terça-feira, 30 de novembro de 2010
Uma volta pelo "reino" maravilhoso, de que falava Torga...
Passeando, com uma velha e grande amiga, recordando momentos da nossa vida
mercado de Aveiro
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Raymond Chandler, o Xadrez e a inutilidade dos Peões.,..
Raymond Chadler, publicado num cofre de 5 livros, no Brasil, (ed. LPM, bolso)
Raymond Chandler com o seu fiel (?) gato preto
Chandler foi o primeiro a estabelecer um “código ético” na profissão do seu detective principal, Marlowe, o detective humano.
Acendi o candeeiro de pé, voltei junto da porta e apaguei a do tecto; atravessei outra vez o aposento e parei junto do tabuleiro de xadrez, colocado em cima da mesa de jogo.
Tinha um problema para resolver, mas, como acontecia com muitos outros problemas da minha vida, não sabia que solução dar-lhe. Desloquei um peão e, em seguida, tirei o chapéu e o sobretudo e atirei-os para uma cadeira.
Olhei de novo para o tabuleiro de xadrez. O movimento do peão fora asneira; por isso repu-lo na casa anterior. Os peões não valem nada, no xadrez; não é um jogo para peões.”
Recorro a uma tese de mestrado de que já aqui falei há tempos, de Magda Barbeito (1):
Marlowe sabe (ou intui) que esta guerra fria que se encontra a travar tem uma dimensão ainda mais perigosa que outras, não só porque não é declarada abertamente, mas sobretudo porque as duas forças opostas se igualam num empate. Pelo menos por enquanto.”
Se é certo que o xadrez constitui uma metáfora dos pensamentos de Marlowe, a sua referência no romance The Big Sleep tem, todavia, uma dimensão substancialmente diferente das já referidas precisamente por ocorrer num momento de grande tensão do detective e que corresponde a uma urgência ainda maior de agir de forma racional, calma e premeditada, o que vem ainda mais acentuar o seu pendor reflexivo. "
(2) Uma passagem do peema de Fernando Pessoa/Ricardo Reis:
(...)
E, enquanto lá fora,
The essay is considered a seminal piece of literary criticism. Although Chandler's primary topic is the art (and failings) of detective fiction, he touches on general literature and modern society as well.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Ouvir Jim Morrison e The Doors em "Whiskey Bar Alabama Song"
Nasceu em Melbourne, na Florida. Desde muito novo era um fanático de literatura poesia.
A ideia da morte preocupa-o e atrai-o desde muito cedo.
("Se as portas da percepção estiverem limpas/ Todas as coisas se apresentarão ao homem como são, infinitas").
Envolto num certo mistério, Jim Morrison ficou conhecido como o vocalista principal do grupo The Doors e uma das figuras mais carismáticas da música rock de sempre.
A sua voz de barítono era única neste género de música.
Ainda hoje, muitos fans, estudiosos do rock e jornalistas discutem sobre a sua “persona" teatral, o desejo de auto-destruição e o seu trabalho como poeta, a sua inclinação para as artes. Porque, além de músico, Morrison deixou também vários livros de poesia e realizou um documentário e uma curta metragem.
Para essa fama e áurea, contribuiu certamente a morte, muito jovem, aos 27 anos, no auge do sucesso. Morte obscura (1), na banheira de um quarto de hotel em Paris, possivelmente atribuível a drogas e álcool.
Um ano antes, fora condenado por provocação e conduta "libidinosa", durante um concerto em que, numa provocação violenta, insulta a platéia e tem "atitudes obscenas", segundo a acusação.
Recentemente foi perdoado... (2)
Em 1991, o realizador Oliver Stone dedica-lhe um filme, The Doors.
The Doors é um “biopic” (filme biográfico) de 1991, sobre a banda rock The Doors que insiste sobretudo na figura do vocalista , Jim Morrison.
Val Kilmer é Jim Morrison, Meg Ryan vai ser a companheira de Morrison, Pamela Courson.
O filme retrata Morrison como o icon mais famoso dos anos 1960 e do rock and roll, da “contracultura” ( termo que se refere aos valores e normas de comportamento de um grupo cultural, ou “subcultura”, que se desenvolve a par da corrente social vigente numa época e num país -e contra ela. É equivalente a “oposição política”. É um neologismo atribuído
Theodore Roszak).E ao estilo de vida que defende o uso livre de drogas livre e a liberdade da vida hippie.
Mas o retrato vai além do “icónico”: o alcoolismo, o interesse -no plano espiritual- pelas drogas alucinogéneas, o misticismo e, especialmente, a obsessão crescente da morte.
(Podem ver este vídeo sobre o grupo rock.)
"Jim Morrison morreu em 3 de Julho de 1971, na banheira, aos 27 anos de idade. Muitos fãs e biógrafos especularam sobre a causa da morte, se teria sido por overdose,pois embora Jim não fosse conhecido por consumir heroína, Pam -a sua companheira- fazia-o (morreu de overdose em 1973). Outra hipótese seria um assassinato planeado pelas próprias autoridades do governo americano.
(2) No jornal espanhol El país de 17 de Novembro de 2010, vem a notícia:
"Florida quiere perdonar 41 años después a Jim Morrison" é o título do artigo assinado por Manuel Cuéllar:
"El músico murió con dos causas penales abiertas por escándalo público y lenguaje obsceno
Todo ocurrió en la noche del primero de marzo de 1969.
Un discurso sobre los derroteros que tomaba el movimiento juvenil de finales de los sesenta, sobre una masa dirigida y dominada... La cosa degeneró hasta el insulto: "Sois todos una panda de gilipollas", gritó el músico y supuestamente se bajó la bragueta y le mostró de manera desafiante y desdeñosa su pene a la concurrencia.
El concierto terminó como el rosario de la aurora tanto que el suceso desembocó en la detención del cantante que fue acusado de conducta lasciva y libidinosa, un delito grave, en el Estado de Florida.
Morrison fue juzgado y hallado culpable en 1970. La fiscalía presentó como pruebas unas fotos de aquella velada en las que se muestra al líder de The Doors pasado de rosca y tocándose su zona genital o a cuatro patas mirando fijamente y muy de cerca las cuerdas de la guitarra de su compañero Robby Krieger.
La sentencia: multa de 500 dólares y seis meses de trabajos forzados. Una condena que nunca cumplió ya que sus abogados apelaron y la nueva vista no pudo celebrarse puesto que el músico ya había sido encontrado muerto en la bañera de su piso en París en 1971 a la edad de 27 años.
El martes el gobernador de Florida, Charlie Crist, dijo que presentará oficialmente el nombre de Morrison a la junta de indultos de su estado como candidato para ser perdonado por las dos condenas de la estrella de rock.
Crist dijo en una entrevista telefónica concedida a The New York Times :
"He decidido hacerlo simplemente porque creo que es lo que hay que hacer. En cierto modo parece una conclusión trágica que el legado en la vida de un joven sean esas condenas. Y ni siquiera estamos seguros de lo que realmente ocurrió. Cuanto más he leído sobre el caso y más me ha informado sobre ello, más convencido estoy de que tal vez se haya cometido aquí una injusticia".
Talvez tenha também tido importância na decisão do governador o facto de sair brevemente nos ecrãs um filme/documentário de Tom Dicillo: When you are strange , sobre The Doors e Jim Morrison no qual se conta de maneira muito fiel o que ocorreu na Florida na noite daquele concerto.
Algumas imagens deste documentário de Tom Dicillo, neste link:
http://whenyourestrangemovie.com/
Obras poéticas de Jim Morrison:
*The Lords and the New Creatures (1969)
*An American Prayer (1970) impresso particularmente por Western Lithographers. (existe uma edição não autorizada publicada em 1983, por Zeppelin Publishing Company.)
Outras publicações:
Wilderness: The Lost Writings Of Jim Morrison (1988)
The American Night: The Writings of Jim Morrison (1990)
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
A Poesia na "presença": Edmundo de Bettencourt e Carlos Queiroz
quadro do pintor Souza-Cardoso, que colaborou na "presença"
Marc Chagall, o poeta
o poeta Edmundo de Bettencourt
capa de "presença", desenhada por José Régio (intitula-se "a que ficou sem par")
Edmundo de Bettencourt
Chagall, o poeta e a sua musa...
1.
Sou rouxinol que se arrasta,
Ferido, junto das casas...
Passo as noites a cantar
A morte das minhas azas!
Quanto o meu canto mais sobe,
As almas cantam comigo;
Quem não canta o que lhe morre!?
- cantar é um alto castigo!
(Ó vozes lindas –desenhos
do que, sem arte, os atributos
sulcaram, fundo, nas coisas
que são: Divinos e Brutos!)
Em troca de luz, o Sol
Bebe-nos gotas de chôro...
2.
Quem não quer morrer não sabe
Que a Morte é mais preferida:
- vive-se à custa da Morte...
- morre-se à custa da Vida...
outra pintura de Júlio, o poeta Saúl Dias
o poeta Carlos Queiroz
Carlos Queiroz
O cego deu à manivela
Da velha e triste pianola
Que era a alegria da vila:
Mas já ninguém vem à janela...
- Pois vindo davam-lhe esmola
E ocultos podem ouvi-la.
in "presença" nº 10, de 15 de Março de 1928
(uma pianola, ou "orgue de barbarie", ou "limonaire" era um pouco assim: em Paris ouviam-se, os poetas falam deles, os cantores também...)
e isto seria um rolo da pianola...Outro poema de Carlos Queiroz, "Desaparecido"
Sempre que leio nos jornais:
«De casa de seus pais desapar’ceu...»
Embora sejam outros os sinais,
Suponho sempre que sou eu.
Eu, verdadeiramente jovem,
Que por caminhos meus e naturais,
Do meu veleiro, que ora os outros movem,
Pudesse ser o próprio arrais.
Eu, que tentasse errado norte;
Vencido, embora, por contrário vento,
Mas desprezasse, consciente e forte,
O porto do arrependimento.
Eu, que pudesse, enfim, ser eu!
- Livre o instinto, em vez de coagido.
«De casa de seus pais desapar’ceu...»
Eu, o feliz desaparecido!
E assim Coimbra e os seus mistérios, sem boémias excessivas, fizeram que Bettencourt se tornasse no poeta que em 1930, em edição da Presença, publicaria o seu primeiro livro O Momento e a Legenda.”
obras de Edmundo de Bettencourt:
POEMAS DE EDMUNDO DE BETTENCOURT
Introdução de Herberto Helder
Assírio & Alvim
Lisboa, 1999.
Edmundo de Bettencourt e o Fado de Coimbra:
ouvir um fado com letra do poeta:
http://www.youtube.com/watch?v=b6jC_seTaeA
Edmundo de Bettencourt foi também uma figura famosa do fado/canção de Coimbra: dizem que tinha uma muito especial e que va interpretar novos temas neste fado.
Não encontrei nenhum "video" com a voz dele mas deixo-vos a letra de um dos poemas: "Coimbra menina e moça":
"Coimbra menina e moça/ Rouxinol de Bernardim/ Não há terra como a nossa/ Não há no mundo outra assim/Coimbra é de Portugal/ Como a flor é do jardim/ Como a estrela é do céu/ Como a saudade é de mim. "
ou temas de outras zonas do país, por exemplo do Alentejo:
"Lá vai Serpa, lá vai Moura/ Ai, as Pias, ficam no meio/ Quem vier à minha terra/ Ai, não tem que ter receio/ Teus olhos linda morena/ Ai, deixam-me a alma sombria/ Quero-te mais ó morena/ Ai, do que a luz de cada dia".
2.
Carlos Queiroz (ou Queirós)
Frequentou o curso de Direito da Universidade de Coimbra, onde conviveu com um grupo de escritores presencistas.
Organizou, em 1942, com António Pedro e Jorge de Sena, uma "Homenagem a Arthur Rimbaud". Para além de amigo e o responsável pelo conhecimento travado entre Fernando Pessoa e Ofélia Queirós, sua tia, que resultou numa relação amorosa, foi também um acérrimo exaltador da memória daquele poeta (cf. "Carta à memória de Fernando Pessoa" e "Homenagem a Fernando Pessoa", ambas publicadas na Presença, em 1936).
Considerado um discípulo directo de Fernando Pessoa, a sua poesia caracteriza-se pela perfeição formal, pelo equilíbrio e sobriedade e pela sugestão musical. Denuncia alguma herança romântica e certa aproximação ao simbolismo.
Os seus temas principais são os da nostalgia da infância, do amor e do ofício de poeta, temas tradicionais envoltos num certo humor irónico, num estilo depurado que conjuga classicismo, romantismo e modernidade.
Escreveu Desaparecido (1935, Prémio Antero de Quental) e Breve Tratado de Não-Versificação (1948). Deixou, também, inéditos, incluídos no volume póstumo Poesia de Carlos Queirós (1966). É, ainda, autor dos ensaios "Homenagem a Fernando Pessoa" (1936) e de uma "Carta à Memória de Fernando Pessoa", publicada na Presença, nº 40, Julho de 1936.
Bibliografia:
Desaparecido, (Poemas) 1935;
Breve Tratado de Não-Versificação, Lisboa, 1948;
Edmundo de Bettencourt: " Coimbra menina e moça", canta A Capella
domingo, 21 de novembro de 2010
Monet, em Paris, atrai multidões!
Palais Royal, inauguração da Exposição sobre Monet
ponte japonesa sobre o lago na sua propriedade
O que quer dizer que do dia 21 de Janeiro às 9 horas da manhã até ao dia 24 de Janeiro àsd 9 horas da noite estará aberta a todos...
Boas notícias para quem lá estiver...
Outra parte da notícia interessou-me ainda mais. Esta experiência segue de perto o que foi feito para a Exposição “Picasso et les maîtres” (2008).
Diz o organizador -e presidente da RMN (Réunion des Musées Nationaux)- Thomas Grenon:
“Picasso mostrou que a noite atrai um público especial, que vai pouco ao museu,que é mais jovem, mais activo também. Esse público recolhia-se em silêncio diante dos quadros.”
Gostei porque isto é a prova de que a juventude é tão sensível como sempre foi (ou não foi), não “piorou”, como para aí dizem.