com o pseudónimo João Falco
do livro "Outono havias de vir"
Ir, vir...
Ir. Manhã, ar fresco, paisagem nova.
Vir. Tarde. Hora dos poetas, dos que não cantam
Se em cada lugar da terra eu perdesse a minha
humana essência, aquilo que me iguala ao que é
e ao que foi!
Nesta hora divina, nesta formosa tarde como ser?
Que me tentava?
Não sei.
Terra, luz, ar, amenidade indizível!
Noite
Tenho sono...
Como dizem as crianças.
Dava-me vontade às vezes a esta hora...Entram sons pela janelas.
Dava-me vontade de flutuar...
Alegre noite!
E sem saber porquê.
É do levíssimo vento que entra subtil, que refresca
Subtil.
E dos sons que parece que sobrenadam confusos
E soltos.
Sono, cansaço?
Sono ou cansaço...
Noite fresca. E calma, romântica, bemfazeja,
Quasi estival.
Nova, nova, nova, nova!
Não era a minha alma que eu queria ter.
Esta alma já feita, com seu toque de sofrimento
E de resignação, sem pureza nem afoiteza.
Decidida, capaz de tudo ousar.
Nunca esta que tanto conheço, compassiva, torturada, de trazer por casa.
A alma que eu queria ter e devia ter...
Era uma alma asselvajada, impoluta, nova, nova, nova, nova!
Escrever
Se eu pudesse havia de transformar as palavras em clava.
Havia de escrever rijamente.
Cada palavra sêca, irressoante, sem música.
Como um gesto, uma pancada brusca e sóbria.
Para quê todo este artifício da composição sintática e métrica?
Gostava de atirar palavras.
Rápicas, sêcas e bárbaras, pedradas!
Sentidos próprios em tudo.
Amo? Ou amo ou não amo.
Vejo, admiro, desejo?
Ou sim ou não.
E como isto continuando.
(...)
A injustiça de se não falar nela, não recordar a mulher fantástica que foi, a educadora, a pedadoga, a mulher independente e culta que estudou em França, na Suíça, na Bélgica, em Institutos Superiores de Educação (no Instituto Jean-Jacques Rousseau, por exemplo. Este Instituto é uma escola de ciências da educação fundada em Genebra no ano de 1912 por Édouard Claparède).
Alguns dados biográficos (wikipedia):
"13 Contarelos que Irene escreveu e Ilda (Moreira) ilustrou", s/d (1926)
João Falco:
-2ªed.Poesia I, com "Introdução" por José Gomes Ferreira (1978) e "Prefácio" de Paula Morão, Lisboa, Editorial Presença -Obras de Irene Lisboa, vol.I, 1991
João Falco:
"Solidão - Notas do punho de uma mulher", 1939;
-4ªed. com "Prefácio" de Paula Morão, Lisboa, Editorial Presença - Obras de Irene Lisboa, vol.II, 1992.
João Falco:
Irene Lisboa (João Falco).
-2ªed. com "Prefácio" de Paula Morão, Lisboa, Editorial Presença - Obras de Irene Lisboa, vol.VIII, 1997.
"Uma mão cheia de nada, outra de coisa nenhuma" 1955;
(reed. com nota introdutória de Paula Morão e prefácio de Violante Florêncio, ilustrações de Pitum Keil do Amaral, Editorial Presença - Colecção À Descoberta, 1993.
"O pouco e o muito - Crónica urbana", s/d (1956)
- 2ªed. com "Prefácio" de Paula Morão, Lisboa, Editorial Presença -Obras de Irene Lisboa, vol.VII, 1996
"Voltar atrás para quê?", s/d(1956)
- 2ªed. com "Prefácio" de Paula Morão, Lisboa, Editorial Presença - Obras de Irene Lisboa, vol.IV, 1994
"Título qualquer serve", 1958
- 2ªed. com "Prefácio" de Paula Morão, Lisboa, Editorial Presença - Obras de Irene Lisboa, vol.IX, 1998
"Queres ouvir? Eu conto - Histórias para maiores e mais pequenos se entreterem", 1958
- 2ªed. com nota introdutória de Paula Morão e prefácio de Violante Florêncio, ilustrações de Manuela Bacelar, Lisboa, Editorial Presença - Col. À Descoberta, 1993.
"Crónicas da Serra", s/d (1958)
"A vidinha da Lita", contada por Irene Lisboa, desenhos de Ilda Moreira, 1971.
- 2ª ed. com "Prefácio" de Paula Morão, Lisboa, Editorial Presença - Obras de Irene Lisboa, vol.X, 1999
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Já agora queria "homenagear" o blog que indico abaixo.
Ocupa-se só de Irene Lisboa!
http://irene-lisboa.blogspot.com/
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E ainda...
O Museu Irene Lisboa, na Arruda dos Vinhos:
Site:
http://www.cm-arruda.pt/custompages/showpage.aspx?pageid=ab5bd00d-4930-4c29-b2e3-f61f2328604f&m=b101
"A constituição do Museu Irene Lisboa teve o seu início em 1999 com a candidatura da Junta de Freguesia de Arranhó à LeaderOeste para a construção do edifício, mas só em 2003, com a aprovação definitiva da LeaderOeste, é que o Museu dedicado a Irene Lisboa começou a ser uma realidade".
"Nâo era a minha alma que eu queria ter..."
ResponderEliminarQuando lemos uma poesia e sentimos que "é isso",só que nunca poderíamos explicá-lo dessa maneira,é tâo intenso,nao é?Tenho a certeza que me entende,e obrigada por este momento de emoçâo.
Sabe uma coisa? Eu pensei logo que ia gostar! Pouco a pouco lá nos vamos "conhecendo"...
ResponderEliminarUm beijo amigo
Muito bem lembrado. Gosto muito de Irene Lisboa.
ResponderEliminarAbraço
Despertou-me uma enorme curiosidade.Vou procurá-la.
ResponderEliminarAssinei a Seara até ao assalto em 75/76.Depois a Cambio 16.
Agora vou tendo saudades.
Sem perder a esperança.O povo tarda mas sempre acorda.
Saudações cordias,
mário
Oh tão profundo...
ResponderEliminar"grande mulher"
fiquei apaixonada por vários versos, tocaram-me...
obrigada
gly
Querida Gly!
ResponderEliminarAinda bem que gostaste. Vou ver se te arranjo alguma coisa dela...
bjs
Olá, alguém sabe me informar se esta magnifica mulher escreveu o poema " Ainda bem que te encontrei " ? Não vejo relatos em lugar nenhum, creio que a professora da universidade que passou não seja uma apreciadora de belas obras. Me ajudem, por favor !
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