perversa "Veneciana" e, ainda, a aristocrática russa "Marina Seminova" que atravessa as estepes siberianas num comboio blindado, durante a Revolução Russa.





O mesmo comboio que Corto Maltese e Rasputine, são contratados para assaltar, por uma sociedade secreta chinesa, as "Lanternas Vermelhas", porque nele se estariam as jóias, o tesouro Imperial do Czar, no livro Corto Maltese na Sibéria.















Depois desta apresentação do herói e do seu autor, quero contar-vos uma história engraçada ligada à minha experiência de professora. Fazia parte do programa de Francês a leitura de uma obra em banda desenhada. Não resisti ao desejo de lhes mostrar Corto Maltese!
Escolhi Fable de Venise e foi garnde o entusiasmo. Leram, projectámos algumas imagens.

Mostrei-lhes também A Balada do Mar Salgado que, depois, emprestei a quem se mostrou interessado (numa tradução portuguesa, agora).
Penso que foi a particular beleza dos desenhos, a poesia das figuras, o encanto do mar e de Veneza que os entusiasmou...
Para mim era reviver um prazer...

O grande desenhador de B.D. "fumetti"(*), como dizem os italianos, morre em 1995, na Suíça.



Não assiste, pois, à adaptação para filme animado do livro La cour secrète des Arcanes, realização de Pascal Morelli (uma co-produção: França/Itália/Luxemburgo, 2002).

Algumas obras sobre Hugo Pratt (Do outro lado de Corto -Hugo Pratt- Conversa com Dominique Pettifaux, editions Casterman)

E chega de conversa, o principal são as belas imagens que aqui ficam desta figura mítica e do seu criador!

(*) sabem por que se chama "fumetti"? Porque a banda desenhada tem uma espécie de umas nuvenzinhas onde estão as "falas" das personagens que se assemelham a pequenos rolos de fumo, então de fumo passa ao diminutivo fumetti.É pois um texto dentro de uns "fumozinhos" que saem da boca das personagens...

10 comentários:

  1. Olá! Eu já tinha ouvido falar em Corto Maltese, mas nunca li. Parece um personagem fascinante =)

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  2. É mesmo!É urgente que o compres! E para o little F.ler, vai adorar!
    Esses dois livros de que falo são fantásticos de imaginação e abertura. O filme não vi (nunca é a mesma coisa, mas li que são fidelíssimos ao texto!
    Até já deve haver em DVD...
    Obg por teres "comentado"!

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  3. Olá, MJ Falcão! :)))

    Confesso que não sou grande leitora de BD. As imagens perturbam-me a possibilidade de imaginar através das palavras. Contudo, C. Maltese é uma das excepções. Por influência familiar, acabei por começar a lê-lo e rendi-me. Gosto muito! Uma personagem absolutamente fascinante e este post proporciona uma síntese interessante da obra e do autor.
    Parabéns!

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  4. MJ Falcão,
    Há um «certificado» para este blogue, no «Bicho-carpinteiro».:)))

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  5. hello!! graças a prof. tive a oportunidade de ler Corto.. kiss marty

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  6. Thanks, Marty! Para provares que foi verdade!

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  7. Gostava que pussesem, informação sobre as personagens principais do corto maltese.É mesmo muito URGENTE. Agradecia a vossa colaboração, obrigada com muitos cumprimentos dum grupode á.p. que está aflitissimo.

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  8. É para AMANHA, PORFAVOR, POR VOLTA Do meio-dia :) muito obrigada se conseguirem cumprir o PrAZO.:S, GRUPO De a.p. desesperados

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