segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Jazz, Japão e Estóicos: Lew Tabackin e Toshiko Akiyoshi, no blog Jazz/Bossas/Baratos



documentário sobre Toshiko Akiyosha, por Renee Cho
Talvez pareça um pouco estranha esta aproximação: Jazz, Estóicos e o Japão... Marco Aurélio, na bela estátua equestre, em Roma, na Praça do Quirinal

Deixo-vos o que diz o meu amigo do blog Bossas/Jazz/Baratos, a propósito do estoicismo, do jazz e de dois jazzistas, que eu desconhecia: uma jazzwoman japonesa, Toshiko Akiyoshi;
e um jazzman americano de Filadélfia, Lew Tabackin...
Lew Tabackin

Com a frase seguinte estou plenamente de acordo:

Muito breve e agitada é a vida daqueles que esquecem o passado, negligenciam o presente e temem o futuro. Quando chegam ao fim, os coitados entendem, muito tarde, que estiveram ocupados a fazer nada.” (dixit Séneca)

Séneca, num desenho de Rubens

“O estoicismo é uma importante corrente filosófica, surgida na Grécia por volta do ano 300 a. C. e que prega que a verdadeira finalidade do homem não reside na busca da felicidade, do prazer ou dos bens materiais e sim na prática da virtude, como uma decorrência lógica do uso da razão.

Criado por um discípulo de Crates de Tebas chamado Zenão de Cítio, o estoicismo se opunha a outras doutrinas filosóficas da época por rejeitar o prazer inconseqüente e por defender uma postura serena diante dos acontecimentos da vida, sejam eles bons ou ruins.O nome dessa corrente advém de “stoa”, que em grego significa pórtico. Trata-se de uma estrutura arquitetônica na qual diversas colunas enfileiradas formavam um corredor, geralmente aberto ao público.
Quase tão comuns nas cidades gregas quanto as ágoras, as “stoae” serviam de palco para cerimônias religiosas ou apresentações artísticas.

Ali, enquanto os mercadores vendiam seus produtos, muitos filósofos costumavam discutir suas teses e idéias, sendo Zenão de Cítio um dos seus mais habituais freqüentadores.
Os estóicos procuravam manter a dignidade mesmo nas situações mais adversas e seus ensinamentos chegaram a Roma, onde foram acolhidos com entusiasmo por pensadores como o imperador Marco Aurélio e Sêneca.

Muitos dos pensamentos deste ilustre filósofo romano encontram-se sintetizados em uma coletânea de textos intitulada “Sobre a brevidade da vida”.

Ali, é possível ler-se:

Muito breve e agitada é a vida daqueles que esquecem o passado, negligenciam o presente e temem o futuro. Quando chegam ao fim, os coitados entendem, muito tarde, que estiveram ocupados fazendo nada.”

O jazz é recheado de estóicos, ainda que alguns deles sequer saibam disso. É o caso de Lew Tabackin.

Provavelmente, seu nome desperta pouca atenção no ouvinte de jazz menos atento, ao contrário do que acontece com a sua esposa, a pianista, compositora, arranjadora e bandleader Toshiko Akiyoshi, bem mais conhecida. Seu nome, inclusive, sequer consta como verbete do colossal “Penguin Guide To Jazz Recordings” (8ª Ed.), um dos guias mais completo do mercado.
Mas esse flautista e saxofonista é um verdadeiro artesão de sons, sempre pronto a surpreender e eletrizar o amante da boa música.

É certo que seus álbuns não provocam estrépito nas lojas de disco – aliás, ainda existem lojas de disco? – e nem causam furor nas paradas de sucesso.

Mas, como dizem os americanos: “Who cares”? Lew quer mais é se divertir e encantar o ouvinte, fazendo a sua música sem se preocupar com o mercado ou com as gravadoras. Se junto com isso vierem alguns dólares, euros ou ienes, melhor ainda!

Ele nasceu no dia 26 de março de 1940, em Filadélfia, onde, ainda na infância, demonstrou grande interesse pela música, em especial pelo jazz.

Embora sua família não tivesse maior ligação com a música, a mãe do garoto costumava levá-lo para assistir às apresentações de orquestras como as de Cab Calloway e Lionel Hampton, que freqüentemente se apresentavam no palco do Earl Theater."


http://www.youtube.com/watch?v=YtjzVThkiFs

E aqui está como Lew descobriu a sua vocação!

No CD referido, "I'll be seeing you", é talvez mais influenciado por Don Byas e Ben Webster.

E o repertório, nalguns casos, é relativamente pouco conhecido, como "Wise One" de John Coltrane ou "In Walked Bud" de Thelonious Monk.

Interessei-me e fui ouvir Lew. Já conhecia Lionel Hampton e, claro, o grande Cab Calloway.

http://www.youtube.com/watch?v=Amug2YDZGAc

http://www.youtube.com/watch?v=8mq4UT4VnbE

Faltava-me conhecer Lew Tabackin e Toshiko Akiyoshi...

Sobre ele,viram o que vem escrito acima no referido blog
(http://ericocordeiro.blogspot.com/).

Sobre a outra, "apurei" o seguinte:

É uma jazzista, pianista, compositora e “bandleader”, nipónico-americana. Uma de entre as pouquíssimas jazzwomen, da sua geração e, além disso, é reconhecida como uma das maiores figuras de compositores de jazz.

Akiyoshi nasceu em 12 Dezembro, 1929, em Liaoyang, na Manchúria e começou a estudar piano aos sete anos.

Liaoyang, em gravura do séc XVI

Aos 16, arranjou trabalho a tocar numa banda num club, em Beppu.

Uma personalidade local, ligada ao jazz, introduziu Akiyoshi no gosto pelo jazz pondo- a a ouvir um disco de Teddy Wilson, a tocar "Sweet Lorraine".

Teddy Wilson, o grande pianista de jazz


Akiyoshi "apaixona-se" imediatamente a pelo tipo de som, e começou a estudar jazz.
Em 1952, durante uma tournée ao Japão, o pianista Oscar Peterson descobriu Akiyoshi num club de Ginza. Ginza, no Japão

O grande músico Oscar Peterson ficou impressionado, e convenceu Norman Granz a fazer uma gravação com ela.


Assim, em 1953, sob a direcção de Granz, Akiyoshi gravou o primeiro álbum com a "rhythm section" de Peterson:
Herb Ellis na guitarra, Ray Brown baixo, e J. C. Heard na bateria.

O álbum vai-se intitular
Toshiko's Piano.

Mais tarde, em 1973, Toshiko encontra Lew -ou vice-versa- e formam, em Los Angeles, o grupo "The Toshiko Akiyoshi – Lew Tabackin Big Band" -uma banda de 16 elementos.

Em 1982, as duas figuras principais mudam-se para New York e re-formam o grupo, com novos membros, sob o nome de "The Toshiko Akiyoshi Jazz Orchestra", apresentando Lew Tabackin.

Em 1984, sai "Jazz is my Native Language: A Portrait of Toshiko Akiyoshi", um documentário realizado, por Renee Cho, sobre a pianista, compositora e big band leader Toshiko Akiyoshi.

In 1996, publica a sua autobiografia, Life With Jazz and e, em 2007, ganha um NEA Jazz Master.

Como diz Érico Cordeiro, Lew passa um pouco na sombra da sua famosa mulher, no entanto, estoicamente, continua a tocar a sua música, tirando dela um prazer puro e pensando, se calhar, pensando -como dizem os americanos- “Who cares”?

Lew quer é divertir e encantar o ouvinte, fazendo a sua música sem se preocupar com fama, gravações, hits, ou mesmo...com o sucesso da mulher!

Ouvir Lew Tabackin
http://www.youtube.com/watch?v=djIchjvR4Pg


Ouvir Toshiko Akiyoshi
http://www.youtube.com/watch?v=Mu3NrWwLLqo


*****

Nota 1


O ESTOICISMO E SÉNECA

"Séneca ocupava-se da forma correcta de viver a vida, ou seja, da ética, física e da lógica.
Via o sereno
estoicismo como a maior virtude, o que lhe permitiu praticar a imperturbabilidade da alma, denominada ataraxia (termo utilizado a primeira vez por Demócrito em 400 AC.).

Juntamente com Marco Aurélio e Cícero, conta-se entre os mais importantes representantes da intelectualidade romana.

Séneca via no cumprimento do dever um serviço à humanidade. Procurava aplicar a sua filosofia à prática. Deste modo, apesar de ser rico, vivia modestamente: bebia apenas água, comia pouco, dormia sobre um colchão duro. Séneca não viu nenhuma contradição entre a sua filosofia, estóica, e a sua riqueza material: dizia que o sábio não estava obrigado à pobreza, desde que o seu dinheiro tivesse sido ganho de forma honesta. No entanto, devia ser capaz de abdicar dele.
Séneca via-se como um sábio imperfeito: "Eu elogio a vida, não a que levo, mas aquela que sei dever ser vivida."

Os afectos (como relutância, vontade, cobiça, receio) devem ser ultrapassados. O objectivo não é a perda de sentimentos, mas a superação dos afectos. Os bens podem ser adquiridos, à condição de não deixarmos que se estabeleça uma dependência deles.

Para Séneca, o destino é uma realidade. O homem pode apenas aceitá-lo ou rejeitá-lo. Se o aceitar de livre vontade, goza de liberdade. A morte é um dado natural. O suicídio não é categoricamente excluído por Séneca."

(wikipedia)

7 comentários:

  1. Excelente, excelente o teu blogue!
    Tens a oferta de um selo no meu blogue, mas podes querer ou não querer, não há problema!
    Beijos,
    Manu

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  2. Minha querida MJ Falcão,
    Estou mais que honrado em ser citado no seu blog, que é, sem dúvida, um dos espaços mais estimulantes e acolhedores da internet.
    Aqui se pode ler ótimos textos, ter acesso a informações primorosas, em relação a todas as vertentes das artes e da cultura.
    Há aqui sempre ótimas resenhas sobre cinema, literatura, música, que nos encantam e nos deixam com vontade de vir sempre e sempre.
    Ler meus modestos escritos aqui é uma enorme alegria!!!!
    Muito obrigado e que possamos continuar a viajar, emocionadamente, pelas trilhas da arte.
    Um fraterno abraço!

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  3. Oi Falcão,

    Estou impressionada,
    adorei a matéria e confesso, não tinha idéia de tanta gente boa.

    Valeu a dica.

    Nós

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  4. Se Law Tabackin tocava só por puro prazer, não realizava propriamente um acto estóico, felizmente para ele...
    Conheço algo de Teddy Wilson, embora como já te disse seja leiga na matéria.
    Nota-se que vives o jazz. Beijinhos

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  5. Amigo Érico, ainda bem que gostou! O meu blog acho que reflecte a atitude "estóica" do Lew: gosto do que faço e procuro que seja "ético", procuro ser "correcta" e justa(como ele tocava a sua música), aceito o que vem, procuro não ter medo do futuro... ou indigno-me -quem me dera ser "ataráxica"!- com o que acho falso e injusto.
    Ser estóico não é ser egoísta nem masoquista, queria María! Gosto dos estóicos! Não sou estóica...E tenho pena.
    Como diz Séneca: “Muito breve e agitada é a vida daqueles que esquecem o passado, negligenciam o presente e temem o futuro. Quando chegam ao fim, os coitados entendem, muito tarde, que estiveram ocupados fazendo nada.”
    Grande abraço!

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  6. Querida João:expliquei-me mal de certeza,não pensei para nada em egoismos ou masoquismos,em todo o caso num epicúreo hedonismo que pessoalmente practico sempre que a vida me deixa: " busca do prazer e supressão do sofrimento como objectivo ou razão de ser da vida". Beijinhos

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  7. Eu sei, Maria, nunca pensaria que tu pensavas, porque acho que te conheço já...
    E estou de acordo, sempre que a vida deixar, tentemos viver de outro modo, suprimindo esse sofrimento "inútil", pensando no "carpe diem", nas pequenas coisas que nos enchem a vida, sem temer o futuro!
    Um beijinho

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