segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Há tanto tempo... Hoje.

Só por um bocadinho, volto hoje para dizer quanto me doeu a morte de Annie Girardot!

in Le Monde leio:

"A actriz Annie Girardot, doente há alguns anos com a doença de Alzheimer, morreu hoje segunda feira, dia 28, com 79 anos.

Apagou-se "suavemente" no Hospital de Lariboisière, em Paris.

Claude Lelouch que várias vezes a dirigiu, disse: "era talvez a maior actriz do cinema francês do pós-guerra".

E acrescentou: "Será, sem dúvida, a minha mais bela recordação como realizador e como homem!"

Nota bibliográfica

Nascida em Paris em 1931, Annie Girardot estudou para ser enfermeira, antes de se tornar uma das actrizes mais importantes do cinema francês. Entrou em mais de 120 filmes.
De não esquecer o seu papel no filme de Luchino Visconti (hoje um "clássico" do cinema neo-realista) "Rocco e i suoi fratelli (1960) em que faz o papel de uma prostituta, Nadia.

Por vários anos ausente do écran, regressa, em 1996, já doente, no filme "Os Miseráveis", dirigido por Claude Lelouch que lhe valeu um César de "melhor actriz secundária", prémio que volta a receber, em 2002, pelo papel da mãe impiedosa, "tirânica" de Isabelle Huppert, no filme "A Pianista", de Michael Haneke.

Quero recordar, apenas, um filme que adorei, com outro actor (já desaparecido, também) que se não esquece: Philipe Noiret!

O filme chamava-se “Tendre Poulet”.

Ora, “poulet” é, na gíria do francês, o nome que se dava aos polícias (frango).

Ela, Annie Girardot, era o “poulet”, comissária da P.J. francesa.

Maravilhosa, terna, inesquecível.

Philippe Noiret sempre ele próprio: ingénuo, mentiroso, falso-ingénuo, perfeito, enternecedor.

E lembro os papéis maravilhosos deste grande actor: desde "Torchon" (dramático filme que se passa algures em África) ao Pablo Neruda do "Carteiro de Pablo Neruda" (e que dizer de Massimo Troïsi?)

Vai-se encurtando pouco a pouco o nosso “imaginário”.

Ou talvez não.

Porque basta fechar os olhos para os voltarmos a ver...

Deixo-vos este vídeo tremendo, que me fez chorar: a imagem de uma mulher que chora.

Porque foi reconhecido o seu trabalho. Tarde. E chora, agradecida e magoada...

Porque, velha e doente, a sentir-se esquecida, magoada decerto, finalmente o Cinema francês "reconhecera" a sua contribuição e "dá-lhe" um César...
Na plateia, outros actores choram com ela.

Vejo o rosto de Juliette Binoche cheio de lágrimas.
O sorriso enternecido de Claude Rich...
Ou seria Isabelle Huppert quem chorava?: trabalhara com ela no filme "La pianiste" (2002).

Um César tardio para a actriz verdadeira que ela fora: sempre "viva", metida completamente dentro da personagem que representava e sempre "ela" ao mesmo tempo. E que, acabada a "representação", "despia" as vestes dessa mesma personagem, para ir à sua vida, ou para representar uma nova personagem...

(Por que será que sempre que penso nela me vêm à memória palavras ligadas à ternura?)


http://www.youtube.com/watch?v=BrJcpMLeTiY

3 comentários:

  1. MJ,

    Escrevi uma vez: "Alzheimer: A doença que dói... no outro!"
    Sofre não o doente mas os que orbitam em torno do dele.

    Um beijo!
    Carlos Kurare

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  2. O imaginário tal como o sonho não se pode encurtar... a memória persiste!
    Beijinho.

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  3. Querida,

    Existe uma lenda entre as Kalderas da família:

    Se uma Sibila chora,
    chora o vento,
    não da perda,
    mais pela saudade.
    E o que é saudade?
    Saudade é o amor que fica.

    !Sibila, a mulher que expontaneamente se sobresai ante sua gente. Você é uma sibila portuguesa!

    AMSK

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