quadro do pintor Souza-Cardoso, que colaborou na "presença"
Marc Chagall, o poeta
o poeta Edmundo de Bettencourt
capa de "presença", desenhada por José Régio (intitula-se "a que ficou sem par")
Edmundo de Bettencourt
Chagall, o poeta e a sua musa...
1.
Sou rouxinol que se arrasta,
Ferido, junto das casas...
Passo as noites a cantar
A morte das minhas azas!
Quanto o meu canto mais sobe,
As almas cantam comigo;
Quem não canta o que lhe morre!?
- cantar é um alto castigo!
(Ó vozes lindas –desenhos
do que, sem arte, os atributos
sulcaram, fundo, nas coisas
que são: Divinos e Brutos!)
Em troca de luz, o Sol
Bebe-nos gotas de chôro...
2.
Quem não quer morrer não sabe
Que a Morte é mais preferida:
- vive-se à custa da Morte...
- morre-se à custa da Vida...
outra pintura de Júlio, o poeta Saúl Dias
o poeta Carlos Queiroz
Carlos Queiroz
O cego deu à manivela
Da velha e triste pianola
Que era a alegria da vila:
Mas já ninguém vem à janela...
- Pois vindo davam-lhe esmola
E ocultos podem ouvi-la.
in "presença" nº 10, de 15 de Março de 1928
(uma pianola, ou "orgue de barbarie", ou "limonaire" era um pouco assim: em Paris ouviam-se, os poetas falam deles, os cantores também...)
e isto seria um rolo da pianola...Outro poema de Carlos Queiroz, "Desaparecido"
Sempre que leio nos jornais:
«De casa de seus pais desapar’ceu...»
Embora sejam outros os sinais,
Suponho sempre que sou eu.
Eu, verdadeiramente jovem,
Que por caminhos meus e naturais,
Do meu veleiro, que ora os outros movem,
Pudesse ser o próprio arrais.
Eu, que tentasse errado norte;
Vencido, embora, por contrário vento,
Mas desprezasse, consciente e forte,
O porto do arrependimento.
Eu, que pudesse, enfim, ser eu!
- Livre o instinto, em vez de coagido.
«De casa de seus pais desapar’ceu...»
Eu, o feliz desaparecido!
E assim Coimbra e os seus mistérios, sem boémias excessivas, fizeram que Bettencourt se tornasse no poeta que em 1930, em edição da Presença, publicaria o seu primeiro livro O Momento e a Legenda.”
obras de Edmundo de Bettencourt:
POEMAS DE EDMUNDO DE BETTENCOURT
Introdução de Herberto Helder
Assírio & Alvim
Lisboa, 1999.
Edmundo de Bettencourt e o Fado de Coimbra:
ouvir um fado com letra do poeta:
http://www.youtube.com/watch?v=b6jC_seTaeA
Edmundo de Bettencourt foi também uma figura famosa do fado/canção de Coimbra: dizem que tinha uma muito especial e que va interpretar novos temas neste fado.
Não encontrei nenhum "video" com a voz dele mas deixo-vos a letra de um dos poemas: "Coimbra menina e moça":
"Coimbra menina e moça/ Rouxinol de Bernardim/ Não há terra como a nossa/ Não há no mundo outra assim/Coimbra é de Portugal/ Como a flor é do jardim/ Como a estrela é do céu/ Como a saudade é de mim. "
ou temas de outras zonas do país, por exemplo do Alentejo:
"Lá vai Serpa, lá vai Moura/ Ai, as Pias, ficam no meio/ Quem vier à minha terra/ Ai, não tem que ter receio/ Teus olhos linda morena/ Ai, deixam-me a alma sombria/ Quero-te mais ó morena/ Ai, do que a luz de cada dia".
2.
Carlos Queiroz (ou Queirós)
Frequentou o curso de Direito da Universidade de Coimbra, onde conviveu com um grupo de escritores presencistas.
Organizou, em 1942, com António Pedro e Jorge de Sena, uma "Homenagem a Arthur Rimbaud". Para além de amigo e o responsável pelo conhecimento travado entre Fernando Pessoa e Ofélia Queirós, sua tia, que resultou numa relação amorosa, foi também um acérrimo exaltador da memória daquele poeta (cf. "Carta à memória de Fernando Pessoa" e "Homenagem a Fernando Pessoa", ambas publicadas na Presença, em 1936).
Considerado um discípulo directo de Fernando Pessoa, a sua poesia caracteriza-se pela perfeição formal, pelo equilíbrio e sobriedade e pela sugestão musical. Denuncia alguma herança romântica e certa aproximação ao simbolismo.
Os seus temas principais são os da nostalgia da infância, do amor e do ofício de poeta, temas tradicionais envoltos num certo humor irónico, num estilo depurado que conjuga classicismo, romantismo e modernidade.
Escreveu Desaparecido (1935, Prémio Antero de Quental) e Breve Tratado de Não-Versificação (1948). Deixou, também, inéditos, incluídos no volume póstumo Poesia de Carlos Queirós (1966). É, ainda, autor dos ensaios "Homenagem a Fernando Pessoa" (1936) e de uma "Carta à Memória de Fernando Pessoa", publicada na Presença, nº 40, Julho de 1936.
Bibliografia:
Desaparecido, (Poemas) 1935;
Breve Tratado de Não-Versificação, Lisboa, 1948;
Estás imparável,todo um manancial de entusiasmo.Consegui ouvir algo de Bettencourt, com péssima qualidade, mas suficiente para recordar os meus tempos de Coimbra,"e dos amores que lá tive":http://www.youtube.com/watch?v=B89PNOPc-78
ResponderEliminarNa sexta feira lá vou,Beijinhos
Eu parto tb para a Guarda, na 6ª feira, por alguns dias.
ResponderEliminarPus atrás outra "tentativa" para Edmundo de Bettencourt, mas ele não se encontra mesmo em lado nenhum. Beijinhos e boa viagem!
Minha cara amiga,um manancial de recordações.
ResponderEliminarSempre um encanto.
Desejo uma óptima estadia pela Guarda e,concerteza,um excelente espectáculo no TMG.
Cordial abraço,
mário
Olá, amigo Trepadeira!
ResponderEliminarObrigada.
M.J
Não conhecia nenhum dos dois e gostei do que li aqui.
ResponderEliminarBoa Viagem para a Guarda.
um beijinho
Gábi
MJ Falcão,
ResponderEliminarTrouxe aqui muita beleza não só vindas da poesia mas também da arte.
Chagall é um dos pintores que aprecio pelo simbolismo.
Coimbra recordada também me tocou.
Julgo que lhe devo um agradecimento especial por me ter visitado e por me fazer conhecer espaços interessantes como este seu e mais outro.
É uma mais-valia esta troca de ideias.
Deixo-lhe um beijo de reconhecimento.