Ontem disse ao ratinho que íamos viajar uns dias. Ficou excitadíssimo, nunca saiu aqui de casa...
- Viajar? Onde?
Não lhe disse tudo, disse que íamos estar "em parte incerta", fui um pouco misteriosa...
Ele olhou-me, preocupado. Tive que o descansar e dizer:
- Voltamos depressa!
E disse que, quando voltássemos, a casa estava linda à nossa espera!
Ele riu-se e andou ali pelo quarto a dar umas voltas e a mexer em tudo como ele gosta.
De repente vi todos os saquinhos que a Gui me traz da Índia todos espalhados por aqui, por ali. Bocadinhos de seda, saquinhos de algodão, com desenhos dourados, parecia a caverna de Ali Bábá...
O ratinho ora estava em cima de um ora de outro.
- Ratinho Poeta, o que estás a fazer? Desarrumas tudo!
A verdade é que já está tudo desarrumado há muito tempo...
- Estou a escolher um saco-cama ...uma caminha para levar. Posso?
-Claro que podes.
Nem tinha pensado nisso. Este ratinho é mesmo esperto!
Depois, já andava pela varanda a perguntar:
-É assim, como na selva, o sítio para onde vamos?E espreitava, empoleirado no vaso da palmeira, no meio dos troncos. Parecia que estava nuna floresta tropical! Este ratinho...
Ri-me.
- Não. Não é bem assim...
- E posso levar a gatinha japonesa?
É uma amiga que agora tem. Além da raposinha da Sibéria, agora tem esta amiga.
- Não ratinho. Vais só tu...
Penso que ficou contente. Deve ter achado que eu gostava mais dele do que delas... Perguntou-me:
- Já escolheste o livro policial, para levares?
Tive que me rir. Este ratinho é o máximo!
- Sim, ratinho, está aqui!
- Ah! O Hammett...
Ouvi-o cantarolar:
"Vou-me embora para Pasárgada, lá sou amigo do Rei..."
Onde é que o ratinho teria ido aprender aquele poema? Será que sabe o resto da poesia do Manuel Bandeira?
"Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura...
Andarei de bicicleta
Montarei em burro bravo
Subirei em pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água.
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada..."
Com o ratinho tudo é possível e já não me surpreendo.
- Já escolheste a caminha?
Olhou em redor.
- Esta dos quadradinhos parece confortável...
- É bonita mesmo.
Deitou-se em cima dela de barriga para o ar, virou-se de lado, tornou-se a virar.
Era uma bolsinha finlandesa!
- Esta deu-ma a Merja, lembrei-me com saudades...
Meteu-se dentro da bolsinha que tinha um belo fecho. Mas creio que o fecho o assustou. Talvez tivesse medo de ficar lá encerrado dentro!
- Esta amarela, não te parece melhor?
Era mais fofinha e era muito alegre.
- Acho que é mais confortavel, é acolchoada, dormes melhor.
- Então levo-a!
Arrumei a minha mala. Quando voltei ao quarto, o ratinho estava a ver as árvores do parque do Liceu. Parecia saudoso, quase comovido.
- Ratinho! Olha que são poucos dias...
Saltou para o chão e meteu-se dentro do saco amarelo.
- Estou pronto!Eu também estava pronta. Podíamos viajar os dois...
E aqui vamos! Não tenham saudades! Voltamos depressa!
E aqui lembro umas passagens do livro “Confesso que vivi”, de que já falei:
“Bud Powell é, na visão de muitos críticos, o maior pianista da história do jazz. Mesmo que não seja, sua importância para o desenvolvimento do estilo é gigantesca e o coloca no panteão dos maiores nomes do jazz, ao lado de Louis Amstrong, Duke Ellington, Charlie Parker, Miles Davis, Thelonius Monk (seu mentor e grande amigo), Charles Mingus e John Coltrane. Compositor iluminado, é o autor de inúmeros clássicos como “Parisian Thoroughfare”, “Bouncing with Bud”, “Tempus fugit”, “Dance of the Infidels”, “Un poco loco” e “Celia”: Basicamente todos os pianistas que lhe sucederam –de Bill Evans a Keith Jarrett, passando por Wynton Kelly e MCCoy Tyner- sofreram a sua influência.” (o.c., pág.27)
“(...) Em Nova Iorque Bud trafegou por todos os becos e embriagou-se em todos os bares do mundo” (o.c., pág. 28)
Penso no filme “Round Midnight” ('Round Midnight, de Bertrand Tavernier (1988), que vi nos anos 80, em Roma, e que muito me impressionou.
Filme que conta a sua nostálgica estadia em Paris, nos anos 60.
Cito, de novo, o livro de Érico Cordeiro:
“A película, verdadeira declaração de amor ao jazz (...), se passa no final dos anos 50 e inícios dos anos 60 e reproduz, com extrema fidelidade, diversos episódios da vida do pianista Bud Powell – à época exilado voluntariamente em Paris - com ênfase em sua amizade com o produtor francês Francis Paudras e em seu embate diário contra o álcool e as drogas, que lhe consumiram a saúde, a sanidade mental e a própria vida.”
De facto, Bud Powell morre prematuramente, em 1 de Agosto de 1966, doente, destruído pelo álcool, pelas drogas e pelos tratamentos (que incluíam, entre outras coisas, choques eléctricos.) Conta-se que terá sido o traumatismo, causado por uma cena de pancadaria em que a polícia de Nova Iorque, encontrando-o a vaguear de noite pelas ruas, lhe bate de tal forma que, a partir daí, passa a ter graves perturbações psíquicas, tornando-se dependente do álcool.
“Na confluência da genialidade e da loucura, Bud nos legou um álbum tributo ao amigo e parceiro Charlie Parker, outro célebre habitante dessa gélida s sombria região. O disco, denominado “Bud Plays Bird”, gravado entre 1957 e 1958 (...) ficou inédito até 1996.”
A vida de Charlie Parker, the bird, foi posta em cinema por Clint Eastwood de quem admiro a coragem de falar de assuntos difíceis, com uma humanidade exemplar (1)!
(1) “Bird” é um filme realizado por Clint Eastwood, em 1988. Um contributo, uma homenagem dedicados à vida e à música do saxofonista de jazz, Charlie “Bird” Parker. “The bird” ou Yardbird (*) nasceu em 29 de Agosto de 1920 e morreu em 12 de Março de 1955. Uma série de cenas da vida de Parker desde a sua infância em Kansas City, até à sua morte prematura com 34 anos, as suas relações de amor com Chan Parker, sua mulher, e com o leader da banda, Dizzi Gillespie. Entre outras pessoas. A sua paixão pela música, a sua dependência da heroína...
(*) "Yardbird", (pássaro de capoeira, no sul) porque Charlie Parker adorava comer galinha de todos os modos!
Diz Clyde E. B. Berhardt na sua autobiografia: Remember: Eighty Years of Black Entertainment, Big Bands:
“[Parker] told me he got the name Yardbird because he was crazy about eating chicken: fried, baked, boiled, stewed, anything. He liked it. Down there in the South, all chickens are called yardbirds.”
(2) “Round Midnight” é uma música criada por Thelonius Monk em 1944. Talvez antes, mesmo, em 41 ou 40. Há quem diga que é um “remake” de outra música composta por ele com 19 anos a que chamara “Grand Finale”.
imagem da edição ilustrada de "O Moinho à beira do Floss", de George Elliot: "visita ao acampamento cigano"
Os ciganos e o Holocausto
Cito do blog "Cozinha dos Vurdóns", blog de grandes mulheres que tive a oportunidade ( e a sorte) de conhecer.
E me deu grande prazer!
Quantas "conversas" à hora do chá
(chá cigano ensinou-me a Lú a fazer...), girando pela cozinha... ou a cozinhar pratos saudáveis e pouco dispendiosos?
Era assim a cozinha dos vurdóns (os carroções ciganos): simples mas nutritiva. Cozinhavam com o que havia e ...tudo podia servir para cozinha...
Muito tenho aprendido ao longo destes meses -ou já mais de um ano?- desde que me pus a ler o que escreviam. Além das belas receitas (vejam a de hoje...), à mesa da cozinha, vão "filosofando" em conjunto sobre a vida, os valores, as dúvidas... e daquelas cabeças sai sempre alguma coisa boa.
Ora ouçam:
“Como saber as descendências depois da Segunda Grande Guerra? Pra que saber?
Quem é mais ou menos cigano, rhom (outro problema esse de língua – Rom), Sinti, Calón e por aí vai. Como julgar um sobrevivente que optou depois de perder toda a sua família; mudar o rumo da vida e da própria história. Alguém por acaso se esquece do que é feito? E os que foram repatriados, separados logo nos primeiros dias de vida?
Como apagar imagens que não podem ser reconstituídas no presente? Como lutar dentro desse novo parâmetro no meio da família? Difícil de responder? Difícil de viver.
Uma coisa é certa. Em qualquer rumo que a vida nos leve, quando optamos por um norte definido e preciso, iremos sofrer represálias. Isso é fato. É fato também que isso ocorra de ambos os lados. Porque? A dita verdade. Sempre haverá um ou outro procurando a superioridade.
E é nesse momento que se cria a manivela dolorosa, gigantesca e destrutiva que chamamos de estereótipo.
Ao alargarmos nossa conversa nos deparamos com a estrutura familiar e escolar. Homem não chora, homem não usa saia, cigana só anda de saia, todo cigano é ladrão, mulher tem de usar cabelo comprido, assim demarcamos nossos territórios, são tantos os exemplos que seriam necessários dias em torno de suas colocações. Isso de dentro e de fora de qualquer grupo étnico precisa e deve ser combatido.”
Viram com certeza o filme Gilda. Filme inesquecível (acho eu) sobretudo pela interpretação, a presença, a sedução da figura que Rita Hayworth representa: Gilda.
Não importa a história em si, era um filme "série noire", mas importa sim a interpretação dela que o transforma num filme fora do vulgar.
E o modo como canta, como se agita, como olha. Provocante e atraente. Mulher fatal cheia de fragilidades...
Sempre com a classe de uma lady!
O filme é de Charles Vidor (1946) e tem outros actores conhecidos no cast, como Glenn Ford, mas é Rita que se destaca e “brilha” ofuscando tudo e todos (opinião pessoal...). Recordo um outro filme com ela, filme tremendo, “Chuva" (1953), de Curtis Bernhardt, tirado da novela de Somerset Maugham, “Miss Sadie Thopmson”. Contracena com José Ferrer, um grande actor pouco falado, menos lembrado. (Era ele que fazia de Toulouse-Lautrec no filme "Moulin Rouge").
Os trópicos, a chuva, o calor, a impaciência.
Uma dançarina de night-club (uma ex-prostituta, no conto de Maugham e nos filmes anteriores de que este é mais um "remake") que “desvia” um reverendo...
Rita !
Quem era esta mulher, esta figura cheia de luz e de vida?
Nasce em Brooklyn, New York, em 17 de Outubro de 1918. Era filha do dançarino de flamenco Eduardo Cansino e chamava-se Margarita Cármen Cansino.
Era cigana. E tinha uma costela irlandesa.
O pai vem de Castilleja de la Cuesta e pertencia a uma família de dançarinos ciganos espanhóis.
O pai desejava que ela o seguisse e fosse dançarina, tal como o fora o avô, António Cansino, considerado um dos expoentes mais importantes de dança clássica espanhola de Madrid, onde dirigia uma Escola de Dança.
Tal como o era o tio, Angel Cansino, que dava aulas de dança em Carneggie Hall. Que ensinou actores como a famosa Jean Harlow ou James Cagney a dançar...
A mãe, Volga Hayworth, essa, queria que ela fosse actriz...
E Rita Hayworth que estuda dança desde os três anos de idade vai ser isso tudo.
Falava eu no post anterior de Audrey Hepburn, que foi considerada pelos americanos como a "terceira maior lenda feminina do cinema" (American Film Institute).
1ª Lenda Feminina do cinema: Katharine Hepburn
2ª Lenda: Bette Davis 3ª Lenda: Audrey Hepburn com o 1º actor "lenda do cinema", Humphrey Bogart...
(Já agora, nos actores masculinos seguem-se-lhe Cary Grant, James Stewart, Marlon Brando e Fred Astaire)
Voltando a Audrey Hepburn, lembram-se que disse ter sido considerada "a terceira maior lenda feminina do cinema", pelo American Film Institute.
Audrey Hepburn no filme "Charada"
Até revelei que ignorava quem eram as outras duas "mais belas " ainda do que ela, ou, pelo menos "lendas femininas"...
Hoje de manhã tive a resposta de uma amiga: a Maria do Mar (blog: ainda é de dia)!
" A primeira da lista é Katherine Hepburn e a segunda Bette Davis". Outra Hepburn com muita classe: Katharine Hepburn!
Katharine Hepburn com outra figura de classe, Spencer Tracy -o amor da sua vida (classificado em 9º lugar)...
A dramática Bette Davis, 2ª da lista...
Continua Maria:
Hoje "desayuné" con Moon River de Andy Williams graças à tua sugestão e caíram-me duas lágrimas muito mornas, que bom é comover-se, adoro chorar!A canção é uma maravilha...
"We are after the same rainbow's
waiting round the bend"..."
Audrey tem imensas admiradoras, já vi...
Continua Ana (In(Cultura): "Audrey Hepburn é perfeita para o papel. Marilyn Monroe é diferente talvez não superasse a classe de Audrey.
Marilyn Monroe, nº 6 da lista
Isabel, sempre atenta, diz:
"Gosto muito dos filmes da Audrey Hepburn. E era uma mulher lindíssima, elegante e muito humana. Uma actriz que deixou saudades."
Gábi (do Dona redonda): "Gostei muito do filme e do conto!"
A simpática jovem Carlota (blog Orquídea) entusiasma-se: "Audrey Hepburn sempre!!!"
Este American Film Institute (Instituto Americano de Cinema) mais conhecido pela sigla AFI é uma organização independente, criada pela Doação Nacional para as Artes, em 1967 pelo então presidente dos USA Lyndon B.Johnson.
George Stevens Jr. foi o seu primeiro director.
Em 1973, o AFI começou a conceder prémios, o mais famoso dos quais é o: "Life Achievement Award".
Em 1980, Jean Picker FIrstenberg tornou-se directora do AFI – posição que ainda hoje conserva.
Em 1998, com a passagem do 100º aniversário do Cinema Norte-Americano começa a publicar as suas famosas listas do AFI dos 100 anos...
Assim foram permiando as melhores 100 canções, gargalhadas, lendas do cinema, etc.
Eu confesso que fui logo ver tudo dos actores e actrizes preferidos (as) e ver em que lugar estavam.