terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A Itália verdadeira: o cantor italiano Fabrizio de André (1941-1999) e a belíssima "Canzone di Marinella" -

A VERDADE
uma das Cinque Terre, Menarolo, na Ligúria

A VERDADEIRA ITÁLIA Descobri -como é lógico pois que vivi lá 15 anos- em Itália, o cantautore Fabrizio De André (Génova, 18 de Fevereiro de 1940 – Milão, 11 de Janeiro de 1999).

Já não sei qual dos amigos me falou nele. Baladas românticas, uma voz bonita, sei que gostei logo, e comprámos um long-play.
Confesso que nem dei pela morte dele. Estava nessa altura em Tel Aviv e vivia outras realidades.

De Roma tinha ficado a funda recordação e trouxe de lá o meu cão Zac, encontrado pelo meu filho, no bairro da Giustiniana...

Ouvia outros cantores. Tinha descoberto a voz suave de Arik Einstein e a sua canção dedicada a Rabin, ou Aviv Gefen, ou Ehud Banai...

No fim e ao cabo, precisamos de nos "adaptar", agarrando-nos a qualquer coisa... e a música, a cultura e as pessoas que encontramos e nos deslumbram da mesma maneira fazem parte dessa adaptação.

Talvez um pouco inconscientemente -e por defesa- vamos deixando alguma coisa para trás...

Fabrizio de André ficou-me na memória e tenho uma "compilação" que o meu filho me gravou em CD, onde ouvia a Canção de Marinela muitas vezes.
Com outros maravilhosos cantautori como Pino Daniele e o seu Sciò, ou Lucio Battisti, Lucio Dalla, Celentano etc.

E, como nos julgamos eternos, pensamos também que as coisas de que gostámos ou as pessoas que amámos são eternas. Não são...
Há dias descobri no Facebook do Sergio Ninotti - filho de um grande amigo italiano -que morreu jovem, também ele- o nome de Fabrizio De André numa "rubrica" chamada, creio, "os amigos de Fabrizio De André".

Hoje, depois de outra notícia que me entristeceu, de repente deparou-se-me na internet (quando fui buscar uma canção dele para "lembrar a Itália diferente", a verdadeira, a que não tem que ver com berlusconis, nem berlusconismos de nenhuma espécie), uma homenagem que lhe vai ser dedicada, em Roma, em 22 de Fevereiro.

Pensei: "queres ver que..."
E, de facto, procurando, fui descobrir que ele tinha morrido em 1999, relativamente jovem, pois.

monumento dedicado a Fabrizio De André, em Menarolo, perto de Génova

Não há idades para morrer, é bem certo, e 59 é uma jovem idade.

Conto-vos um pouco da sua vida...

Fabrizio de André foi um cantor e compositor (cantautore, dizem os italianos) italiano entre os mais conhecidos e importantes da história da música.

Cantou as histórias de marginais, rebeldes e deserdados, belas perdidas, vidas queimadas, porque ele próprio, a dada altura da vida, escolheu essa estrada e andou "por caminhos ínvios e sem gente", como bem diz Régio num seu poema.

Leio na wikipedia: " Muitas de suas letras são inclusive estudadas como expressão importante da poesia do século XX na Itália."

Continua a notícia:
"Nascido em Génova, no bairro de Pegli, numa família da alta burguesia industrial genovesa. O pai, Giuseppe, expoente do Partido Republicano Italiano, foi vice-prefeito (vice- governador civil) de Génova.

Fabrizio cresceu inicialmente no campo, na região do Piemonte, uma vez que, em 1941 a família, teve que se mudar para Asti por causa do agravamento da situação italiana durante a II Guerra.

Posteriormente, no período pós-guerra, a família retorna a Génova, cidade imbuída de costumes religiosos e políticos conservadores.

Fabrizio cedo se sente atraído pela música. Os pais põem-no em lições particulares de violino, instrumento pelo qual Fabrizio não possuía, afinal de contas, o mais pequeno interesse. "

Fugindo daquele meio conservador, procura outras coisas, outras gentes. É natural que tenha surgido nele uma forma de revolta natural, de anarquismo.

Daí, a escolha dos tais "caminhos ínvios"...
E a admiração por Brassens, o grande "marginal" mais os seus gatos, o cachimbo e os amigos. (A canção "L'Auvergnat" é uma das mais belas canções sobre a generosidade e a amizade que conheço).

De facto, diz que o encontro mais importante com a música foi a descoberta do grande cantor Georges Brassens que considerará toda a vida como o seu primeiro mestre.

Georges Brassens que -se fosse vivo...- faria este ano 90 anos! E parece ontem que ouvíamos as canções dele. Imortais!

(Georges Brassens nasceu em 22 de Outubro de 1921 em Sète, França e morreu em 29 de Outubro de 1981, em Saint-Gély-du-Fesc, França)

"De Brassens Fabrizio traduziria muitas canções, entre elas "Il gorilla" e "Nell'acqua di chiara fontana", imitando também o estilo e a impostação vocal. No entanto, nunca quis conhecê-lo pessoalmente, com medo de ter uma desilusão."

Frequentou cursos de Letras e Medicina na universidade de Génova, antes de escolher a faculdade de Direito, inspirado pelo pai e pelo irmão Mauro, ambos brilhantes advogados.

uma "friggitoria" (palavra intraduzíevel) onde costumava ir, em Génova

Faltando-lhe apenas seis disciplinas para concluir o curso, decidiu seguir outro caminho: a música. O irmão viria a ser um dos seus fans mais fiéis e críticos.

A paixão pela música cresceu também graças à assídua frequência dos amigos Luigi Tenco, Umberto Bindi, Gino Paoli e Paolo Villaggio (com o qual viria a escrever duas canções)."

Penso que o mais importante será ouvirem um pouco mais das suas canções...
E a tradução de um bocadinho da "Canzone di Marinella"

"Esta de Marinella é a história verdadeira

que escorregou no rio na primavera,

mas o vento que a viu assim bela

do rio a levou sobre uma estrela."


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