Íamos em direcção ao Sul da ilha: Gui, a Dáy e eu, no velho e saudoso jeep UMM.
Tinha chovido nos dias anteriores e a terra, dos lados da estrada, estava empapada de lama.
Antes de chegarmos à vila de Santana, passámos pelo Miradouro onde muitas vezes parávamos.
Era impossível entrar na pequena esplanada debaixo do grande caroceiro onde costumávamos sentar-nos, debaixo da sua sombra protectora, na estação da Gravana. A ver o mar lindo e tudo em redor. Ali bem perto o ilhéu das Sete Pedras, mais adiante Santana debruçada sobre o mar, e a costa que desfilava recortada até São João dos Angolares.
A vegetação, que as chuvas tinham feito crescer, estava alta e cobria o chão. Os bichos escondiam-se por debaixo da folhagem.
Passámos sem parar no caroceiro e, uns bons quilómetros adiante, descemos por um carreiro inclinado, que ia dar à praia.
Praia Pomba? Praia Banana? Praia das Conchas? Praia sem nome? Enfim, era uma praia longe de casa e já não me lembro do nome dela. Deserta, parada no tempo, longe de tudo, a areia branca e fina, e o mar de água azul-turquesa e transparente.
Tomámos banho, nadámos e ficámos a ver o mar enquanto a Dáy corria atrás do Zac pela areia fora.
O Zac fugia das ondas, ladrava e refugiava-se no jeep. Nunca percebi como ele conseguia saltar pela janela que era tão alta!
Depois de chamar por ele, por vezes convencida que se tinha perdido, via aparecer a cabecinha dele à janela, com o focinhito esperto e um ar ingénuo a fingir que não tinha feito nada de mal.
Anoitece cedo em S. Tomé e a noite cai sem darmos por ela a seguir a um breve crepúsculo.
Quando decidimos voltar para casa, já o sol se escondia no mar.
Tentámos pôr o jeep em marcha, iniciando a subida, mas ele começa a patinar, resvala, atola-se na lama, com as rodas a girar em vão. E vai descaindo lentamente.
Eu e a Dáy fomos à procura de ramos de andala secos, caídos das palmeiras e por ali espalhados.
Atravessávamo-los por debaixo das rodas, mas no mesmo momento se quebravam, rilhados pelos pneus.
Ninguém em volta. O silêncio era completo. Só o barulho suave das ondas.
A estrada lá em cima, não estava longe, mas parecia-nos inatingível.
E a noite cai.
Habituadas a outras aventuras, juntas, nunca fomos do género de entrar em pânico. Pelo contrário, do “tipo aventureiro”, sonhamo-nos verdadeiras wonder women, prontas a entrar em acção como o James Bond.
E a Dáy era demasiado miúda e inocente para se aperceber do perigo e se assustar.
Imobilizadas, sem modo de avisar fosse quem fosse, sabíamos que dependia só de nós sair dali.
A Gui deixou o jeep, destravado, ir devagar pelo atalho de areia, até chegar junto à beira da água.
Tinha de haver outra saída!
Parecera-me ter visto um caminho, do lado oposto ao que escolhêramos para descer. Avançámos nesse sentido, na areia molhada e dura. Lá estava uma rampa pedregosa que subia até lá acima.
Nesta vertente não havia lama. Era um caminho de calhaus soltos, polidos pelas torrentes que desciam vertiginosas para o mar, na estação das chuvas, arrastando tudo atrás.
Pelo menos tinham a vantagem de não furar os pneus, coisa frequente nos caminhos de S. Tomé, logo que se saía da estrada principal e se ia pela picada.
O jeep aguentou, às vezes todo inclinado de lado quando se procurava evitar os bocados mais escalavrados do carreiro.
E eis-nos de volta à estrada maestra!
Respirámos fundo.
A Dáy ria às gargalhadas e batia palmas.
Chegámos a casa já a noite caíra há muito e, em casa, havia grande preocupação.
Dissemos apenas, de modo vago, que tínhamos perdido o sentido das horas...
Parabéns pela maravilha de texto... tão lindo como essas paragens!
ResponderEliminarGrande aventura!
ResponderEliminarParece que estou a ver as cenas todas...e a risota final, com o Zac ali à voltar a ladrar...(ou não).
Gosto muito das suas histórias e da ternura que coloca em cada uma delas.
Um abraço
recordar é buscar forças. Estou feliz.
ResponderEliminarbjs - sempre cara amiga.
Estas históris maravilhosas, hoje com os telemóveis não têm graça nenhuma.
ResponderEliminarAdoro a chuva, mas no verão mais, e tomar um banho de mar a chover, num dia de grande calor, é uma experiência que toda a gente que possa deve provar alguma vez.
Porquê há coisas que suben tanto a adrenalina?Pelas nossas raízes na selva virgem e cheia de perigos que tinham aos nossos antepassados sempre em vilo. Que interessante é tudo isto...
MJ,
ResponderEliminarGostei desta aventura, das imagens e do carinho com que conta as histórias.
É bom vir aqui. Neste momento ando tão concentrada noutras coisas que julgo perdi a criatividade.
Um grande beijinho e parece que estou a ouvir o mar e a cheirar esse calor. :)
Histórias fantásticas, querida amiga. Cresce em mim o desejo de conhcer África. Essa África da ternura e dos afectos.
ResponderEliminarBeijos
Luísa