quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A Geração Perdida...

Picasso, a Dança dos Jovens

o grupo das minhas ex-alunas Carla, Xana, Marty e Glykhéria que tanto se se interessaram pelo estudo, pelos livros. Conseguirão ter a oportunidade que merecem?


Falava há dias de “geração perdida”, a propósito de Janis Joplin e Jimi Hendrix. A geração das drogas pesadas? A geração de vida sem bússola? Que procurava as alucinações de outro mundo para esquecer a solidão e a incapacidade de viver “no mundo real", da realidade que os agredia e punha de parte? São os anos de Woodstock, da erva, dos sonhos de grandeza, de ambição, de “Peace & Love”, da liberdade absoluta, do LSD e da heroína...

Outras foram chamadas de “gerações perdidas” antes desta...
Basta pensar na “geração perdida” dos “anos loucos”, os anos 20 e 30, a “era do Jazz”, a geração do grande escritor Scott Fitzgerald, por exemplo.
Cartaz sobre "The Jazz Age"

Ou a “geração perdida” de Maio 68, com as suas esperanças e desilusões.
Ou a “geração perdida” dos “angry men”, os rebeldes sem causa ingleses, ou dos “beatniks” americanos...

Sempre essas gerações (ou jovens) que escolhiam um modo de viver diferente, com valores “diferentes” dos da geração anterior, claro, e provocaram o choque geracional, etc, etc., foram chamadas “gerações perdidas”...

Mas hoje a “geração perdida” é outra coisa. Zinai


São os jovens da geração que se interessou, “que sabe”, que estudou, que se prepararam, desde muito pequenos.
quadro da pintora russa Zinaida Serebryakova, "crianças" (os filhos da pintora)
A geração que quis ter “uma formação”. E a quem os pais quiseram proporcionar o que eles não tinham podido ter: educação, uma formação universitária.

O que significava : ter um futuro melhor!

O futuro que eles não tinham tido o direito de ter.

Agência de emprego, em Inglaterra

A “geração perdida” de que vos quero falar é essa geração preparada, “over graduated”, como diriam os nossos amigos ingleses: com licenciaturas, mestrados, doutoramentos nalguns casos.

O que lhes aconteceu? Perderam o emprego...
Muitos continuaram a estudar, se têm a sorte de ser “bolseiros”, eternos estudantes, “passam” para os tais mestrados, enquanto o trabalho não aparece, “continuam” pelos cursos de aperfeiçoamento, e por aí adiante.
À espera...


Por quê?

Porque, apesar de toda essa preparação, enfrentam uma situação sem futuro. Esta nova "geração perdida" é a dos que, pura e simplesmente, não têm trabalho.

Vai dos vinte e cinco aos quarenta e tal... ou até mais.

O El país de há dois dias publicou uma série de cartas jovens nestas condições, revelando problemas idênticos; em França, na Itália há milhões de desempregados. O problema repete-se até ao infinito por essa Europa. A Inglaterra tornou-se uma espécie de "El Dorado" para muitos, porque ali "ainda" há trabalho... Mas até quando?
manifestação em França: jovens lutando pela igualdade de oportunidades

Por toda a Europa o problema se agudizou. Alguns já tiveram trabalho, mas “acabou-se”, e estão hoje reduzidos ao subsídio de desemprego, enquanto procuram desesperadamente outra coisa.
procurando um trabalho desesperadamente...

Porque eu não acredito no que certas pessoas (sem problemas) dizem: “eles não querem é trabalhar!”

Uns voltaram para casa dos pais com as novas famílias, quando tinham caído na asneira de as criar, recebendo envergonhados alojamento e, quantas vezes, a “semanada” que tinham julgado abandonar para sempre ao abandonarem a casa dos pais, para ir trabalhar! Porque o subsídio não dura sempre, e o trabalho demora a cair do céu.

Sei de outros que abriram lojas, cafés, “enterrando” toda a “sabedoria” e “especializações” atrás do balcão a servir cafés, cervejas, “amarelinhas”, aligeirando “a coisa” com uns toques de cultura, concertos em pequenos espaços, exposições temporárias de fotografias ou aguarelas de amigos, uma cantinho arranjado com uns livros, uma mesinha para o computador, um leitor de CDs.
Camille Pissarro, "geada no campo"
Outros já pensam em arranjar umas leiras no campo para ir plantar batatas...
Voltar à vida rural? Para quem não sabe? Como?, se a agricultura está de rastos?
E foi para isso que andaram a “queimar as pestanas”?, perguntam.
Não. Não foi para isso que os pais se sacrificaram tanto para lhes dar um futuro.

Geração perdida? Não, geração frustrada!

Existe frustração nessa gente.
Existe desilusão.
Existe desespero.

Com que direito se deparam com estas situações?

É urgente resolvê-las. Não pode viver eternamente uma geração sem futuro!

Passou o dia Internacional da Juventude em Agosto? Há quem o anuncie para amanhã, dia 30 de Setembro. Nas Caraíbas vai ser no dia 2 de Outubro...

Que importa a data?! Quem dera que esse dia chamasse a atenção para este problema crucial, que parece não ter solução!

Ou terá?, e haverá quem tenha outros interesses que se põem à frente desse?

Por isso fiquei contente que Ed Miliband tivesse ganho a liderança do Labour, em Inglaterra.

Edgard Miliband, o novo lider do Labour Party

Ed representa a esquerda do Partido Trabalhista.

As pessoas contam! As dificuldades ( e as oportunidades) devem ser (realmente) iguais para todos.

Não pode haver uma situação em que –com a crise, pela crise, na crise- alguns tenham recuperado tudo, e os outros estejam desempregados, em fuga pela Europa, partindo para as áfricas outra vez, emigrando, à procura do ouro...

Emigrantes involuntários, uma vez mais?

Até quando?

Voltar aos ideais da solidariedade, da igualdade e do direito ao trabalho talvez seja a única solução para esta “geração perdida”!

6 comentários:

  1. Sempre houve gente que se perdeu no caminho, não nos queda outro remédio que manter a esperança na capacidade que temos para sobreviver.
    Se fazemos caso ao economista Santiago Niño,acabou-se a era do progresso,não haverá mais que recortes, em recursos e em direitos.
    Como viver projectados no futuro sempre foi adiar viver,vivamos o presente, que é o que temos certo, com todas as suas dificuldades, e tentemos resolvê-las, claro!Beijinhos

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  2. Belo post Falcão...
    Parabéns uma vez mais!
    Atravessamos uma fase muito complicada e que se complica cada vez mais.
    Será que vai haver solução, não sei...a mim parece-me muito complicado. Parece que chegamos ao fundo do poço e não conseguimos sair de lá.
    A nossa juventude, é na sua maioria, uma juventude frustrada, estuda e sabe o que vai encontrar: desemprego!
    O sonho não passa de um sonho que se transforma a longo prazo em pesadelo...
    Abraço

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  3. Claro.Há solução.Quando formos capazes de mudar de rumo.
    Uns não podem explorar os outros.Uns não podem ter tudo para outros não terem nada.
    De facto acabou este modelo de sociedade.Há muito,alguns só deram conta agora,outros teimarão em bater com a cabeça na parede até ao fim.
    Caiu uma enorme geada,não só no campo,também na cultura e na educação.A miragem do tal sucesso essa acabou.Ainda bem.
    Cordial abraço,
    mário

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  4. Tem de haver solução! Mas é preciso não cruzarmos os braços, não encolhermos os ombros...

    Beijinhos!

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  5. Ola Joao! Maravilhoso como sempre! A soluçao é viavel enquanto existir vontade para mudar e lutar.
    Agora, vamos combinar que essa foto tem de parar de ser divulgada, eu estou mto mal!! hehehe.. mas bons tempos..bons tempos.. Beijo MARTY. saudades!

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  6. Fico contente por ver que a reacção dos que me escreveram é "reagir"!Óptimo, porque é o que eu penso: continuar a tentar empurrar a barreira!
    Nem cruzar os braços, exigir coisas e ter a vontade de lutar!
    Contente, Marty, que és a mais nova do grupo, por insistires na "luta"! Espero grandes coisas de ti (de vocês...), já sabes e sei que não me desiludirás nunca! A foto...não resisti, gsto tanto dela!!! Belos tempos, com certeza!
    Obrigada a todos

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