quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A Martinica e a literatura francófona (e de todo o mundo) perde um dos seus grandes poetas!


Morreu o escritor de língua francesa, nascido na Martinica, Edouard Glissant


o pintor italiano Giovanni Boldini, e "paisagem" (in blog "Art Inconnu"
EDOUARD GLISSANT e AIMÉ CÉSAIRE, dois grandes escritores da francofonia...
em cima, Édouard Glissant, em baixo Aimé Césaire

No livro “Nègre je suis, nègre je resterai” - longa entrevista de Françoise Vergès a Aimé Césaire (*), publicada nas edições Albin Michel, Paris, 2005, pág. 70-, o poeta Aimé Césaire defende que o “diálogo entre as civilizações” é possível através da política e da cultura.
Françoise Vergès, escritora nascida na Reunião
Hoje que tanto ( e tão mal!) se fala de "guerra de civilizações", achei interessante trazer-vos as palavras que ele dizia:
“É preciso que se aprenda que cada povo tem uma civilização, uma cultura, uma história. É preciso lutar contra um direito que instaura a selvajaria, a guerra, a opressão do mais frágil pelo mais forte. O que é fundamental é o humanismo, o homem, o respeito devido ao homem, o respeito da dignidade humana, o direito ao desenvolvimento do homem. As fórmulas podem diferir, bem entendido, com o tempo, com os séculos, com as compartimentações geográficas, mas o essencial está aí.”

Hoje, dia 3 de Fevereiro, morreu Edouard Glissant, escritor das Antilhas francesas, cantor da diversidade e da miscigenação. Aimé Césaire morreu em 2008.
Edouard Glissant
Nasceu em Sainte-Marie na Martinica em 21 de Setembro de 1928.
Poeta pouco conhecido em Portugal, a sua obra era no entanto muito apreciada em França.

Estudou Etnologia e Filosofia, em Paris.

Romancista, ensaísta, dramaturgo, pensador da realidade “crioula”, em 1958 é atribuído o Prémio Renaudot ao seu romance La Lézarde, o que o torna imediatamente conhecido pelo grande público.

Influenciado pela filosofia de
Gilles Deleuze e Félix Guattari, faz um uso político da história e da geografia das Caraïbes, manifestando a sua revolta contra os racismos de todas as espécies, recordando a mácula indelével do esclavagismo nas lrelações entre a França e a Áfrique e todo o "ultramar".

Defensor da mestiçagem e da mistura (...) recusou fechar-se ele mesmo num género único, circulando em permanência entre o romance, a poesia e o ensaio, inclusivamente misturando-os na mesma obra.
“(...) Edouard Glissant mantinha relações ao mesmo tempo conflituosas e respeitosas com Aimé Césaire, a outra grande personalidade do mundo das Antilhas.

Títulos de alguns romances: Quatrième siècle (Seuil, 1965) Ormerod (Gallimard, 2003), todos orientados para um mundo imaginário e mítico, longe de qualquer tipo de naturalismo, mas igualmente do pitoresco próprio de certos romancistas das Antilhas.
Depois de ter criado, na Martinica, um Centro de pesquisa e ensino, e uma revista chamada Acoma, Edouard Glissant tinha fundado, em Paris, um “Institut du Tout-monde”, destinado a pôr em prática os seus princípios humanistas e permitir a difusão da "extraordinária diversidade dos imaginários dos povos".

In "Le Monde", edição online, de 3 de Fevereiro

Edouard Glissant e Aimé Césaire são duas figuras que se aproximam pelo percurso e pela grandeza.
Não resisto a juntá-los hoje aqui.
Aimé Césaire nasce em Basse- Pointe, na Martinica, em 26 de Junho de 1913, e é um dos maiores poetas de língua francesa do nosso tempo.

Morre em Fort-de-France, na sua ilha, em 17 de Abril de 2008.

Foi um poeta, dramaturgo, ensaísta e político da negritude (*).
Aimé Césaire, na sua Ilha

Além de ser um dos mais importantes poetas surrealistas no mundo inteiro, inclusive no dizer do líder deste movimento, André Breton, Aimé Césaire foi, juntamente ao Presidente do Senegal, Léopold Sédar Senghor, o ideólogo do conceito de negritude, sendo a sua obra marcada pela defesa de suas raízes africanas.
Hoje, com Edouard Glissant desaparece mais uma dessas figuras.

Hoje, a literatura de língua francesa, como a de todo o mundo, sofre uma grande perda.
(*) Negritude (Négritude em francês) foi o nome dado a uma corrente literária que agregou escritores negros francófonos e também uma ideologia de valorização da cultura negra em países africanos ou com populações afro-descendentes expressivas que foram vítimas da opressão colonialista.

Graffiti, homenagem a Aimé Césaire

(1) "(...) Minha negritude não é uma pedra
E a sua surdez arremessada contra o clamor do dia
Minha negritude não é uma gota d'água morta
Sobre o óleo morto da terra
Minha negritude também não é uma torre ou uma catedral
Ela mergulha na carne vermelha do solo
Ela mergulha na carne ardente do céu
Minha negritude perfura a aflição de seu correcto sossego."
(Aimé Césaire, Caderno de um regresso ao país natal, 1988)
Alguns links

“Penser la pensée revient le plus souvent à se retirer dans un lieu sans dimension où l’idée seule de la pensée s’obstine. Mais la pensée s’espace réellement au monde. Elle informe l’imaginaire des peuples, leurs poétiques diversifiées qu’à son tour elle transforme, c’est-à-dire, dans lesquels se réalise son risque.”
(Edouard Glissant)

3 comentários:

  1. Todo aquele que luta pela união, não de povos mais de pessoas é lembrado algum dia.
    Não se cala nunca essa voz! Qual o preço dessa literatura toda?
    Não há dinheiro que pague ... Seus frutos, como muitos, são valiosos.

    Obrigada por se importar.

    5 beijos

    Cozinha dos Vurdóns

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  2. Acredito nisso! Acredito na união dos povos apesar das diferenças de tradições e culturas... Todos humanos somos! Por isso me importarei sempre!
    Obrigada pelo vosso apoio.
    Beijinhos às 5 amigas

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  3. Gostei muito deste post. O humanismo e a cultura podem vencer e unir os homens mas só se o poder económico deixar de imperar.
    Obrigada por este post.
    Beijinho! :)

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