segunda-feira, 20 de junho de 2011

John le Carré e "Um traidor dos nossos" (Our Kind of Traitor)

David John Moore Cornwell nasceu em 19 de Outubro de 1931. Durante os anos 50 e 60, Cornwell/Carré trabalhou para o M15 e M16 (*) e, quase simultaneamente, começou a escrever romances de espionagem - sob o pseudónimo de John le Carré. Falava de coisas que conhecia, do chamado "Circus", ou Cambridge Circus, nome que aparece nos seus livros para indicar a sede dos serviços secretos ingleses.


O seu 3º romance “O Espião que saiu do Frio” (1963) tornou-se num best-seller internacional.



Depois desse sucesso, deixou o "M16" para se dedicar apenas à literatura: a escrever os seus livros e nada mais.



Em 2008, a revista The Times colocou-o entre os 50 maiores escritores ingleses desde 1945.

Os seus romances O Espião que saiu do Frio, A Casa da Rússia, A Gente de Smiley, Um Espião Perfeito, etc, tiveram sucesso pelo mundo inteiro.



Continuou a escrever, a ser traduzido e surgem outros títulos: O canto da Missão, Um Homem muito Procurado.
UM TRAIDOR ENTRE NÓS?

Abrimos o livro, entramos nundo negro, onde as aparências são como sombras na caverna, invertidas: o mal está dentro, entre nós. Do "nosso" lado...


Lá fora, as sombras cercam-nos: escondem esse mal, atenuam-no aos nossos olhos, disfarçam-no. Confundem-nos.













Perry Makepiece, a mulher Gail, Luke, Hector, quem são? Personagens que vamos “adivinhando” mais do que realmente os compreendemos.
Gente normal? Espiões? Agentes secretos? E Dima, o banqueiro russo quem é? E o que sabe? Fala verdade? Por que é que Dima quer falar? É um traidor? A quê? A quem?

O que os liga? Que redes se enrolam e desenrolam, e os envolvem?



Por que razão Percy e Gail "vão parar por mero acidente" ao que Hector -o espião inglês do M16- chamará um "campo de minas muito bem plantado..."?



Que teia infernal os vai unir?

O que escondem uns dos outros?

De que têm medo?


E seguimos atentos, suspendidos, o que o autor nos vai revelando.

No meio disto tudo, interrogamo-nos sempre.


Quem são os traidores afinal?


E uma transformação gradual vai acontecendo em cada um dele. Pouco a pouco vamos percebendo o que os move.


Percebemos mesmo? A dúvida continua. Ou não queremos perceber, porque a realidade nos mete medo de mais?


É este o mundo em que vivemos? Afinal não há segurança, nem do "nosso lado"?


Perry - o herói- vê, de repente, ao espelho, uma imagem – a sua- e “impressiona-o a ansiedade de um rosto que principiara a não conhecer.”



Um dia, Perry pergunta a Luke, o agente secreto que o interroga:


“- É deformador?
- O que disse?
- O trabalho. Distorce a mente?
- Quer dizer se sou maluquinho?
- Não é assim tão drástico... É só...bem, como é que isso afecta a pessoa a longo prazo?
- A longo prazo?(...) A longo prazo estaremos todos mortos.”



Perry é o professor de literatura em Oxford que um dia escrevera:"o sacrifício de homens valentes não justifica a prossecução de uma causa justa”.





É Hector, o agente secreto britânico, quem cita a frase dele, e lhe diz:


“Sabemos o que pensa de nós. Alguns de nós pensamos o mesmo, e temos razão. O problema é que que somos a única coisa que se aproveita.”


Percy vai-se arrepender de se ter metido naquele sarilho todo, que não lhe dizia respeito, e em que uma sua forma de “moral” e de justiça o pusera:



Devia ter dito àquela gente: Pronto. Agora estão por vossa conta. Eu sou, portanto não espio.”



Mas não disse... E foi- se meter no tal "campo de minas".

Talvez pela famosa "questão moral", tão esquecida nestes nossos tempos...


Depois da aventura inquietante na Ilha de Antígua , depois do encontro com Dima, o russo, procurara um “contacto” em Oxford.

-“É verdade que o senhor recruta gente para eles?, perguntara ele um dia ao seu colega, Flynn.


- Quem vêm a ser exactamente “eles”?


- Os espiões.”




Entra assim, involuntariamente, numa espiral, num torvelinho, numa questão intrincada que mete dinheiro sujo, negro “de sangue”.


E o branqueamento desse mesmo dinheiro sucede num mundo em que “a rua é de sentido único não levando a lado nenhum”- como diz Hector , ao “recrutar” Luke para os seus Serviços.


Leiam! Vale a pena. É um romance bem escrito (como sempre), cheio de peripécias e situações inesperadas... Suspense. http://actu-du-noir.over-blog.com/article-et-c-est-pourquoi-le-carre-est-grand-73909033.html






Notícia sobre John le Carré in Le Monde (Dezembro de 2010) que David John Moore Cornewell concedera ao jornal, em Berna.


Assinalando que "esta pode ser talvez a sua última entrevista", escreve o entrevistador: « Com quase 80 anos (isto foi em Outubro 2010, portanto no próximo Outubro terá 81 anos), no momento em que sai, em Londres, o 22º romance, Our Kind of Traitor, este autor britânico mantém a sua actividade, mas não perde tempo com a publicidade."


Nem aliás com as ”honras” (de facto, pediu que fosse retirado o seu nome da selecção do prestigiado Man Booker Prize). Porque –diz ele- tem ainda livros para escrever, injustiças para revelar, imposturas a denunciar."





Resumo da acção deste romance, em que pretende denunciar certos factos:


Na ilha de Antígua, um oligarca russo ameaçado por rivais que gozam de protecção a alto nível na Rússia, decide contar o que sabe sobre a reciclagem do dinheiro da máfia russa a um professor de Oxford, Perry Makepeace, que ali se encontra em férias com a mulher (Gail), pedindo que seja o mediador entre ele e os serviços secretos ingleses – e pedindo protecção para ele e família.

Verdade? Ilusão falseada? Quem o pode saber ao certo?



A única certeza é o prazer com que se vão virando as páginas do romance até ao fim...

É isso que vamos procurar - e encontrar- , ao ler o livro.
Notícias recentes sobre John le Carré: mais um filme...


o realizador sueco Thomas Alfredson

o actor Colin Firth

Em 2008, o jornal inglês The Guardian anunciou que John Le Carré estava a escrever o guião para adaptar o romance Tinker, Tailor, Sokdier, Spy (1974) para ser dirigido pelo realizador sueco Tomas Alfredson.o actor Gary Oldman



Este estaria em negociações com o actor Gary Oldman para fazer o papel de George Smiley.

O filme que deveria ter saído em Maio de 2011, vai aparecer nos finais do Verão, tendo também outros bons actores como Colin Firth, Ralph Fiennes etc.



Este romance tinha já sido adaptado para a BBC, em 1979, com o grande Alec Guinness no papel de Smiley.

Dois anos mais tarde, retomou o mesmo papel em “Smiley’s People.




Outra notícia: Vi à venda na Livraria Galileo em Cascais a tradução (Dom Quixote) do livro, com o título de "A Toupeira".


http://www.guardian.co.uk/books/2010/sep/12/drug-billions-john-le-carre


(*)
Agente de Sua Majestade, no M16, John le Carré conheceu bem os serviços secretos.


(**) "The Security Service commonly known as MI5 (
Military Intelligence, Section 5), is the United Kingdom's counter-intelligence and security agencyand is part of the intelligence machinery alongside the Secret Intelligence Service (SIS or MI6), Government Communications Headquarters (GCHQ) and the Defence Intelligence Staff (DIS).


All come under the direction of the Joint Intelligence Committee (JIC). The service has a statutory basis in the Security Service Act 1989 and the Intelligence Services Act 1994.


Its remit includes the protection of British parliamentary democracy and economic interests, counter-terrorism and counter-espionage within the UK."



(desculpem não traduzir...)

2 comentários:

  1. Estupendo comentário, simples e conciso.
    Ilusão falseada, preguntas: não sei, também neste campo a realidade supera a ficção, basta lembrar, por exemplo, o caso do Alexander Litvinenko, enterrado num caixão heremético para evitar uma fuga radioactiva.
    Feliz dia de São João, já que estás livre...Aproveita para comer sardinhas à brasa, ver as fogueiras e pedir algum desejo ao santo que leva o teu nome!
    Beijinhos

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  2. Parabens MJ, um post brilhante como sò podem ser os spy-stories de JlC. Nao sabia do novo filme, algo a ver com certeza. Bye&besos

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