quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Morreu Bobby Farrell, bailarino e cantor dos "Boney M."

Morreu hoje Bobby Farrell, o cantor e dançarino da conhecida banda de pop music dos anos 70, a "Boney M."

Nascido nas Antilhas holandesas, em 1949, aos 15 anos sai de Aruba para ser marinheiro. Viveu na Noruega, na Holanda e na Alemanha.
Tinha 61 anos de idade e foi encontrado morto no seu quarto de Hotel, em São Petersburgo onde se encontrava em tournée. Tinha actuado na noite de quarta-feira e preparava-se para partir hoje para Itália onde daria outro concerto.


"Encontraram-no morto na cama esta manhã”, declarou o seu agente, John Seine, por telefone, de Heemstede (norte da Holanda), precisando que a "causa da morte não era conhecida” .
O agente acrescentou que o cantor tinha dado um espectáculo na quarta-feira e que “não se sentia bem (...). Esta manhã não acordou...” (Le Monde, edição online)
A notícia foi dada pela agência ANP, que John Seine informou.


Segundo as autoridades russas, "o corpo sem vida de um cidadão holandês, nascido em 1949, foi encontrado num quarto do hotel Ambassador, na avenida Rimski-Kórsakov, cerca das 9.00 hora local".


Desconhecem-se de momento as causas da morte, afastando-se porém a ideia de morte violenta.
As autoridades russas comunicaram: “estamos a fazer uma investigação sobre o assunto.”


“Bob Farrell –nome completo Roberto Alfonso Farrell-, residia na Holanda. Nacido em 6 de Outubro de 1949 em Aruba (nas Antilhas), foi solista do mítico grupo criado pelo produtor alemão Frank Farian. Somou-se em 1976 ao grupo alemão, composto por outras três cantors. Boney M. triunfou, teve êxitos internacionais como Sunny, Ma Baker, Rivers of Babylon ou ainda It is Holi-holiday .
Chegou a vender mais de 150 milhões de discos em todo o mundo.” ( El país, edição online de hoje)

Deixo-vos um "video" dos "Boney M." para recordarem, e o meu link onde encontrarão a canção "Sunny" interpretada pelo guitarrista Greg Howe.

De momento, tornou-se impossível o acesso aos videos do youtube em que participava o cantor. É já o novo ídolo "morto"...
http://www.youtube.com/watch?v=Nm1g8FFRArc
http://falcaodejade.blogspot.com/2010/01/musica-ouvir-greg-howe-e-sua-guitarra.html

Neste final do ano 2010: lembrar a importância dos gestos e da amizade...

Um pouco de alegria e beleza e amizade...no filme "Some like it Hot"

No fim e ao cabo, os gestos (pequenos ou grandes) importam! E as palavras também, à falta de poder realizar por vezes os "gestos"...

Oiçam esta história que conta o meu amigo Mr. Butterfly, no seu blog "Borboletas de Jazz" (que volto a aconselhar!):

"Em sua autobiografia, Ella Fitzgerald revelou que a amiga e fã Marilyn Monroe deu um empurrãozinho em sua carreira.

A "pin-up" prometeu ao dono do "Mocambo Nightclub", de Los Angeles - uma importante casa de shows nos anos 50 - que, se ele contratasse a cantora para uma temporada, ela, Marilyn Monroe, iria aos shows todas as noites, atraindo atenção da imprensa para a casa.
Acordo feito, não só o Mocambo como também Ella Fitzgerald freqüentaram por vários dias o noticiário..." , termina com um certo humor Mr. Butterfly.

a casa de Ella, na Murdock Avenue
"Depois disso, nunca mais precisei cantar em pequenos bares", contou Ella.
O que para uma cantora de jazz naqueles tempos era a única possibilidade de "sobreviver"...
Marilyn não "precisava" ter feito isto. Era suficientemente famosa e desejada a sua presença em toda a parte para não ter necessidade de "ajudar" fosse quem fosse.
No entanto -e isto abona desde já muito em seu favor, mesmo sem ler os seus textos da Autobiografia- ela quis que Ella Fitzgerald, que considerava uma grande cantora e uma personalidade notável, tivesse o seu quinhão de sorte: pudesse ser ouvida e apreciada, sem ter de andar a cantar de bar em bar.
Marilyn e Ella

Parece que Marilyn se caracterizava pela generosidade inconsciente, para além do que era aconselhável. Mas há limites para a generosidade?

A amizade que as duas conservaram ao longos dos anos prova que os gestos "valem a pena"!

"Encontrar um amigo é encontrar um tesouro", dizem. Basta lembrar Clavin & Hobbes...

Mas para encontrar um amigo tem que se ir ter com o amigo, compreendê-lo e ajudá-lo se ele precisar.
Truman Capote foi outro dos seus amigos (foto em baixo), um amigo pouco fácil segundo contam, mas que ela nunca abandonou.


Por sua vez, Paula Strasberg, mulher de Lee Strasberg, foi com o marido uma das melhores amigas dela, que a protegeu, aconselhou.

Ajudar quem precisar, sem pensar em nós próprios, na nossa comodidade, no nosso sossego e egoísmo nem sempre é fácil... mas não é impossível!

Um "hurra!" por Marilyn!

Depois disto, pensei que as coisas que se dizem também contam muito...
Dizia o escritor André Gide que nenhuma palavra é dita em vão.
Assim, escolhi algumas frases de que gostei.
***
Manuel Vicent, no "El país", onde é jornalista há muitos anos:
Ao falar do ano que passou refere "a lei e a crueldade da selva e a selva humana."

No entanto, continua ele: "no meio deste absurdo cósmico, há também espaço para ouvir uma sonata de Bach, existe ainda a glória das flores sobre o esplendor da relva (...).
Se o mundo está tão mal feito, resta no entanto ao alcance de quaqleur de nós a possibilidade de o reinventar. Basta criar frente à morte (e à indiferença, acrescento eu) um instante de beleza, a compaixão em troca de nada..."
***
Outras frases que me animaram:
*
"Pobreza é ficar indiferente..." no interessante blog "Homeopatas dos Pés Descalços" *
"O Ano Novo vai ser o que nós quisermos! ", in blog "Orquídea" (Carlota Pires da Costa)
***
Haveria muitas mais palavras a citar, porque as pessoas são muito melhores do que certa "selva" que por aí se encontra quer fazer acreditar que são e a generosidade existe!
Vamos continuando a falar... Combinado?

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Lucky Luke Daisy Town - English (1971) 4/8

Se procurarem há mais...

Lucky Luke, Jollly Jumper, os irmaos Dalton e o Novo Ano 2011...

Saiu um novo livro de aventuras da B.D. do Lucky Luke (*). Chama-se "Lucky Luke contra Pinkerton".
Fui comprá-lo logo...

Acho que os bons sentimentos, io “lonely cowboy” pelas estradas da Califórnia (?), as saudades dos fimes de John Ford com o John Wayne me faziam falta.


Lá vai o solitário que chega devagar como num spaghetti western, em cima da sua égua Jolly Jumper, ele com uma beata ao canto da boca, ela de flor atravessada nos dentes.

Atrás, por vezes, fica o cão Rantanplan, o eterno iludido, o cão mais parvo do mundo.

Penso que hoje já lhe tiraram a beata da boca (foi até já há uns tempos...) e lhe puseram um raminho (não de salsa, felizmente...) de ervas.
Pobre Lucky Luke, “politicamente” correcto”, obrigado -como tantos outros mortais hoje pelo mundo fora- a esconder-se num cantinho do saloon para fumar o cigarrinho em paz.

Como tantos homens e tantas mulheres, nas manhãs frias, encostados à parede ao lado da porta do emprego, tiritando para não perturbarem o ar dos outros humanos, parece que “mais mortais” do que eles.
Eu que não sou fumadora, tomo o partido do velho cowboy com a beata acesa, herói tão forte como Humphrey Bogart com o seu eterno cigarro...
Lá vem ele a cantarolar “I’m a lonely cowboy far away from home, lalala”. De regresso de uma missão secreta no México.

Lá entra na aldeia do oeste selvagem mais a sua canção e o seu coração puro, melena caída para a frente e lenço vermelho atado ao pescoço (ou era o John Wayne que tinha o lenço vermelho?), à procura de novas aventuras, de novos mundos para desbravar e para limpar do mal...
Desta vez surge a Agência Pinkerton como concorrente. Um novo herói surgira: Allan Pinkerton.
A célebre agência de detectives onde trabalhou Dashiell Hammett? A célebre Pinkerton cujos agentes prenderam Jesse James e outros bandidos do Oeste?

Pois é: ao voltar da tal missão, Lucky descobre que há outro herói que o substituiu no coração dos americanos: Allan Pinkerton!

A célebre Agência tem outros métodos e a concorrência torna-se difícil...

Por lá aparecem também os irmãos Dalton nas suas malandrices, roubos, cadeia e fugas do costume.

Tudo acaba bem. Como sempre...
Se assim sucedesse no ano que se aproxima era bom!
O ano de 2011 a entrar, com os Dalton (& Metralhas, já agora) todos na cadeia.
Em todo o mundo!

Para ir ler já, antes que o ano acabe!
Para acabarmos o ano a rir, e a acreditar em dias melhores...
Nota:
A verdade é que o novo álbum escrito pelos dois escritores Daniel Pennac (francês, nascido em Casablanca, no dia 1 de Dezembro de 1944, autor de livros para rapazes e de um livro muito interessante “Comme un roman” sobre as leituras e os livros) e Tonino Benaquista (escritor e realizador francês de origem italiana, nascido em Choisy-le-Roi, no dia 1 de Setembro de 1961) dois escritores de qualidade, mantém o nível do texto do bem-amado Goscinny.
Alguns videos para recordarem.
(*)
O mais célebre cowboy da banda desenhada europeia foi criado na Bélgica por Morris, aliás Maurice de Bévère, em 1946.
A evolução gráfica da personagem Lucky Luke - o cowboy que dispara mais rápido que a sua própria sombra -, que se tem registado desde 1946, é muito significativa: as formas arredondadas que apresentava inicialmente faziam com que a personagem denotasse muita influência do cinema animado, área onde Morris tinha trabalhado antes.

A indumentária era já em tudo idêntica à que lhe é conhecida: chapéu branco, lenço vermelho, camisa amarela e calças pretas, que depois passaram a azuis, mais em consonância com os jeans.

(...)
A sua primeira aparição verificou-se no Almanach Spirou 1947, anuário da revista Spirou, publicado a 14 de Novembro de 1946, com a história "Arizona 1880".

(...)
O primeiro episódio que contou com René Goscinny como argumentista foi Carris na Pradaria, publicado na Spirou a partir de 25 de Agosto de 1955.

(...)

Após a morte de Goscinny (1977), Morris teve diversos argumentistas para Lucky Luke.
Morris faleceu a 16 de Junho de 2001 mas, ao contrário de Hergé, nunca manifestou discordância na continuação da série, desde que fosse mantido o espírito e o grafismo.

(...)
O início dos anos 90 do século XX ficou marcado pela estreia do filme Lucky Luke, adaptação a personagens de carne e osso, realizado e protagonizado por Terence Hill (Lucky Luke). "

Em 2005 estreou o filme Os Irmãos Dalton, de Philippe Haïn.

Em 2010, sai o novo álbum, escrito a quatro mãos, por Daniel Pennac e Tonino Benacquista

Entre o mar e a charneca



Porto Côvo é Alentejo, mas Alentejo do mar.
Entre o mar e a charneca.
Para o interior, alguns montinhos, semeados, a meio dos campos a perder de vista.

Mas a agricultura também não chega para dar de comer...
Longe vão os tempos das searas amarelas que cobriam todo o espaço. Por vezes vêem-se uns cavalos magros pastar em campo fechado, ou manadas de vacas que se deslocam, pensativas.
O mar é bravio de Inverno quando a tarde escurece e as ondas ouvem-se bater forte, toda a noite, de encontro aos rochedos negros, quando o vento sopra, ameaçando temporal.
Porto Côvo hoje quase não tem pesca.
Tem um porto numa pequena enseada, de onde hoje partem raramente os barcos para a pesca ou as lanchas a motor. E vão vender o peixe a Sines.

Mais fácil seria ver sair dali no Verão ou no Outono as pranchas de surf ou os barcos de borracha.

De Inverno, figuras isoladas vêm, ao pôr do sol, lançar o fio da cana de pesca.
Maré alta, maré baixa a beleza é a mesma.

Perto do bater das ondas, aflige-me ver aqueles pontinhos negros que uma vaga mais alta pode varrer, na maré alta. Outros vêm quando a maré baixa e sentam-se nas rochas à espera, com os olhos fitos na limpidez do mar.

Como os pescadores de que fala Steinbeck no maravilhoso “Tortilla Flat” (entre nós, com o título poético de “O milagre de São Francisco): “os pescadores solitários que acreditam que o peixe morde durante a maré alta deixam as suas rochas e os seus lugares foram ocupados por aqueles que estavam convencidos ser na maré baixa que o peixe pega no isco.”
Porto Côvo não é charneca nem é mar.
Mas para chegar ao mar temos de pisar essa vegetação cerrada e rasteira onde os tojos se misturam com os cactos vermelhos. Onde a erva baixa, empapada pelas chuvas recentes, lembra pântanos lamacentos, de águas paradas.
No mar, indo para sul, distinguem-se as formas suaves da Ilha do Pessegueiro.
Ondas altas como cavalos marinhos galopam de freio nos dentes até se desfazerem em espuma branca na areia das praias.
Segue-se o momento da maré baixa e o mar parece desenhar pequenos lagos junto à costa, lagos transparentes que brilham azuis e reflectem as nuvens loucas que se perseguem nos céus, escondem o sol, ou o destapam de repente, deixando-o brilhar tão forte até nos ferir a vista.
Porto Côvo tem perto a praia de São Torpes. A mesma areia branca, o mesmo mar límpido que recordo da minha infância.
Desapareceram, porém, as conchas irisadas de madrepérola de vários tons, os búzios pequeninos que apanhava na concha das mãos cheias de água do mar.
Que queria agarrar mas que me escorria entre os dedos e desaparecia deixando um ou outro búzio.

Volto Porto Côvo, com as suas casinhas brancas, de lista azul bem desenhada no rodapé das casas ou à volta das janelas.
Com o Largo onde tudo acontecia dantes nos dias de mercado, ou onde tudo pára, numa tarde de sol.
Vila silenciosa, cheia de humidade e de sol, parada no tempo do Inverno, na maresia e no vento.
Alentejo entre a charneca e o mar...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

E se um menino voltasse a nascer...?

Madonna de Fra Filipo Lippi (pormenor)

E se um menino hoje voltasse a nascer neste mundo?
Um mundo com o céu escuro, negro de trovoada, carregado de nuvens pesadas, um mundo em que os rouxinóis não cantam e os céus parecem muros?
E as rosas estão sem pétalas...
Van Gogh, flores de amendoeira
Onde o rouxinol se cala de dia porque prefere a noite...
o rouxinol comum (Luscinia Megarhynchos)
Num mundo onde, em vez da verdura de um campo, ou a cor da floresta de árvores variadas, se encontrasse apenas o cinzento do cimento, o aço dos arranha-céus?
Marsden Artley, Trovoada na montanha (in blog "Art Inconnu")
Ou as ondas baças, plúmbeas, dos mares cheios de perigos onde os homens se perdem?
Emil Bisttram, Trovoada (encontrado no blog Art Inconnu)
O que haveria para dar ao menino, ao nascer?
O sol não chega...
"Mas isto é dia?"
Sim, como diz o poeta, "que flores"? As rosas foram desfolhadas...
Onde encontrar o rouxinol ou outros pássaros simples, dos campos, com as suas penas e
o seu límpido cantar?
O passarinho com asas de borboleta?
Ou o tímido pássaro azulado?
Por que não até o corvo no meio dos medronheiros, a debicar um medronho vermelho?
Sim, coisas bonitas, cheias de vida e de cor, para ele poder brincar...


Vai nascer um menino



(José Régio)


Desfolharam-se as rosas

Antes do amanhecer.

Desço ao quintal...Que rosas

Hei-de colher?!

O céu parece um muro.

No entanto, amanheceu.

Amanheceu escuro...
Que é das estrelas? que é do céu?

Calou-se o rouxin0l.

Prefere a lua ao sol...

Mas veio sol!? mas isto é dia?!



Mas, já murchas as rosas, apagados

Os astros nos céus baços,

Os rouxinóis calados,

E arranha-céus, cimentos, aços,

Como destino

Desta cidade imensa,


Que poderei dar ao meu menino

Que vai nascer?

Pois nisto ninguém pensa,
Que ele tem de brincar para crescer?!

in A Chaga do Lado, Portugália Editora,1954, pg 27
Nota importante:

Pedi ao meu amigo Mário do blog Trepadeira que me "ajudasse" com as suas magníficas fotografias a ilustrar este poema de José Régio.
Pela simplicidade e essencialidade.
De facto, os pássaros variados e o corvo no medronnheiro são todos dele.

Bom Natal!
Igor Stravinsky, "O Rouxinol"