domingo, 28 de agosto de 2011

Duke JORDAN "I should care" (1960): confesso que gostei!












Leio devagar um livro sobre Jazz.


Estou ainda a aprender. Gosto de jazz, mas não sei nada, a não ser que gosto de ouvir e que me agrada isto ou aquilo, ou não me agrada...


Parece-me ter um certo “instinto” musical porque normalmente escolho os bons... C'est comme ça...

Lembro-me de andar pela rehov Sheinkin, em Telavive, onde havia pelo menos duas boas lojas de discos.


Perdia-me por lá. Ia com o meu cão Zac sempre, e ele sentava-se lá dentro (os cães podem entrar em todas as lojas e cafés) e ouvíamos, ouvíamos.


Vinha sempre para casa com um ou dois Cds.


Foi assim que descobri Coltrane, Dexter Gordon, Wynton Marsalis, Charles Mingus e Miles Davies.


Os grandes! Para não falar de tantos outros, é claro.

De Duke Ellinghton, por exemplo - que já conhecia daqui.


Em jazz, é quase impossível acabar a lista!


Vem isto a propósito do tal livrinho que vou lendo, ao sabor dos dias, saltitando para trás ou para a frente, sublinhando, anotando nas páginas do fim, para me lembrar mais tarde.

E porque a vida é grande e infinita e os caminhos de Deus são insondáveis - segundo dizem- este livro veio-me parar às mãos, na mão de amigas, as minhas amigas da "Cozinha dos Vurdóns", sempre presentes.


"Tanto mar!", dizia Chico Buarque, e tem razão, mas a distância nada impede quando a amizade e a vontade é forte...


As mãos chegaram às outras mãos. Quando se quer de verdade, as coisas conseguem fazer-se, acho eu. E o livro cá veio ter.

Livro cuja dedicatória amiga dizia simplesmente "que esta viagem musical seja prazerosa” .
O livro é do meu amigo Érico Cordeiro (blog Jazz+Bossas+Baratos), chama-se "Confesso que ouvi".


E tem sido uma bela viagem, a ouvir!

Encontro, além de muitos conhecimentos musicais e de jazz em particular, pequenos “toques” de sensibilidade e uma maneira de escrever muito agradável e atractiva.


Um dos textos de que gostei muito é o que escreveu sobre Duke Jordan: “Taxi-driver, um conto de fadas nova-iorquino”.
Irving Sidney “Duke” Jordan , é um pianista de génio que, durante anos, acaba guiando um táxi.

Taxi driver, pois, por necessidade. Depois de ter tido sucesso, passa onze anos atrás do volante e do pára-brisas do seu yellow cab.


A glória ficara para trás. Os tempos em que tocara com Charlie Parker, "The Bird"...


E outros tantos. No rádio do velho táxi, vai pensando sempre.


Lembra esses dias quando “noite após noite, a multidão que se acotovelava nos diversos clubes da rua 52 para vê-lo tocar!"


Duke Jordan, anos 50


Charlie Parker, the Bird


"Bem na verdade eles vinham para ver o seu chefe, o seu amigo, o seu camarada – mas ele não se importava. Bird estava morto havia anos e os convites foram escasseando até parar de vez.” Sintonizou uma obscura estação de jazz. Ouviu : mas ele desapareceu da cena jazzística e ninguém sabe o seu paradeiro atual. Em seguida ouve os primeiros acordes de “Flight to Jordan” .


Era dele que falavam na rádio.

Não, não existe Cinderela. Você tá acabado, já passou dos cinquenta...”


Comove-se e nós comovemo-nos com ele, enquanto lemos.

Concentrou-se no trabalho e esforçou-se por ouvir a música apensa com os ouvidos. Ao parar em um sinal, um bêbado mal encarado lançou-lhe um olhar furiosos através do pára-brisas e rosnou: ”Tá falando comigo?”

E continua a jornada do pianista taxi driver.


Lembra os amigos Dizzy, Stan, Reggie, Artie e as gravações feitas. “Flight to Jordan” (“e Dizzy arrebentando no trompete...”), a doce “Star Brite” (“na qual Stan arranca do seu saxofone todo o encantamento que é possível),”Split Quick” (“com os caras se matando para ver quem toca mais rápido...”).


E o fim da noite chega. Volta a casa de madrugada. Vai até ao piano, o ainda imponente Brosendorfer, e começa a brincar com as teclas. Vai tocando.

Os dedos inicialmente sem ritmo, vão-se amoldando aos poucos. As notas, antes dispersas, começam a se agregar de maneira harmônica e vão formando o contorno sonoro de “I should care”. Outra música que os caras tocaram naquele dia.”


Gostei de verdade. Fui ouvir "I should care", e gostei.


Por isso, quis trazer hoje esse músico delicado, modesto, e de temperamento suave.

Para quem estiver interessado no fim da história (quem não está?), afinal ele é mesmo uma Cinderela!


Em 1973, um produtor dinamarquês Nils Winther convida-o para gravar na sua respeitada casa discográfica “ SteepleChase.”

"A partir desse momento, Duke Kordan pôde retomar a carreira. Mudou-se para a Dinamarca, onde permaneceu até à sua morte, em 2006."


E assim é a vida...


Pena que tenha de ter saído do seu país, para ser “redescoberto”! Quantas vezes issso aconteceu. Quantas vezes acontecerá?


A Pátria é ingrata tantas vezes, não é?



4 comentários:

  1. Querida MJ Falcão,
    Ter uma leitora tão especial como você é o sonho de qualquer escritor.
    Será que o ratinho tem gostado das histórias? Espero que sim.
    Muito obrigado por suas palavras carinhosas - é sempre um prazer passar por aqui!

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  2. O livro do Érico está agora com a cozinheira 5 - depois passa pra Bertha, eu já lí...AMEI.

    5 grandes bjs

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  3. MJ,
    Gosto muito de jazz. O piano de Duke Jordan não me é estranho mas não o conheço. Devo já ter ouvido no Mezzo que dá muito jazz contrabalançando com a música clássica. Todos os nomes que refere conheço e ouvi. Há uns anitos atrás ouvia mais jazz do que agora mas é intemporal e mexe connosco!
    Piano é um instrumento que adoro pelo som que dele emana quando é bem tocado e por razões sentimentais.
    Gostei muito deste post.
    Parabéns ao Érico Cordeiro pelo livro.
    Beijinhos com saudades! :)

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  4. Fiquei contente que gostasse, Érico. Gosto realmente do seu livro, se não não falava dele. Ainda tenho mais coisas para dizer até!
    Minhas amigas, acho que fazem bem, é boa leitura e aprende-se "un sacco", como dizem os italianos!
    Olá, querida Ana! Quando volta? Também eu gosto muito da mistura jazz-piano...
    Um beijinho a todos!
    o falcão

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