A K. estuda Direito com forte garra e determinação, pondo a sua poesia ao serviço das matérias áridas e difíceis, por que se apaixonou.
Manuel d'Assumpção, Dom Quixote
Talvez pelo sentimento profundo de justiça quixotesco que sempre senti nela - e pela consciência da injustiça deste mundo...
E lá vão ambas, tentando conciliar o estudo, as boas notas, com o trabalho duro, os part times acrescentados no fim de semana, para ajudar ao fim do mês.
Admiro estas mulheres!
Veio devagarinho, com o seu olhar de coelhinho, ou de corça, nos seus sete anos de menina inteligente, observando tudo, e caladinha
O tempo correu rápido, há seis anos ou mais desde que as conheci, talvez três desde que a Valéria apareceu cá por casa.
E ficámos amigas.
De facto, quanto sentimos que éramos amigas passaram a vir a minha casa. Eu gosto de conversar com elas, de as ouvir, de aprender no que me contam o duro mestiere de viver, estudando e trabalhando e tomando conta da casa. A mãe está em Angola e lá por casa ainda há mais dois irmãos novitos.
Discutimos de tudo, dos sonhos de que não querem desistir (ir para Angola ajudar a terra delas? Onde é mais útil ficar?), das tristezas, das ilusões que não querem perder.
Eu digo-lhes o que estou a escrever, trocamos livros, mostro-lhes os desenhos que dantes fazia...
Penso que, apesar de hoje nos tratarmos por tu, elas acham que eu sou sempre a professora e sentem confiança em mim. Eu também tenho confiança nelas.
E lá vêm quando podem, um sábado ou um domingo em que as “folgas” das duas coincidam.
Da última vez trouxeram elas o lanche e fizeram o jantar, porque eu estava doente. Sempre atentas e afectivas, foi bom vê-las outra vez.
A Valéria quando chega põe-se a um cantinho a ler os livros e revistinhas que vou cá guardando para ela.
Mas antes, abraça-se a mim com força (mal me chega ao peito), e diz: "tinha muitas saudades da professora". E dá um grande suspiro.
Às vezes adormece no sofá, enquanto falamos. Agora já é amiga do ratinho, até levou para casa umas histórias dele que eu tinha imprimido para ler.
O ratinho entretanto trouxe a fruta só para ela.
Agora anda agarrado ao retrato do Sherlock Holmes, muito interessado. Já vi que tenho que voltar a reler o Conan Doyle para ele ficr contente...
Disse-lhe: “dou-te o livro, Valéria, mas não sei se o consegues ler. Guardas lá em casa...”
A Valéria, o ratinho, o quotidiano em part times da conversa entre amigas deixou-me maravilhada. Não conheço ninguém como a MJ. Que relato mais bonito!
ResponderEliminarO desenho do anjo é lindo demais, merecia um post isolado e evidenciado, é lindo, lindo com movimento. MJ, tanta coisa para conhecer e partilhar.
Agradecida! :)
Beijinhos.
Mj,
ResponderEliminarO desenho que apelidei de anjo, será a Vitória de Samotrácia?
Obrigada, Ana. Conhecer estas miúdas foi muito bom para mim, como percebeu...
ResponderEliminarO meu anjo pretendia de facto ser a Vitória de Samotrácia (um pouco gordinha), copiada de uma "cópia" que o meu pai tinha comprado em Paris! DEvia estar de férias nessa altura lá na Serra e copiei-a, acho que é de 89. Hoje a Vitória é minha e gosto muito dela...
Bom fim de semana!
Maria João,
ResponderEliminarAcho que a Poesia, a de verdade, é esta ternura que tece as ligações entre gente que é pessoa.
Obrigada...
Beijinhos
Luísa
As história de amizade que perdura são sempre emocionantes.
ResponderEliminarCordial abraço,
mário
Maria João,
ResponderEliminarA Luísa disse-me para vir ver o seu Blog, falou-me da poesia que põe naquilo que escreve e recomendou-me este seu post da Valéria e do ratinho.
Adorei e vou passar a ser um seu leitor.
Deixo os meus cumprimentos para si e para o Manuel.
Raul de Amaral Amaral Marques
Obrigada, Raul, fico contente!
ResponderEliminarUm grande abraço nosso também
M.J