As andorinhas cortavam os ares, as asas negras riscavam o azul de um lado para o outro, ouvíamos o chilrear, assim que algum professor abria as janelas.
Eu não conseguia estar quieta na carteira. O tempo custava a passar, sentia-me impaciente. Queria era voltar para casa, ir pôr-me à janela a ver se as andorinhas voltavam a fazer o ninho por cima da janela do nosso quarto.
Foi nessa Primavera, nesse primeiro ano de liceu, que começou a mania dos bichos da seda.
Não sei como arranjámos o dinheiro, eu e a minha irmã, mas de certeza que custavam poucos tostões que nos era fácil conseguir, pois tínhamos sempre os nossos mealheiros.
Viemos para casa com uma caixa cheia de bichinhos que pareciam formigas compridas a retorcer-se, e um montinho de folhas de amoreira que o sapateiro nos ofereceu.
Logo à chegada, apressadas, falando as duas ao mesmo tempo tal era a excitação, fomos arrumá-los numa caixa de camisas do meu pai e eles começaram a passear-se, a fazer buraquinhos nas folhas, comendo tudo, até deixarem apenas as nervuras. Ficávamos a olhar esta novidade, esquecendo tudo o resto.
A Florinda tinha agora que trazer do mercado um molho de folhas de amoreira.
O tempo passava a correr na Primavera, os bichos da seda cresciam depressa, até que um dia dei com eles a enrolarem-se em fios brilhantes que não percebia de onde vinham.
Assustámo-nos, parecia que iam perdendo a vida aos poucos, moles, sem energia.
Foi com certeza o meu pai que nos explicou que os fios eram a saliva do bicho da seda, que já era seda mesmo; que iam preparar os casulos onde ficariam fechados, formando uma crisálida, até nascer a borboleta.
Dentro em pouco, todos os nossos bichos estavam nuns rolos amarelos de seda brilhante e de toque muito suave. Arrumámos as caixas no alto de um armário e esquecemos os bichos da seda...
Um dia vimos voar, junto ao tecto, umas borboletas de asas pesadas, amarelinhas claras, sem graça, quase da cor dos casulos. As asas pareceram-me pesadas, asas que nada tinham a ver com a leveza quase transparente das borboletas que, lá por fora, nos campos, voavam de flor em flor, salpicando tudo de poeira dourada.
Quando tirámos as caixas para baixo, havia umas pintas brancas do tamanho de cabeças de alfinetes, por toda a parte.
Confesso que o entusiasmo pelos bichos da seda se perdera. Arrumámos as caixas no tal armário e nunca mais pensámos nisso.
Nesse ano, claro.
Portalegre, Rua Direita, talvez nos tempos do meu avô
Saudações nobre amiga e parabéns pelo belo trabalho que aqui encontro.Sempre que posso me deleito com estas maravilhosas informações e apreço de postagens bem como o prazer de encontrar novidades. Um grande abraço e fique na infinita paz.
ResponderEliminarNamastê.
Obrigada, nobre amigo. Fico feliz pelas suas palavras.
ResponderEliminarUma boa noite para si.
Namastê?
Como é bom encontrar-me nestes textos (desculpe!! Mas é também o meu mundo!!) Obrigada pela prosa sentida!
ResponderEliminarBeijinhos
Luísa