E a cidade fica rodeada de muralhas...
Do outro lado, está o porto e a bela Porta da Marina.
Uma cidade de mar, branca e linda, recortada num céu azul, é a recordação que tenho. Onde ia sempre com enorme prazer.
O torreão, as ruínas da antiga fortaleza portuguesa -e os escolhos logo ali- estão perto de um passeio que um parapeito alto acompanha.E ficam, no lusco-fusco, a olhar longamente para o mar.
Ficavam a ver cair a noite, de olhos fixos no mar ao longe e nos céus de fogo onde o sol se punha.
Os marroquinos são contemplativos. Vi a mesma ânsia de olhar para os longes para lá do Mar Mediterrâneo, em Tânger. Ou, igualmente, em Rabat, frente aos jardins que abrem as suas portas sobre as ruínas romanas, onde passam as cegonhas devagar.
Terra de pescadores, que vêm de longe, nos barcos, aproam no porto, e descarregam caixotes e caixotes de peixe. A lota é ali mesmo. No porto há os estaleiros onde barcos grandes formigam de gente à roda, de cães, de cordames, cheiro a tintas e a pez.Entre os barcos a calafetar, e os barquinhos azuis e brancos, de linhas elegantes, com barras vermelhas ou laranja atravessadas no casco, que chegaram do mar, há pouco espaço.
A agitação do porto comunica-se-nos, os olhos ficam presos nas cores, na madeira brilhante, no peixe seco ou frito que ali é vendido sobre bocadinhos de pão.Pouco depois, já encontramos o peixe nas bancadas no tal passeio junto ao mar e, ao almoço, abrem tendas que logo apresentam espetadas de peixes variados grelhados.
Ou a cidade dentro de portas, e cercada de muralhas brancas.
Espaço pequeno mas confortável e um atendimento igual. As três mulheres eram muito simpáticas, conversadoras, risonhas.
Como tantas jovens marroquinas que conheci, queriam partir, sonhavam com a Europa. Tinham estudado, não encontravam saída para as vidas.
Dizia Aïssa, a mais velha: "Eu vou para Londres, tenho lá um namorado. Caso com ele e pronto!"
Tempos depois quando voltámos, a Aïssa já não vivia ali. Casara com o tal namorado e estava em Londres. A Mouna entretinha-se a jogar às cartas dentro da gaveta do armário onde guardavam os talheres. A Amal sorria.
Dentro da cidade, havia a kasbah, as lojas de madeiras maravilhosamente trabalhadas, como a madeira de tuya e a raiz de tuya, mais fina e preciosa. As caixas de segredo, com várias portas, cofres para guardar as jóias, com uma fechadura minúscula e a sua chave trabalhada.Em redor de Essaouira, plantações de tuya coloram de verde escuro os campos.
O comércio é muito variado, a comida é boa e os sorrisos vêm facilmente aos lábios.
Em baixo, era um clássico café-restaurant francês. Os quartos pertenciam, no entanto, já ao mundo das mil-e-uma-noites, com aspectos de esconderijo que me lembravam os subterrâneos do Ali Babá...
Uma espécie de caverna de luxo, caiada de um branco impecável, mas fechada, claustrofóbica, com a cama enorme no fundo, dossel de véus que tudo cerravam, e a humidade que se entranhava nos ossos.
Nas noites quentes de Verão cheias de scirocco e de areia por toda a parte, havia em Essaouira os Festivais de Música.
Nuns meses, o Festival de Música Gnawa (geralmente em Junho), noutros, talvez em Agosto, o Festival de Música Andaluza.
Vinha gente de todo o Marrocos e de fora... A cidade agitava-se, os hotéis e Ryads não tinham lugar.
Era um acontecimento para a cidade do sul!
Mas a Essaouira azul, sem ninguém -só os da terra-, poucas pessoas, com os barcos e o cheiro a mar, as praças batidas pelo vento, era outra coisa...
Era o repouso, a calma, a contemplação dos horizontes...O vento girava, girava no seu corropio, como pequenos ciclones com cheiro a mar.
Podem ouvir um pouco de música Gnawa e dar uma olhadela ao festival...http://www.festival-gnaoua.net/festival_essaouira/pages/index.php
Que bonito tudo, João!Dizem que a beleza está nos olhos de quem a sabe contemplar,e tu sabes ver, sentir e contar depois.É um prazer ler-te,apetece mais...Beijinhos
ResponderEliminarObrigada, minha amiga! Mas os sítios é que ajudam...
ResponderEliminarbeijos