capa da edição espanhola de "Los Cuadernos Secretos", editora Suma de Letras, de Barcelona.
"Los Cuadernos Secretos y dos novelas inéditas de Poirot". Falei há tempos na saída destes “Cadernos Secretos” e entusiasmei-me com a saída (próxima) provável de duas novelas inéditas.
E houve sempre alternativas aos assassinos, aos fins escolhidos para as histórias, ou aos móbeis dos crimes.
capa de um dos últimos livros de Agatha Christie, publicado pela ASA, "Crime no Hotel Bertram", com Miss Marple
A dada altura, diz-nos John Curran:
"A maioria dos leitores pensa que ela começava a escrever os livros do princípio até ao fim, sem parar, e que num mês já tinha um romance pronto. Mas no meu livro mostro a quantidade de trabalho –de oficina- que há por detrás dessas histórias".
Agatha Christie é conhecida como Dama do Crime, Duquesa da Morte, Rainha do Crime, mas eu prefiro chamar-lhe a "Lady do Crime" -em homenagem a uma outra Lady que eu adoro: Billie Holiday, a doce Lady Day.
Vem este post a propósito de um livro que comprei em Salamanca...
Isto foi por altura do aniversário de Agatha Christie, houve muitos eventos em Londres, festejos na internet, jogos, etc.
Nessa altura, num site da BBC e no do Guardian vi a notícia dessa descoberta fantástica (só os leitores dela é que compreendem...) de duas novas histórias dela, surgidas do "nada": quero dizer, das malas de papéis deixados pela escritora e guardadas até há pouco naantiga casa de férias.
Essas duas novelas inéditas estavam para sair na Harper Collins Publishers (a editora que publicou a escritora desde o primeiro livro, O assassínio de Roger Ackroyd), incluídas num livro que reunia tudo o que se copnseguira "encontrar" nessas malas preciosas. Iria chamar-se: “Agatha Christie's Secret Notebooks: Fifty Years of Mysteries in the Making”.
Referiam que se tratava de dois pequenos contos (short stories), como às vezes ela costumava fazer, pensando depois desenvolvê-los mais tarde.
Essas duas novelas inéditas estavam para sair na Harper Collins Publishers (a editora que publicou a escritora desde o primeiro livro, O assassínio de Roger Ackroyd), incluídas num livro que reunia tudo o que se copnseguira "encontrar" nessas malas preciosas. Iria chamar-se: “Agatha Christie's Secret Notebooks: Fifty Years of Mysteries in the Making”.
Referiam que se tratava de dois pequenos contos (short stories), como às vezes ela costumava fazer, pensando depois desenvolvê-los mais tarde.
A primeira chamava-se “The Mistery of the dog’s ball” (trama que Agatha vai desenvolver -e modificar- em "Dumb Witness"), e a segunda "The Capture of Cerbero" - que já estava incluída nos últimos 12 casos de Poirot. Mas -segundo revelavam- era uma história completamente “nova", da qual guardava apenas o antigo título.
E falou-se muito da inesquecível Lady do Crime.
E falou-se muito da inesquecível Lady do Crime.
Até eu falei... (O meu post de 15 de Setembro chamava-se "Agatha Christie: 15 de Setembro, dia do seu aniversário")...
Depois, não encontrei mais nada por aqui pela internet, nem nas livrarias em Portugal, e esqueci-me.
Passando por uma livraria em Salamanca, a "Cervantes", perto da bela Plaza Mayor, vi na montra, em grande plano, o tal livro.
Não resisti: entrei e comprei logo.
Não sabia se os hermanos de cá também o tinham publicado já (procurei e acho que ainda não...), ou se irão (e quando?) publicá-lo.
Pelo sim, pelo não, comprei em espanhol: "Agatha Christie, Los Cuadernos Secretos y dos novelas inéditas de Poirot", autor John Curran, publicado pela Casa editora Suma de Letras, Barcelona, em Março 2010.
A capa é uma adaptada da edição inglesa Harper Collins.
O que vos posso dizer? retrato do autor do livro, o escritor irlandês, John Curran
Que se trata de um livro preparado com cuidado, amorosamente, diria, por John Curran, escritor irlandês, grande apaixonado de Agatha Christie, que vive em Dublin onde está a preparar uma tese de doutoramento sobre a Lady do Crime.
Não deve ter sido nada fácil descriptar (descodificar) a letra miúda (quase gatafunhos) de Agatha, nem os rabiscos, ou arabescos, nem as rasuras que faz, nem as reticências que deixa...
Muitos pontos de suspensão... Suspensa, ela própria? à espera de uma intuição...?
O trabalho de Curran traz à superfície deste lago misterioso que é a criação de uma obra literária (ainda por cima de mistério!) uma série de pormenores bem interessantes, que nos permitem conhecer por dentro o trabalho preparatório de uma escritora tão interessante, tão rica psicologicamente, com uma vida tão intensamente vivida - como Agatha Christie.
Não deve ter sido nada fácil descriptar (descodificar) a letra miúda (quase gatafunhos) de Agatha, nem os rabiscos, ou arabescos, nem as rasuras que faz, nem as reticências que deixa...
Muitos pontos de suspensão... Suspensa, ela própria? à espera de uma intuição...?
O trabalho de Curran traz à superfície deste lago misterioso que é a criação de uma obra literária (ainda por cima de mistério!) uma série de pormenores bem interessantes, que nos permitem conhecer por dentro o trabalho preparatório de uma escritora tão interessante, tão rica psicologicamente, com uma vida tão intensamente vivida - como Agatha Christie.
Ao longo da leitura, vamos “descobrindo” coisas...
Por exemplo, no caso dos "10 negrinhos" (mais politicamente correcto, hoje chamam-lhe "E não restou nenhum..."), segundo as anotações de Christie, qualquer das personagens podia vir a ser o assassino.
Noutras histórias como “Os Cinco Porquinhos", ela soube desde o início quem seriam os participantes, mas não sabia quem seria a vítima... Ou o assassino!Por exemplo, no caso dos "10 negrinhos" (mais politicamente correcto, hoje chamam-lhe "E não restou nenhum..."), segundo as anotações de Christie, qualquer das personagens podia vir a ser o assassino.
E houve sempre alternativas aos assassinos, aos fins escolhidos para as histórias, ou aos móbeis dos crimes.
Nas notas sobre "Morte no Nilo" há uma interrogação logo na primeira linha dos apontamentos: Miss Marple?
O que significa que hesitou se o "herói" seria Miss Marple ou Hercule Poirot...
Segundo Curran, a autora deve ter achado que a extraordinária e pacata Miss Marple estaria pouco à vontade numa viagem desse tipo (ela só viaja para o estrangeiro uma vez: quando o sobrinho Raymond lhe oferece uma viagem às Caraíbas -"Crime nas Caraíbas", lembram-se?).
E decide-se pelo cosmopolita, grande viajante, aventureiro do mundo, Hercule Poirot!
Diz o autor do livro, no Prefácio:
"Organizei as notas originais de Agatha Christie, alterando o mínimo possível. Cada uma das páginas está salpicada de notas, parêntesis, pontos de interrogação; uma frase completa é mais a excepção do que a regra... Nalguns casos fiz emendas; num parágrafo as palavras estavam separadas por colchetes e pareciam formar frases distintas.
Todos os pontos de interrogação conservavam-se assim, tal como os sublinhados, os riscos, os borrões, os pontos de exclamação -até erros gramaticais deixei, tal qual estavam nos cadernos. Algumas peculiaridades ortográficas mantive-as, mas assinalei-as com [sic]."
A simplicidade (tão complexa, às vezes) dos romances de Agatha Christie surge aos olhos dos leitores nas dezenas de caderninhos da escola (os “exercise books”) que ela encheu com as suas observações, dúvidas, lembranças, coisas para verificar mais tarde...
A dada altura, diz-nos John Curran:
"A maioria dos leitores pensa que ela começava a escrever os livros do princípio até ao fim, sem parar, e que num mês já tinha um romance pronto. Mas no meu livro mostro a quantidade de trabalho –de oficina- que há por detrás dessas histórias".
E continua:
"Christie tinha ideias, mudava de opinião, voltava do final já escrito ao início, escolhia uma personagem como assassino e depois afinal decidia que era outro. E às vezes parava tudo e começava de novo com uma ideia anterior, levando em conta todas as possibilidades da trama".
Mais adiante revela:
"Muitos de seus livros foram construídos sobre premissas muito singelas. Alguém é assassinado, a razão é simples: caso das vítimas em ordem alfabética, alguém isola um grupo de pessoas numa ilha deserta e vai-os matando um por um".
Diz também que, apesar de parecer tudo tão simples para o leitor, “há muito trabalho na sua criação".
“É a arte de uma escritora” acrescenta Curran, "que é a melhor escritora de livros de detectives", um género que se caracteriza por criar um tipo de história na qual o leitor tem acesso às chaves para resolver o mistério.
"Ninguém nunca fez isso tão bem como Agatha Christie. Não considero que seja uma grande romancista de crimes, mas foi a melhor escritora de romances de detectives, da história".
Diz também que, apesar de parecer tudo tão simples para o leitor, “há muito trabalho na sua criação".
“É a arte de uma escritora” acrescenta Curran, "que é a melhor escritora de livros de detectives", um género que se caracteriza por criar um tipo de história na qual o leitor tem acesso às chaves para resolver o mistério.
"Ninguém nunca fez isso tão bem como Agatha Christie. Não considero que seja uma grande romancista de crimes, mas foi a melhor escritora de romances de detectives, da história".
Não vou revelar nada sobre os dois novos contos...
Só digo: é sempre ela, a Lady do Crime!
Cara Jana
ResponderEliminaradorei a tua visita a Salamanca
aonde estive ha uns meses atras
escreva mais e sempre um prazer
beijos
dalit