O que encanta no filme é a verdade das personagens!
Trata-se de actores amadores de uma companhia de teatro (Théâtre du Campagnol, em Antony), perto de Paris).
Na entrevista que acompanha o DVD, Ettore Scola faz um pouco a “história” do filme.
Convidado por Jack Lang –então Ministro da Cultura de Mitterand- vai assistir a essa representação.
E é o próprio Jack Lang que, no final, lhe diz que naquelas cenas bem podia encontrar assunto para um filme. A “matéria” prestava-se, era um "assunto” que podia ser dele, Scola...
Acaba por decidir fazê-lo. Primeiro, em Paris, depois em Roma.
Quando já tinha iniciado as filmagens, com os cerca de vinte e cinco actores, e “criado” a famosa “sala de baile”, um enfarte obriga-o a parar.
Trata-se, tenta deixar de fumar (o não consegue, pelos vistos, pois em toda a entrevista tem um cigarro na mão, e acena a isso) e abandona o projecto.
Um ano mais tarde, de repente, volta a pensar nisso. Volta ao projecto mas - confessa- alterou tudo o que pensara e filmara antes.
As filmagens passam agora para Roma, na Cinecittà.
Um belo filme “sobre a solidão” (diz ele), a procura de realizar os sonhos que ao longo da vida se foram perdendo... As frustrações que se vêm esquecer, dançando, numas horas de "fuga" à realidade.
Voltar todas as semanas à sala de baile, reencontrar os mesmo parceiros, refazer os mesmos gestos, solitários ou não, é a continuação de uma esperança perdida e sempre renovada.
Conta também Ettore Scola que, apesar de ser um filme mudo (ninguém fala, apenas se ouve a música e os sons de uma sala) todos os diálogos (imaginários) foram escritos realmente e cada um dos actores conhecia profundamente o seu papel e a s suas “deixas”.
Além disso, cada um tinha a sua “história”, o seu perfil, consequente com a personagem que figurava. E não o esquecia durante a representação.
De facto, creio que dificilmente esqueceremos aquelas figuras, que se movem, vivas, através dos anos (desde a década de 30 aos anos 80) num salão de dança...
Aos nossos olhos encantados, melancólicos ou nostálgicos passa o Front Populaire, a ocupação de Paris, o nazismo, a libertação de Paris, o período de Maio 68, os Beatles...
Há uma única cena em que os protagonistas parecem ser “indivíduos” e os sentimos próximos pelo sentimento: a cena dos spaghetti que o empregado da sala (o italiano Francesco de Rosa) divide com uma jovem artista que ali se refugia, com o seu violino, um pouco perdida.
A humanidade e a solidariedade daquelas duas figuras faz-nos vibrar um pouco mais e esquecer a solidão dos outros...
Nota 1
“Sem diálogos, o filme conta parte da história da França, a partir dos personagens reunidos num salão de dança. Através das recordações das pessoas, da música e da dança, o filme traça um panorama da evolução do país, da ocupação nazista até ao aparcecimento do rock’n’roll.
Le Bal (em italiano ”Ballando, ballando” inspira-se no trabalho de actores não-profissionais e acrescentando referências cinéfilas, vai compondo quadros que vão do realismo poético francês, ao filme musical a mericano e ao neo-realismo.”
Nota 2
"Ettore Scola (Trevico, 10 de Maio de 1931) é um dos mais importantes realizadores de cinema.
Estudou Direito em Roma, passando depois ao jornalismo e ao rádio. Ali travou conhecimento com gente do cinema para os quais começou a trabalhar como argumentista, o que fez entre 1954 a 1963. Neste período, em parceria com Ruggero Maccari, escreveu argumentos para Antonio Pietrangeli e Dino Risi.
Estreou-se como realizador em 1964, com a comédia Fala-se de mulheres. Seguiram-se outros filmes, como Nós que nos amávamos tanto (em C’eravamo tanto amati) de 1974, que ganhou o Prémio César de melhor filme estrangeiro.
Em 1983, ganhou o César para o melhor realizador com o filme "Le bal".
Nota 3
O Baile (Le Bal, título do filme em francês e Ballando ballando, em italiano) é um filme de 1983 produzido pela França, Argélia e Itália, do género comédia musical, dirigido por Ettore Scola.
O filme é uma adaptação do espectáculo que o Théatre du Campagnol tinha montado em Paris, com encenação de Jean-Claude Penchenat.
(as notas são da wikipedia)
Lembro-me de o ver no cinema e de ter sido um filme que me tocou. A peça de teatro nunca vi.
ResponderEliminarBoa noite! :)))
Beijinho.
"Voltar todas as semanas à sala de baile, reencontrar os mesmos parceiros...", é isso, o remédio à solidão está na constância e na fidelidade às pessoas — poucas, como as rosas dum jardim : pequeno, mas cuidado. ( ...cursi, yo)
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ResponderEliminarEU MATO-TE!!!
ResponderEliminarO segundo comentario não era para publicar!!!
Absolutamente delicioso!! :)
ResponderEliminarTenho de rever! :)
bjo
Belo filme! Vale a pena rever! Sempre se descobre uma coisa especial...
ResponderEliminarAndo numa de "revival" do Ettore Scola; "Maccheroni"(divino), "Le Bal" (nostálgico), "Brutti Sporcchi e Cattivi" (innnnnnclassssssificável: só vendooooo!)E agora vou ver I Nuovi Mostri"|
Filme adorável e gostei de ler o post, com os comentários.
ResponderEliminarUm abraço.