Onde se fala do reino maravilhoso, da Guarda e da magia da neve...
"Batem leve, levemente
como quem chama por mim
será chuva ? será vento?
vento não é certamente
e a chuva não bate assim...
como quem chama por mim
será chuva ? será vento?
vento não é certamente
e a chuva não bate assim...
....
Fui ver...
Fui ver...
A neve caía do cinzento branco do céu
branca e leve, branca e fria
e que saudades, Deus meu!"
Cito de memória, pois nunca os esqueci, mas não posso é prometer que me lembre deles correctamente.
branca e leve, branca e fria
e que saudades, Deus meu!"
Cito de memória, pois nunca os esqueci, mas não posso é prometer que me lembre deles correctamente.
Quem não se lembra destes versos?
Quem não sentiu já o fascínio do manto branco e suave que tudo cobre e iguala e transforma em magia?
Numa viagem pelo tal reino maravilhoso de que fala Torga, numa manhã de há dois ou três dias, estava eu a tomar um café no meu quarto da Residencial Santos, na Guarda.
A tomar um café com vista sobre os telhados vermelhos e a ver uma das faces da catedral imponente.
De repente páro a olhar para fora, sobressaltada.
Pareceu-me "ouvir" um silêncio especial.
Depois um leve bater nas janelas. Como asas de pássaros invisíveis.
Nevava...
A neve caía , "branca e leve, branca e fria/ há quanto tempo a não via..." Como na poesia.
A noite anterior tinha sido glacial. Passeando pela Praça Velha perto da meia-noite, sem ninguém, tinha dificuldade em articular as palavra de tal modo sentia os lábios gelados e os músculos da face contraídos.
Mas continuámos o passeio, tão bela era a imagem que tínhamos em frente dos olhos.
De manhã, quando acordei, os vidros das janelas estavam cobertos de água condensada, que escorregava em pingos grossos e prateados sobre o cinzento plúmbeo do céu. Encobria os tais telhados vermelhos e uma das torres da Sé...
Os flocos caíam suaves, branquinhos, como nas histórias de Natal. Poisavam como as patinhas de um passarinho, sem se ouvirem.
Depois começaram a cair, mais fortes, pesados e, em poucos minutos, cobriram os telhados...
Acabei o café a correr, saí para a rua com o meu inseparável "observador de bolso" de imagens, o meu telemóvel, e fui dar uma volta pela cidade transformada numa outra cidade que não a Guarda do dia anterior.
A neve caía sempre cada vez mais forte e as ruas ficavam irreconhecíveis, as pessoas distantes, os passos abafados naquela atmosfera que se ia tornando irreal.
Tudo me vem à memória.
Tudo me vem à memória.
A magia dos contos de Natal?
As "Noites Brancas" de Dostoievsky?
Ou o livro de Jules verne, Miguel Strogoff, o correio do Czar, cavalgando pelas estepes nevadas da Rússia?
Ou, mais próxima, mais simplesmente, a minha terra, num inverno diferente?
A minha rua a cobrir-se de flocos brancos?
as ruas da cidade irreconhecíveisOu o livro de Jules verne, Miguel Strogoff, o correio do Czar, cavalgando pelas estepes nevadas da Rússia?
Ou, mais próxima, mais simplesmente, a minha terra, num inverno diferente?
A minha rua a cobrir-se de flocos brancos?
Reportagem (e viagem da memória) mágica e sentida.
ResponderEliminarUm beijo
Sim, muito bela, aquela cidade! Que não é para todos: é um estado de alma... Depende do tamanho dos olhos de cada um e da sensibilidade das almas. Única. Nobre. Forte. Exigente e generosa, a Guarda... Como dizia o Augusto Gil, que citas, "o alto monte da Sagrada Beira".
ResponderEliminarsaudações Mr. Falcão e uma vez mais meu coração se alegra em ver grandes e maravilhosas fotos em seu acervo bloguiano.Nutrido pela paixão de apreciar fotografias e imagens congelas no tempo só tenho que agradecer por dividir esse momentos com milhões de apreciadores e amante dos momentos mágicos como esse.Fica na paz.
ResponderEliminarMr. Butterfly.
Quanta beleza, Maria João!
ResponderEliminarE com que arte soube captar toda aquela magia!É tudo tão real e irreal num só tempo.
Lembro-me do frio, do silêncio, de uma estranha quietude que me invadia... Havia uma espécie de sintonia total com o ar que respirava.
Agora, esta sua viagem deixou-me quase sem fôlego. Também eu viajo agora...
Obrigada pela partilha.
Um beijo,
Lurdes
Muito bonitas as fotografias e em comunhão perfeita com o texto.
ResponderEliminarBoa noite!
Maria João
ResponderEliminarEu pensava...nada é por acaso, mais uma vez... Senti que esta neve foi para vos agradecer a vossa presença... nesta cidade, que precisa tanto de ser apreciada e compreendida!
Foi tão bom conhecê-los!
Já estou aqui,encantada de poder ouvir-te.Apanhaste um bom nevão na Guarda e gozaste como uma criança!Precisamente na Guarda, um dia ao levantar-me de manhã vi tudo branco,e o que mais me comoveu foi como tinha acontecido em silêncio aquela maravilha.Beijinhos
ResponderEliminarFoi um momento mágico...
ResponderEliminarObrigada pelos vossos comentários, mas a neve da Guarda é que os merece!
Vivo relativamente perto da Guarda - Fundão - e estou habituado à magia da neve, mas ela nunca cansa...
ResponderEliminarA sua reportagem é excelente.
Bjs
Obrigado, Maria João
ResponderEliminarEu sempre lhe disse que do que mais gosto na sua prosa é a arte da descrição.
Mas, no seu blogue, fza sempre uma simbiose encantadora entre a palavra e a imagem.
Continue a mandar sempre estas belezas
Um beijinho
Gusta e Inácio
Que lindo!
ResponderEliminarBeijo.
Mais que c'est beau ... EB .
ResponderEliminarOui, Elisabeth, c'était merveilleux...Comme dans les contes de fées. Merci.
ResponderEliminarRoberto, Obrigada!
Querida amiga!! A neve, sim, é mágica. Mas o seu olhar tecido de sentires é-o também!!
ResponderEliminarOBRIGADA e SAUDADES!!!
Olhe só que beleza de paisagem; Guarda, a cidade mais lata de Portugal...
ResponderEliminarFez uma óptima reportagem fotográfica, sim senhora!
Gostei muito do passeio.
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