Por detrás do lugar onde me sento, o Sherlock Holmes...
Por detrás de cada barreira surge o céu, o incontornável o azul, estava a pensar hoje...
Inevitável voltar às minhas velhas paixões policiais e lembro Londres e o grande Sherlock Holmes, cuka casa fui ver na Baker Street - que hoje me parece ingénuo, cheio do seu cientifismo e do seu rigor, da observação e do seu infalível método dedutivo.
Inevitável voltar às minhas velhas paixões policiais e lembro Londres e o grande Sherlock Holmes, cuka casa fui ver na Baker Street - que hoje me parece ingénuo, cheio do seu cientifismo e do seu rigor, da observação e do seu infalível método dedutivo.
(Não devemos no entanto esquecer que Conan Doyle, o seu criador, além de médico era um ...espiritista)
Sherlock, o Dr. Watson, figuras que faz bem encontrar na vida dos sonhos. Até o malvado Professor Moriarty me parece outro, perante a barbaridade da violência gratuita que grassa, vulgar, no sadismo de certos livros e de certas imagens.
Apetece-me pegar noutros livros de outros escritores: em Raymond Chandler, Dashiell Hammett, S.S. Van Dyne ou Dorothy Sayers, ou Mignon Reinhardt...
Hoje reabri um livro de Hartley Howard (Harry Carmichael ou Leopolld Horace Ognall) e disse para mim, deliciada: "como escreviam bem aqueles americanos "
Recorriam a tão poucos artifícios e, no entanto, davam os ambientes, apontavam os traços mais fortes das personagens e davam-nos a tal sensação de suspense, de evasão que procurávamos neles.
Ora leiam o princípio de “A Carta Fechada” (“The Sealed Envelope”, 1979, ano da sua morte), de Hartley Howard:
“Se nem todas as pessoas são boas, também nem todas são más.
A maior aparte delas é idêntica à restante, até no modo em que é sujeita a uma pressão física ou moral. Só então se vê como reage e qual o estofo de que é feita.
Isto vem a propósito de um indivíduo chamado David Calhoun que encontrei num dia de temporal. Foi nesse mês de Março que tudo começou.
Soprava um vento frio, do Árctico, nessa manhã em que deixei Nova Iorque para dar um salto à província. Sob um céu azul nebuloso, rumei, numa paz relativa, até Leonora onde cheguei às dez e meia.”
A maior aparte delas é idêntica à restante, até no modo em que é sujeita a uma pressão física ou moral. Só então se vê como reage e qual o estofo de que é feita.
Isto vem a propósito de um indivíduo chamado David Calhoun que encontrei num dia de temporal. Foi nesse mês de Março que tudo começou.
Soprava um vento frio, do Árctico, nessa manhã em que deixei Nova Iorque para dar um salto à província. Sob um céu azul nebuloso, rumei, numa paz relativa, até Leonora onde cheguei às dez e meia.”
Esses romances não precisavam da violência, misturada de sexo, corpos cortados a bisturi, rasgados, violados, de olhos arrancados, autópsias pormenorizadas. Ou filosofias, mais ou menos profundas, de pseudo-psiquiatrismo, na catalogação dos tarados e outros serial killers.
Sei que, infelizmente, estes romances -de muitos dos novos autores policiais americanos e sobretudo dos nórdicos- retratam mentes e atitudes que são um “produto” da sociedade violenta e impiedosa em que nos movemos hoje.
Em que ninguém e nada se respeita.
Basta olhar as imagens dos nossos telejornais...
Que pureza havia, afinal, nos detectives da pulp fiction, sempre sem saldo no banco ao fim do mês, calcorreando ruas a pé ou de autocarro.
Naqueles “duros”, de coração tão terno. Na grande humanidade e compreensão – quase ternura, diria - de um Marlowe ou de um Bowman ou de um Sam Spade.
No modo como observavam o crime e o investigavam.
Na quase tristeza perante os homicidas e as suas vítimas.
Mas por detrás de cada barreira, de cada desilusão, surgia o céu, o incontornável céu azul...
Escrita essa que nos "agarravam" ao livro do início ao fim.
ResponderEliminarAdorei o post.
Beijinho!
Acho que sempre souberam disso e foram bons em passar pelas barreiras. Se existem podem sim ser transpostas. Vou pegar uns filmes nesse final de semana, as vistas não andam tão boas para muitos livros, acho que serão filmes assim, parecidos com essa sua impressão deles.
ResponderEliminarbjs cara amiga.
MJ,
ResponderEliminarGosto muito do Conan Doyle, li os livros na minha adolescência.
Li também Dashiell Hamett, Rex Stout, Agatha Christie, George Simenon... não me lembro de mais. Julgo que nunca li Hartley Howard.
Não fui a casa-museu de Sherlock Holmes mas tenho pena!
Obrigada por este post interessante.
Beijinhos! :)
Maria João,
ResponderEliminarTexto fantástico e inesperado! Passar do azul ao policial não é para todos… Penso no azul-azul e no azul com andorinhas. Ouvi ontem o discurso que Eduardo Lourenço fez na sua aldeia (via blog Café Mondego) e a minha infância avivou-se com muitas andorinhas à mistura – e muita, muita liberdade. Ora, eu associo romances policiais a prazer e a liberdade(s). Conhece alguém que leia policiais por dever?!...(como aquelas obras entediantes que é preciso ler/ter lido/vir a ler…). Acabei de ler – em cenário propício - um romance MAGNÍFICO, na linha de The Moonstone, de Wilkie Collins: The Suspicious of Mr. Whicher or the Murder at Road Hill House,by Kate Summerscale. A excelente introdução refere o “victorian detective” (o super Holmes, acima de todos) como “secular substitute for a prophet or a priest”. Recomendado por um amigo de Roma…via sms, tal foi o entusiasmo dele (Obrigada, Giorgio!). Fica a sugestão. Obrigada e parabéns!
Beijinhos,
Lurdes
Há arte com muita violência sem vulgaridade, penso em Kubrick, em Tarantino e em tantos clássicos do terror, ou até no Dostoievski de Os Demónios.
ResponderEliminarNão sei o que queres dizer com pseudo-psiquiatrismo,a acção e o pensamento são inseparáveis, com o qual todos temos direito a fazer perguntas e a procurar respostas.
Os telejornais marcam a diferença com o passado: agora tudo se sabe ( ou quase tudo, ainda passam muitas coisas na sombra, infelizmente).
O termómetro marca 36 graus, sopra o vento do Levante, que aqui é o pior, não posso ainda ir tomar o meu café, e tenho vontade de implicar, assim que fico-me por aqui.
Te sigo queriendo
Sabia que ias entender, Lurdes, ou não fôssemos "especialistas" do assunto. Vou ver se arranjo esse livro...Querida Maria, Também eu gosto do Kubrick e do Tarantino, e adorei livros violentos (A Sangue Frio, do Capote, por exemplo, que é uma boa pancada no estômago...) mas tens razão é a vulgaridade que choca e desgosta, não me exprimi bem.
ResponderEliminarAmigas dos vurdóns: boa ideia para descansar! Eu i ajá buscar "O Falcão de Malta"!
Ana, tem de ir à Baker Street da próxima vez!
beijinhos e muito azul...
Um beijinho,
O Falcão de Malta é pra já.
ResponderEliminarbjs grandes