quarta-feira, 28 de abril de 2010

Não disparem sobre ...o 25 de Abril! Viajando pelo país...


Não, não venho falar mal do país!

Nem do 25 de Abril -o que está a tornar-se um lugar comum...




O 25 de Abril não tem culpa da crise...



A crise veio da América, não é culpa do 25 de Abril!
O 25 de Abril também não tem culpa de certos mal-governos...

Antes do 25 de Abril, lembram-se como era?

Muitos já nasceram depois desse dia, e nunca souberam bem "como" era antes... Outros esqueceram, porque se desiludiram...

Outros não querem falar nisso, porque não lhes convém.

Pois era pior do que agora podem crer...

Alguns recordações, ao correr da pena:

O analfabetismo atingia números inomináveis, a escolarização era mínima, não havia electricidade nas aldeias perdidas pelas serras -e muitas vezes à beira de Lisboa!

A pobreza alastrava e os "remediados" eram muitos: chegavam à classe média, a pobre classe média sempre triturada...
Quem estudava, antes do 25 de Abril?

Quem atingia o final do nível secundário?
Ou mesmo o (antigo) 5º ano?

Quem fazia a Universidade?

E ainda outra pergunta:
Quem poderia dizer do Estado Novo - ou do Golpe de 28 de Maio...- o que hoje se diz, à boca aberta, do 25 de Abril e do Governo?
Quem podia estar no café a falar do que lhe apetecesse? A dizer mal de quem lhe apetece?

E é muito bom e saudável poder criticar, dizer o que se pensa... É um bem inimaginável!

Pois é, mas antes do 25 de Abril não se podia...


Critica-se o estado da Saúde, da Educação.

Com razão, porque o cidadão comum deve interessar-se pela "res pubblica", pela "polis", por isso pode e deve exigir mais. Melhor.

Mas antes nem se falava nisso. Ninguém podia contestar ou protestar.

A explosão escolar e muitos dos problemas de hoje advieram da "massificação" do ensino. Normal. Tinha de ser assim.

No entanto, hoje as oportunidades de seguir os estudos são iguais. O que já não é igual (ainda não...) -e é uma hipocrisia dizê-lo- é que as "possibilidades" dos alunos são as mesmas.

Não são.

O background deles é diferente; o "apoio" aos estudos dados pelos pais é diferente; a (bem) criticada ausência dos pais (coitados de alguns, agarrados aos trabalhos até às tantas...) é muitas vezes real mas causada por motivações diferentes; o acesso às "novas tecnologias" em casa não é igual para todos e muitas vezes o acesso (a única possibilidade) na escola pode condicionar a facilidade de fazer certos trabalhos ...em casa.

Na Saúde...

Quem tinha acesso à saúde grátis, com algum "aspecto" disso, antes?

Quantos morriam em casa, nos hospitais, nos hospícios sem ninguém sequer se dar conta?

E as mortes de parto e febres puerperais?

E as crianças, que alimentação tinham?
E, nas escolas, havia possibilidade de se lhes dar de comer?

Quantas vezes ouvi falar de crianças quase bébés ainda, alimentados com as velhas "sopas de cavalo cansado" que tanto serviam aos pais como a elas?

E o garrafão de 5 litros que fazia parte da "paga" do pai, para "matar o bicho" e esconder a fome?

E as mães que eu vi -muito perto de 1974, na Beira Alta- dar sardinhas assadas, desfiadas pelas próprias mãos a outras crianças, quase bébés?
Os filhos que vinham uns a seguir aos outros, e cuja única alternativa eram os abortos-caseiros que levavam a infecções mortais ?

Pois é...
Não disparem sobre o 25 de Abril...
Os cravos nunca murcham e, depois, há aí flores tão belas a nascer!
Nada se perdeu, se quisermos continuar a procurar...

E o país?...O país continua lindo.
Andei pela Guarda, deixo algumas fotografias. O campo estava lindo, as giestas amarelas, as urzes brancas, as florinhas lilazes por todo o lado...


Uma imagem do Porto, oferecida ao Hans Freitas, amador do Porto, para ele não ficar triste...

11 comentários:

  1. ¡Qué bello comentario! ¡Y cuánta razón tienes! A pesar de que hoy se pueden (y se deben) criticar muchas cosas, no hay comparación con la triste, dura y pobre época de la dictadura. Portugal ha de hacer aún grandes esfuerzos, pero ya es un país moderno y europeo, se ha ido transformando, igual que España desde que llegó la democracia.
    Un abrazo cordial.

    ResponderEliminar
  2. Obrigada pela compreensão.
    Não se deve -não se pode- esquecer "como" foi antes, mesmo que tantos tenham vontade que o façamos...
    Abraço também.

    ResponderEliminar
  3. Abril não se deve criticar,só para o fazer renascer,dar-nos a esperança dos caminhos novos.
    Belas fotos.A Guarda e o seu umbigo.A magestosa Sé.
    Sempre tão lúcida e compreensiva.
    Cordial abraço,
    mário

    ResponderEliminar
  4. Nâo vamos deixar que nos roubem Abril,porque somos mais e melhores.Beijinhos,María.

    ResponderEliminar
  5. Obrigada pelo pedaço de vós neste 25 de Abril! Gostámos muito:)
    Beijinhos, Catarina e Pedro ...no Belo Horizonte da Guarda

    ResponderEliminar
  6. Fico "emocionada" com as respostas... Como diz a Maria, vou pensar que, se calhar, até somos mais e melhores...
    Obrigada!
    Penso que o soldado da fotografia também agradece...

    ResponderEliminar
  7. Que texto e imagens lindas Maria João! Por vezes, é bom lembrar o outrora, porque as pessoas esquecem com facilidade e tendem a desvalorizar os sacrifícios dos outros! o 25 de abril trouxe mudanças na vida dos portugueses e não só... como angolana sinto orgulho de fazer parte ( de certa forma) deste acontecimento histórico. beijo da tua amiga Marty ;)

    ResponderEliminar
  8. Querida Marty! É bom sentir a tua "voz" junto de nós! É bom ouvir a tua identificação com esse sentimento.
    Unidos, sempre, não é?
    Um beijo e obrigada!
    da MªJoão

    ResponderEliminar
  9. Texto lindo!! Imagens belíssimas!! Daqui do Brasil, um forte abraço, de uma brasileira apaixonada pelas Terras Portuguesas, e que acredita que ainda há sementes espalhadas pelos campos e jardins de Portugal, desejando, profundamente, que a força de 25 de abril possa fazê-las germinar! 25 de abril, sempre!

    ResponderEliminar