sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Alice Munro: histórias da banalidade dos dias...



Histórias que falam das coisas simples e da banalidade de certas vidas...



E da solidão...





Vida: Alice Ann Munro nasce em 10 de Julho de 1931, em Wingham, Ontário, e é uma contista Canadiana.

Ao longo da sua carreira literária ganhou vários prémios:

Venceu três vezes o Prémio “Canada's Governor General” de ficção inglesa (o último em 1986, pelo livro de Contos “The Progress of love”). Recebeu o National Book Critics Circle Award (Prémio Nacional do Círculo de Críticos) pela sua última colectânea de histórias “The Love of a Good Woman”.










A cidade de Clinton, no Ontário, onde hoje vive Alice Munro

É considerada hoje como um Mestre moderno de “Short stories”.


As suas histórias falam sobretudo da condição humana e das relações entre pessoas vistas pela lente da vida quotidiana.
Cynthia Ozick, escritora americana nascida em 17 de Abril de 1928, crítica e ensaísta, considera-a o “nosso Tchekhov”…
Em 2009, é a vencedora do prémio internacional “Man Booker International Prize” -pela totalidade da obra escrita (versão britânica do Man Booker Prize).

É uma eterna “disputadora” do Prémio Nobel.

Toronto, ao cair da noite

As suas histórias falam sobretudo da condição humana e das relações afectivas entre as pessoas, vistas pela lente da sua vida quotidiana.

Estreou-se em 1968 com o livro "Dance of the Happy Shades".

A cidade de Vancouver, onde viveu uns anos

Penso que Alice Munro tem uma capacidade invulgar esboçar caracteres e falar das coisas simples e banais, mas dramáticas, da vida.

Como Tchekhov, o grande mestre das histórias banais que transtornam as existências ... E os leitores.

Relendo os contos de Tchekhov, volta sempre a sensação de atmosferas fechadas, de dores caladas que me apertam o coração.


Reli a história do cocheiro, que, durante o dia inteiro, procura alguém com quem desabafar o seu desgosto enorme. Neva, o tempo está gelado. Transporta gentes diversas, jovens, velhos e apaixonados, sem nunca conseguir falar dessa dor.


Ninguém o ouve.


A dor de cada um não interessa ao outro que lhe passa ao lado...


E o cocheiro, de olhos lacrimosos, chega à noite e acaba por contar ao cavalo o seu desgosto... O único ser que o escuta e o olha, parece-lhe, compreendendo...


Passando para os Contos de Alice Munro, não têm essa força única de Tchekhov, no entanto, Fugas traz-nos a sensação de impotência, de solidão, de incomunicabilidade dos contos de Tchekhov.


Com uma prosa enxuta, traços rápidos, consegue que as personagens, com vidas anódinas, cheguem até nós carregados da sua angústia, sonhos irrealizados, incapacidade de viver, ou de de exigir mais da vida, contentando-se com o pouco que o dia traz e “sonhando” com a fuga, a libertação desse destino vulgar.


Penso na figura de Carla, do conto “Fugida”.


Insatisfeita – talvez “empurrada” por Sylvia, uma escritora de certa idade, que a vê desesperada-, decide fugir de casa, e deixar um marido boçal e uma vida de pobreza e abandono, e ir para a capital.


Toronto, de noite


Tempos antes, da quinta onde ela e Clarck criavam cavalos e viviam das lições de equitação, desaparecera a cabrinha, Flora, a sua companhia, e a compensação do vazio que sentia. Sofrera muito com essa perda.

Incapaz de estar sozinha, fuga de Carla dura poucas horas. Antes de a camioneta chegar ao destino, Toronto, desce na primeira paragem e pede a Clarck que a venha buscar.


Mas não é fácil o regresso.


Dessa fuga restam dúvidas. O que aconteceu a Flora, a cabrinha? Desconfia que ela voltou durante o seu dia de “fuga”... O que lhe fizera Clarck, para se vingar dela? Não sabe.


“Era como se tivesse uma agulha assasssina num sítio dos pulmões e se respirasse com cuidado podia evitar senti-la. Mas de vez em quando tinha que inspirar fundo, e ainda lá estava.”


"O que há de fascinante nas histórias de Munro é que me encontro eu própria dentro delas. É uma das facetas do seu talento que é importante assinalar..." -diz dela a escritora americana, Cynthia Ozick (*).



E acrescenta:


"O seu desafio é captar as personalidades mais vulgares, dando-lhes ao mesmo tempo uma verosimilhança e uma profundidade interior enormes, ligando-os às emoções que sentem. Como o consegue? A sua solução magistral é "pedir emprestada" essa personalidade (...) porque esses atributos não lhes pertencem realmente, fazendo-os pessoas especiais. É como se, durante as circunstâncias dessa história eles mergulhassem numa piscina de águas muito mais profundas".


Alice Munro, vive hoje em Clinton, cidade da província canadiana do Ontário, onde nasceu, em 1931 - perto do Lago Huron, e já publicou até ao momento onze colecções de contos e um "romance", "Lives of Girls and Women", que é considerada antes uma série de pequenos contos co-relacionados.


A sua mais recente colectânea de contos, saída em 2009, "Too Much Happiness", será publicada em Outubro.

Deixo-vos esta "proposta" de leitura... Vão procurar...


Obras traduzidas em português:


O Amor de Uma Boa Mulher, Relógio d' Água (The Love of a good Woman, 1988)


Fugas, Relógio D' Água (Runaway, 2004)


(*) Cynthia Ozick (nasce em 17 de Abril de 1928) é uma escritora e ensaísta judia Americana, e considera-a o “nosso Tchekhov”…



4 comentários:

  1. O que seria de nossas literatura se não fosse Mister Falcão e suas digas de um bom livro. Parabens e uma vez mais meus sinceros agradecimentos por existir e dividir seu tempo conosco.Paz e Namasatê
    Mr. Butterfly

    ResponderEliminar
  2. Obrigada, Mr. Butterfly.
    Namastê e também paz para si...
    o amigo Falcão

    ResponderEliminar
  3. Esta noite sonhei que lia um livro: "Eu, Maria João"...ES BROMA!!
    Oxalá estivesses agora aqui.

    ResponderEliminar
  4. Estou sempre um bocadinho aí...
    Esse livro talvez nunca saia, ha!ha! (ou, broma: Ja!ja!ja...)
    Não gosto de falar de mim, aconteceram-me coisas interessantes só isso. Essas conto...
    Beijos

    ResponderEliminar