Ir parar ao mundo dos andróides de Blade Runner? O futuro incerto, o medo do que "aí vem", o desespero evidente de alguns será a realização próxima de uma qualquer “ficção científica” de horror?
A desumanidade galopante, o "ter" sem pensar no "ser". Os que concretamente nada "têm" e tudo receiam. A humilhação dos que não encontram um trabalho. A dificuldade de viver.
A falta de solidariedade, o arranjismo de tantos, o egoísmo, a indiferença galopantes. Um mundo de "andróides"?
E pensei em Blade Runner...
Vem isto a propósito de uma artigo de Jean-Claude Guillebaud no Nouvel Observateur:
“Um medo obscuro habita este fim de Verão. Transparece na imprensa, ronda nos comentários. Indo de crises em revoltas, de atentados múltiplos em guerras inacabadas, de desamparo político à cólera dos indignados, sentimos que algo se “desfez” no mundo –para retomar a expressão de Albert Camus.
Se a banca está em crise a democracia também, que sente dificuldade em retomar o pulso.” Guillebaud teme o regresso de contra-filosofias “bárbaras”.
"Hoje rivalizam no planeta duas forças a que um antigo conselheiro de Bill Clinton (Benjamin Barber) chamava o McWorld, de um lado, e do outro o Djihad. De um lado, a brutalidade da sociedade mercantil, da razão calculadora aliada a um cientismo ávido. Produzinho uma forma tóxica de mundialização, este primeiro “processo” fora de controle brutaliza as gentes, destrói as culturas, humilha milhões de cidadãos e priva-os de esperança.
Do outro lado, uma resposta igualmente bárbara, o “Djihad”, palavra hoje tomada como metáfora.
Não só o estreito terrorismo islâmico, mas também todas as formas de crispação identitária, de grupos fechados, de micro-nacionalismos odientos (que) que conduzem ao pior.”
Não só o estreito terrorismo islâmico, mas também todas as formas de crispação identitária, de grupos fechados, de micro-nacionalismos odientos (que) que conduzem ao pior.”
E acentua o articulista: “alimentando-se um do outro e fortificando-se reciprocamente”. (...)"Agindo confusamente e sem união no meio disto tudo, as democracias ocidentais não compreenderam ainda que entrámos num mundo radicalmente “outro”. E perigoso.
A questão urgente é esta: que mundo queremos construir? Ou salvar?”
Ou resta-nos "voltar ao futuro", com “Blade Runner”?!
Vi o filme há muitos anos e pouco me lembro. Ficou-me a ideia de um mundo nebuloso e aterrador em que o perigo rondava, algo de apocalíptico e medonho...
Assustador. Desolado. Sem esperança.
A sociedade de ficção científica que aponta para um futuro desumanizado, sem valores. Dominada pelo medo do “outro” inominável, desconhecido?
Cheio de perigos. Em que nada fica de pé. Em que os homens reagem como bichos e vivem como bichos.
Nos tectos dos arranha-céus, como vagabundos sem nada de humano, lembrando aves de rapina.
Sozinhos. Perdidos. Sem esperança?
Sozinhos. Perdidos. Sem esperança?
Ou será que ainda podemos salvar o mundo?!
Blade Runner (em Portugal “Perigo Iminente”, no Brasil “O caçador de andróides”), filme de Ridley Scott de 1082 baseado num livro do escritor de ficção científica.
o realizador Riddley Scott
Philip Kindred Dick
O escritor é Philip Kindred Dick (PKD) e o livro intitula-se "O mundo dos andróides" (em inglês: “Do Androids Dream of Electric Sheep?”, à letra: “Os andróides sonham com carneirinhos eléctricos?”).
Imagina a cidade de Los Angeles no ano de 2019.
Assusta um pouco pensar como será o futuro.
ResponderEliminarDesumanização, consumismo, violência...
Haverá ainda um caminho?
Querida Falcão,
ResponderEliminarCada trecho que percorremos nos levam a muitas possibilidades e cada um de nós, seu próprio condutor. As possibilidades crescem por minuto, hoje são os humanos que não acompanham. por enquanto luto pelas nossas 220 crianças e choro pelo novo número na África - 500 mil crianças. Tomara DEVEL nos dar a chance de reconstruir o pedaço dele dentro de nós - acho que perdemos isso. Se lembra da nossa idéia de plantar flores? Vamos fazer um jardim cara amiga. As flores não nos podem arrancar, nunca.
mil bjs de todas nós
São interrogações tão pertinentes quanto urgentes. A ponderação de uma alternativa apocalíptica não poderá representar uma opção individual e muito menos colectiva. Resta reunir vontades e esforços para que o desfecho seja de esperança e prosperidade.
ResponderEliminarVi este filme vezes sem conta, e de cada vez que o vejo, encontro sempre algo novo na sua mensagem. Quem somos, de onde vimos e para onde vamos é a pergunta eterna e sem resposta, mas que PKD no seu livro nos oferece algumas pistas para nos questionarmos.
ResponderEliminarQuerida MJ Falcão,
ResponderEliminarCreio que nada simboliza melhor a ganância e a indiferença humanas que a existência de bilionários em um mundo onde milhões de pessoas morrem de fome.
A globalização proposta e executada pela dupla Reagan Tatcher nos anos 80 destroçou a idéia de um mundo baseado na fraternidade e na solidariedade, para encaminhar as sociedades ocidentais para um ideal de consumismo, individualismo e hedonismo (mas um hedonismo careta, baseado unicamente no "ter" sempre mais).
Não sei se essa humanidade anestesiada e impregnada desses valores já há duas gerações vai ter forças para retomar as rédeas da democracia ou se iremos todos sucumbir à barbárie.
A sociedade proposta por PKD está cada vez mais próxima de nós.