sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Yasunari Kawabata: "Mil Grous" publicado na Dom Quixote



Vi hoje na Livraria Galileo em Cascais (porque foi lá que fui...) um livrinho de Kawabata "Mil Grous", traduzido em português, e publicado pela Dom Quixote.
Foi uma belíssima escolha! Parabéns à Dom Quixote.

Lamentava eu há dois dias que não estivessem publicados aqui em Portugal os "Contos na palma da mão", ou "Arco-íris", sabia que havia apenas uma tradução de "A casa das belas adormecidas" e de "Terra de Neve". Agora fico mais contente. É mais um livro para oferecer, aconselhar...

Publicado por Kawabata, em capítulos, entre 1949 e 1951, o romance Mil Grous (ou Mil tsurus, Mil Garças) o célebre Senbazuru ("Nuvens de Pássaros Brancos", na tradução brasileira), poderia parecer, a uma leitura superficial, mero louvor da tradicional cerimónia do chá.
O próprio autor advertiu: "Ver o meu romance Mil Grous como uma evocação da beleza formal e espiritual da cerimónia
do chá é uma leitura falsa. É, pelo contrário, uma obra negativa, uma expressão de dúvida e um alerta à vulgaridade em que a cerimónia do chá caiu."
Narrativa de desencontros, como tantas outras histórias do seu autor, Mil Grous relata uma passagem na vida do jovem Kikuji, que reencontra duas antigas amantes de seu falecido pai: Chikako, ardilosa mestra da arte do chá, e a frágil viúva Ota, com quem Kikuji inicia uma relação amorosa.
Chikako, intrigante, tenta afastar Kikuji da viúva Ota e casá-lo com a jovem aprendiz Yukiko - dona de um lenço em que se estampa uma revoada de grous brancos. O quarteto feminino completa-se com a presença perturbadora de Fumiko, filha da viúva Ota.
O grou, ou tsuru, é uma ave sagrada no Japão. Simboliza a longevidade, pois nas lendas vive mil anos. Diz-se que confeccionar mil tsurus de origami traz a realização dos desejos.
No romance de Kawabata, porém, os mil grous não são garantia de sorte, saúde, paz ou longevidade. As personagens não contam com as graças da ave mítica.
E a arte do chá, que promove tanto aproximações quanto desencontros, também não escapa à perversão do tempo.
"A morte está persegue-nos sempre. E isso apavora-me" - diz Fumiko.

Recorde-se que o livro foi escrito nos anos logo a seguir à derrota do Japão na Segunda Guerra. Além de se encontrar devastado, o país ainda esteve ocupado pelos Aliados durante sete anos após sua rendição .
O estilo de escrita de Yasunari Kawabata distingue-se por uma linguagem suave, mais abstracta que descritiva, onde predomina a subjectividade em relação à objectividade, aproximando-se muitas vezes da prosa poética.
Pelo seu tratamento de atmosferas e cores, ficou conhecido como o escritor que "pintava as palavras" de branco irradiante, praticamente sem outras cores, como se vê em "Terra de Neve" e em "Mil Grous".
A solidão, a angústia da morte e a atracção pela psicologia feminina foram os seus temas constantes. Até ao fim.

Livro muito belo sem dúvida que aconselho a irem já comprar...

Ilustrações:

1. capa do livro Mil Grous, publicado em Agosto passado, pela Dom Quixote

2. Imagem da rua e do Museu Yasunari Kawabata

1 comentário:

  1. acabei de ler. gostei do ritual simbólico da não passagem da chawan para o futuro daqueles dois. não gostei da névoa do destino final das pesonagens, que contudo tráz beleza às história

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