Leio devagar um livro sobre Jazz.
Estou ainda a aprender. Gosto de jazz, mas não sei nada, a não ser que gosto de ouvir e que me agrada isto ou aquilo, ou não me agrada...
Parece-me ter um certo “instinto” musical porque normalmente escolho os bons... C'est comme ça...
Lembro-me de andar pela rehov Sheinkin, em Telavive, onde havia pelo menos duas boas lojas de discos.
Perdia-me por lá. Ia com o meu cão Zac sempre, e ele sentava-se lá dentro (os cães podem entrar em todas as lojas e cafés) e ouvíamos, ouvíamos.
Vinha sempre para casa com um ou dois Cds.
Foi assim que descobri Coltrane, Dexter Gordon, Wynton Marsalis, Charles Mingus e Miles Davies.
Os grandes! Para não falar de tantos outros, é claro.
De Duke Ellinghton, por exemplo - que já conhecia daqui.
Em jazz, é quase impossível acabar a lista!
Vem isto a propósito do tal livrinho que vou lendo, ao sabor dos dias, saltitando para trás ou para a frente, sublinhando, anotando nas páginas do fim, para me lembrar mais tarde.
E porque a vida é grande e infinita e os caminhos de Deus são insondáveis - segundo dizem- este livro veio-me parar às mãos, na mão de amigas, as minhas amigas da "Cozinha dos Vurdóns", sempre presentes.
"Tanto mar!", dizia Chico Buarque, e tem razão, mas a distância nada impede quando a amizade e a vontade é forte...
Livro cuja dedicatória amiga dizia simplesmente "que esta viagem musical seja prazerosa” .
O livro é do meu amigo Érico Cordeiro (blog Jazz+Bossas+Baratos), chama-se "Confesso que ouvi".
O livro é do meu amigo Érico Cordeiro (blog Jazz+Bossas+Baratos), chama-se "Confesso que ouvi".
E tem sido uma bela viagem, a ouvir!
Encontro, além de muitos conhecimentos musicais e de jazz em particular, pequenos “toques” de sensibilidade e uma maneira de escrever muito agradável e atractiva.
Um dos textos de que gostei muito é o que escreveu sobre Duke Jordan: “Taxi-driver, um conto de fadas nova-iorquino”.
Irving Sidney “Duke” Jordan , é um pianista de génio que, durante anos, acaba guiando um táxi.
Taxi driver, pois, por necessidade. Depois de ter tido sucesso, passa onze anos atrás do volante e do pára-brisas do seu yellow cab.
A glória ficara para trás. Os tempos em que tocara com Charlie Parker, "The Bird"...
E outros tantos. No rádio do velho táxi, vai pensando sempre.
Lembra esses dias quando “noite após noite, a multidão que se acotovelava nos diversos clubes da rua 52 para vê-lo tocar!"
Duke Jordan, anos 50
Charlie Parker, the Bird
"Bem na verdade eles vinham para ver o seu chefe, o seu amigo, o seu camarada – mas ele não se importava. Bird estava morto havia anos e os convites foram escasseando até parar de vez.” Sintonizou uma obscura estação de jazz. Ouviu : mas ele desapareceu da cena jazzística e ninguém sabe o seu paradeiro atual. Em seguida ouve os primeiros acordes de “Flight to Jordan” .
Era dele que falavam na rádio.
”Não, não existe Cinderela. Você tá acabado, já passou dos cinquenta...”
Comove-se e nós comovemo-nos com ele, enquanto lemos.
“Concentrou-se no trabalho e esforçou-se por ouvir a música apensa com os ouvidos. Ao parar em um sinal, um bêbado mal encarado lançou-lhe um olhar furiosos através do pára-brisas e rosnou: ”Tá falando comigo?”
E continua a jornada do pianista taxi driver.
Lembra os amigos Dizzy, Stan, Reggie, Artie e as gravações feitas. “Flight to Jordan” (“e Dizzy arrebentando no trompete...”), a doce “Star Brite” (“na qual Stan arranca do seu saxofone todo o encantamento que é possível),”Split Quick” (“com os caras se matando para ver quem toca mais rápido...”).
E o fim da noite chega. Volta a casa de madrugada. Vai até ao piano, o ainda imponente Brosendorfer, e começa a brincar com as teclas. Vai tocando.
“Os dedos inicialmente sem ritmo, vão-se amoldando aos poucos. As notas, antes dispersas, começam a se agregar de maneira harmônica e vão formando o contorno sonoro de “I should care”. Outra música que os caras tocaram naquele dia.”
Gostei de verdade. Fui ouvir "I should care", e gostei.
Por isso, quis trazer hoje esse músico delicado, modesto, e de temperamento suave.
Para quem estiver interessado no fim da história (quem não está?), afinal ele é mesmo uma Cinderela!
Em 1973, um produtor dinamarquês Nils Winther convida-o para gravar na sua respeitada casa discográfica “ SteepleChase.”
"A partir desse momento, Duke Kordan pôde retomar a carreira. Mudou-se para a Dinamarca, onde permaneceu até à sua morte, em 2006."
"A partir desse momento, Duke Kordan pôde retomar a carreira. Mudou-se para a Dinamarca, onde permaneceu até à sua morte, em 2006."
E assim é a vida...
Pena que tenha de ter saído do seu país, para ser “redescoberto”! Quantas vezes issso aconteceu. Quantas vezes acontecerá?
A Pátria é ingrata tantas vezes, não é?
http://youtu.be/-YQ_w7s-QDk
http://youtu.be/-IUYOUQtXlE
http://youtu.be/JaSZPipSoVE
http://youtu.be/zKzbLgR9Yl4
http://youtu.be/-IUYOUQtXlE
http://youtu.be/JaSZPipSoVE
http://youtu.be/zKzbLgR9Yl4
Querida MJ Falcão,
ResponderEliminarTer uma leitora tão especial como você é o sonho de qualquer escritor.
Será que o ratinho tem gostado das histórias? Espero que sim.
Muito obrigado por suas palavras carinhosas - é sempre um prazer passar por aqui!
O livro do Érico está agora com a cozinheira 5 - depois passa pra Bertha, eu já lí...AMEI.
ResponderEliminar5 grandes bjs
MJ,
ResponderEliminarGosto muito de jazz. O piano de Duke Jordan não me é estranho mas não o conheço. Devo já ter ouvido no Mezzo que dá muito jazz contrabalançando com a música clássica. Todos os nomes que refere conheço e ouvi. Há uns anitos atrás ouvia mais jazz do que agora mas é intemporal e mexe connosco!
Piano é um instrumento que adoro pelo som que dele emana quando é bem tocado e por razões sentimentais.
Gostei muito deste post.
Parabéns ao Érico Cordeiro pelo livro.
Beijinhos com saudades! :)
Fiquei contente que gostasse, Érico. Gosto realmente do seu livro, se não não falava dele. Ainda tenho mais coisas para dizer até!
ResponderEliminarMinhas amigas, acho que fazem bem, é boa leitura e aprende-se "un sacco", como dizem os italianos!
Olá, querida Ana! Quando volta? Também eu gosto muito da mistura jazz-piano...
Um beijinho a todos!
o falcão