Uma cidade azul!
Era, de facto, uma cidade azul. Uma cidade onde as casas, as portas e as ruas eram cobertas por uma camada de cal de um branco-azulado, ou, melhor, de um azul-pálido, alternando os tons matizados mais fortes ou mais fracos e a cal branca.
Uma vez disseram-me que a cor azul pretendia ser uma espécie de talismã para “afastar o mau-olhado”, os espíritos do mal, tal como os olhos de vidro transparente, olhos azuis de íris negra, que se vendem em todas as kasbahs dos orientes para esse “efeito”.
Outra teoria sobre o azul -referindo-se neste caso, às casas alentejanas brancas com a sua tira azul vivo no rodapé- era a cor que afastava os mosquitos e outros insectos.
Gostaria de saber mais coisas sobre as razões que levam alguns países do Sul, ou terras perto do mar, a escolher aquele azul...
Situada entre duas montanhas e uma fonte de água com cascata de águas cristlinas, Chefchauen tem uma localização fantástica.
(no site: Découvrir le Maroc : Chefchaouen la bleue)
Entrando na cidade velha pela porta Bab el Aïn, subindo as ruas inclinadas que seguem paralelas umas às outra, como em socalcos, de calçada de pedras e pequenos degraus arredondados, cheguei à cidade alta.
Se continuarmos a subir, chegamos às velhas muralhas do castelo, dentro das quais fica a Medina.
Protegida, resguardada por um muro de pedra, crescera à vontade e era um verdadeiro monumento. À volta, as ruelas subiam e desciam, sempre na sua cor azulada.
Na parte baixa da cidade, fica a praça Uta-el-Hammam. Era uma praça que parecia estendida ao comprido, com a sua Mesquita a um lado, mais o minarete octogonal, imponente e delicado, tão fora do vulgar.
Chefchaouen, uma das cidades santas de Marrocos, tem mais de vinte mesquitas espalhadas pela cidade.
A mais bela é, talvez, a tal Mesquita Grande, ao lado de árvores gigantescas, formando um parque, com bancos, e as suas lojinhas atrás.
É costume fazerem-se ali espectáculos nos dias de festa e, à noite, há sempre uma grande animação.
As pessoas passeiam, lado a lado, de mãos dadas quantas vezes amigo com amigo, mostrando um lado marroquino que é a afectividade.
Do outro lado, fica o Palácio e, mesmo ao pé, um restaurante -construção de dois andares sobre a praça-, em corredores labirínticos e curvos no mesmo branco azulado.
Ao contrário de Fez, cidade sombria na sua parte velha, cidade que é talvez a mais “melancólica” das cidades de Marrocos -o “país da melancolia” no dizer da escritora Edith Wharton (1)-, Chefchaouen é uma cidade solar, de luminosidade e de espaços abertos.
Ao pôr do sol, andando pelas ruas, unidas por arcos em ferradura, à maneira andalusa, via na Medina os reflexos rosados no azul das paredes e parecia-me caminhar numa terra de sonho, de silêncio e paz.
Figuras de djellaba passeavam devagar, contemplando as árvores, falando baixo e iam sentar-se nos bancos do largo.
Nas atitudes lembravam-me algumas figuras das aldeias da minha infância. O mesmo sossego nos modos, a mesma capacidade de contemplação, os mesmos olhos escuros e melancólicos.
Chefchauen, a azul, é uma cidade de sonho!
(1) Edith Wharton, Voyage au Maroc, Gallimard, colecção L’Imaginaire, 1912
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