Uma vez fomos à Praia dos Tamarindos, que ficava um pouco para lá da da Praia das Conchas e da Lagoa Azul.
Lembro- a como uma praia tranquila, formando uma pequena baía fechada.
Um sítio maravilhoso, recatado e cheio do verde das copas dos coqueiros e tamarindeiros que sombreavam a areia e eram um refúgio quando o sol caía a pique. São Tomé, na estação das chuvas, é um sítio onde as temperaturas rondam os 38º e uma humidade que atinge os 90%.
Suávamos o tempo todo, e só dentro de água (ou em casa, quando havia electricidade e o ar condicionado funcionava) conseguia alívio.
Ali, estava-se bem.
Depois de nadarmos na água límpida e sem ondulação, a tarde decorria calma.
Os tamarindeiros eram uma curiosidade para nós, arrancávamos as favas da árvore e comíamos os frutos que estavam lá dentro, como a Dáy nos ensinou.
Suávamos o tempo todo, e só dentro de água (ou em casa, quando havia electricidade e o ar condicionado funcionava) conseguia alívio.
Ali, estava-se bem.
Depois de nadarmos na água límpida e sem ondulação, a tarde decorria calma.
Os tamarindeiros eram uma curiosidade para nós, arrancávamos as favas da árvore e comíamos os frutos que estavam lá dentro, como a Dáy nos ensinou.
Engraçado ver como em São Tomé os frutos estão protegidos por várias películas, com grossas cascas por fora, com certeza para evitar que o fruto apodreça depressa, ao calor.
Por exemplo, o cacau que tem uns “grãos” envoltos numa pele branca e cheiram a chocolate quente.
E a jaca - fruto que veio da Índia como tantos outros em São Tomé (os tamarindos que seriam “tâmaras da índia")- é um fruto enorme, como uma enorme melancia pendurada da jaqueira.
E a jaca - fruto que veio da Índia como tantos outros em São Tomé (os tamarindos que seriam “tâmaras da índia")- é um fruto enorme, como uma enorme melancia pendurada da jaqueira.
Num talho rápido com o machete, o Sr. Semedo abria-a ao meio. Vinha até nós um perfume fortíssimo e adocicado e surgiam os gomos do fruto, brancos e carnosos, que pareciam pétalas de nardo, envoltas numa cola amarelada que se agarrava aos dedos.
Como se o fruto devesse a todo o custo ser protegido como riqueza rara. Pouco tempo depois de aberto, o cheiro adocicado passava a ser enjoativo, quase insuportável, quando se abria o frigorífico.
Como se o fruto devesse a todo o custo ser protegido como riqueza rara. Pouco tempo depois de aberto, o cheiro adocicado passava a ser enjoativo, quase insuportável, quando se abria o frigorífico.
Mas as pétalas de nardo, guardadas em tigelas de água, mantinham o mesmo sabor.
Lá dentro, estava a semente que fazia lembrar os caroços das nêsperas. Mas tão diferente na forma, na cor, no cheiro.
O tamarindo era diferente no formato e no interior não me recordo de haver qualquer película a protegê-lo, e se tinha um cheiro especial não me ficou...
De repente, nas águas azuis apareceu rápida uma sombra.
Eu já tinha saído e estava a enxugar-me na areia. O Zac e a Dáy brincavam às corridas pela praia.
O tamarindo era diferente no formato e no interior não me recordo de haver qualquer película a protegê-lo, e se tinha um cheiro especial não me ficou...
De repente, nas águas azuis apareceu rápida uma sombra.
Eu já tinha saído e estava a enxugar-me na areia. O Zac e a Dáy brincavam às corridas pela praia.
Dei um grito. A Gui, na água, virou-se para mim, assustada. Depois viu a sombra que se aproximava dela e começou a bater os pés com força.
Suspense!
Acho que pensámos nos tubarões de areia, os pequenos tubarões adormecidos na Praia de São Tomé, debaixo da areia, perto do sítio onde vai desaguar o Água Grande, ba Praia Perigosa...
Mas não era um tubarão!
Da sombra surgiu um corpo fusiforme, sinuoso e ágil, em contorções contínuas, fazia lembrar uma lampreia ou uma enguia grande, antes de cozinhada, claro.
Eu não tirava os olhos da água, fascinada, e o Zac ladrava completamente enlouquecido.
A Dáy desta vez, pôs-se aos gritos, com as mãos a tapar a boca:
- Sai da água, Gui!
E, virada para mim:
- Dôtôrra, é môrea! Morde muito! Arranca bocado de braço...
Era uma moreia!
Lembro a boca redonda cheia de dentes bicudos, aguçadinhos formando fileiras concêntricas, e o corpo brilhante e negro.
Da sombra surgiu um corpo fusiforme, sinuoso e ágil, em contorções contínuas, fazia lembrar uma lampreia ou uma enguia grande, antes de cozinhada, claro.
Eu não tirava os olhos da água, fascinada, e o Zac ladrava completamente enlouquecido.
A Dáy desta vez, pôs-se aos gritos, com as mãos a tapar a boca:
- Sai da água, Gui!
E, virada para mim:
- Dôtôrra, é môrea! Morde muito! Arranca bocado de braço...
Era uma moreia!
Lembro a boca redonda cheia de dentes bicudos, aguçadinhos formando fileiras concêntricas, e o corpo brilhante e negro.
O Zac, em terra, furioso, percebia o perigo. Ladrava mais do que das outras vezes, ele que detestava qualquer praia e qualquer tipo de água, a começar pela do banho...
Batendo com força nas águas, agitando pernas e braços a Gui saiu do mar.
Fugimos as três da beira-mar refugiando-nos no jeep, de armas e bagagens, com a sensação de que aquela cobra horrível nos perseguiria mesmo cá fora...
Nunca mais voltámos a tomar banho na praia dos Tamarindos.
(*) Tamarindeiro é uma árvore leguminosa e frutífera originário da África equatorial e da Índia. Cultivado em climas quentes ou temperados, é uma árvore muito decorativa, com um fruto –o tamarindo- que parece uma fava.
"Tamarindo" vem do árabe tamr hindī (em português,” tâmara da Índia”), através do latim medieval tamarindus: daí a denominação do género, em latim científico, Tamarindus .
Bolas! Que até eu me assustei...
ResponderEliminarGrande susto deve ter apanhado, Maria João!
Nunca tinha ouvido falar no Tamarindeiro.
Quantas coisas interessantes tem para nos contar.
As fotos são muito bonitas.
Como nos filmes de suspense:um local perfeito, mas...tcha,tcha,tcha,tchan...o perigo espreita sem ninguém desconfiar...
(Acho que ando a ficar influenciada pelos seus livros de mistério!)
Brincadeira...
um beijinho
Deliciosa esta história, para mim, mais linda do que a anterior! Não sei, talvez sejam as fotografias, a praia parece mais bonita!
ResponderEliminarComo eu gostava de conhecer S. Tomé!
Não sei porquê mas lembrei-me das lichias e não tem nada a ver.
Nunca vi cacau em planta, deve ser linda. E hoje estou muito parca de adjectivos,
Julgo que o post que vem a seguir é o responsável, "O Sonho de Uma Noite de Verão" que me encanta.
... Não, são mesmo o texto e as imagens que me fascinam. Vou parar pois estou a ficar insuportável.
Beijinhos! :)
Quando a gente come tamarino até a alma arrepia. É um gostinho azedo de doer os dentes. eu particularmente procuro todo ano, no interior se pega no pé, já na capital se compra. A parte boa é que jaca tem por aqui pra dar, vender e emprestar, tem pé pra todo lado.
ResponderEliminarBom ver esse seu post, duas frutas que gosto muito, de sabor exôtico e único. Você gostou?
bj grande
Lindíssima a Praia dos Tamarindos, até o nome é sugerente, só que imaginar-me no lugar da Gui " me pone los pelos como carpias".
ResponderEliminarEstou na Albufeira, amanhã volto para casa, um beijinho dado à pressa.
Praia demasiado deslumbrante pra ser utilizada por uma moreia sò. Moreia egoista! ;-)
ResponderEliminarBom dia :)
ResponderEliminarAtravés de uma pesquisa por fotos da Praia dos Tamarindos, vim até este cantinho e este texto "deliciou-me" :) o que eu já ri a propósito da moreia, nossa senhora!! O medo que eu tive dos tubarões tigre, imaginem só o que eu fazia se me aparecesse uma moreia!! Seria uma cena linda de se ver!!! Deus ma livre!!! Praias lindas e eu mariquinhas, usufruí muito pouco. Mas quero lá voltar :) quem lá vai, volta sempre :)