A violência física ou a brutalidade da indiferença
Deixo-vos para ler este "desabafo". Limito-me a "ilustrá-lo" com imagens.
Leiam...Até o "iconoclasta" Gainsbourg se indignaria!
"O que queres ser quando fores grande?"
Uma pergunta que nada teria de extraordinário, não fossem dois ou três "pirralhos" de 7/8 anos responderem à sua professora que gostariam de ser ladrões!!
Uma insólita e descabida resposta que eu jamais imaginaria ouvir ao fim de alguns anos a lidar com gente pequena. Uma resposta que me transportaria, mais uma vez, até aos meus habituais monológos interiores sobre o tudo e o nada.
O que leva estes miúdos a dizerem isto? Será que ouvem isto na televisão? Será que seguem o exemplo de alguém? Serão os comentários dos pais, lá por casa? Será que isto está assim tão mau que não restam alternativas de futuro, mais honestas e mais inteligentes?...
Tentei encontrar explicações e comecei por deitar as culpas para cima da sociedade em geral.
No topo, aparecem os grandes, os poderosos que roubam de uma forma sofisticada, disfarçada e sem violência física.
Têm a faca e o queijo na mão mas nada fazem para melhorar as condições de vida dos outros.
Pelo meio, aparece possivelmente, a grande maioria de "nós". Nós, que também temos a faca e o queijo na mão para mudar o rumo da história do país e nada fazemos para isso.
Parecemos um povo de espectadores, de consumidores, de cidadãos acéfalos, masoquista, prazeroso com o mal e a desgraça dos outros.
Estranhamente alheio ao essencial e preso ao acessório, eis o retrato do povo português; um povo que continua mal educado, mal informado, inculto, egoísta quando chega a hora da verdade (os últimos resultados eleitorais e o relato da pessoa que se segue, são as provas daquilo que acabo de escrever).
Num patamar mais abaixo, aparecem os desgraçados sem meios de subsistência conhecidos, os marginais e outros que tais.
Fazem precisamente o mesmo dos que se encontram no topo, porém, fazem-no de uma forma descarada, sem rodeios e com recurso à violência física q.b.
Por coincidência, no dia em que esta reflexão voltou aos meus pensamentos, tomei conhecimento da violenta agressão que vitimou Manuel Rocha (um dos músicos da
Brigada Victor Jara que mencionara casualmente, por aqui, uns dias antes), junto à estação ferroviária, na cidade de Coimbra. A notícia surpreendeu-me por três razões:
1º - Porque aconteceu à pessoa que foi mas, podia ter acontecido a qualquer um de nós ou a qualquer um dos nossos;
2º - Tudo aquilo de que falava atrás sobre a brandura de um povo, não é mais do que uma treta e uma falsidade sem igual. Depois de ler sobre o que aconteceu a este cidadão, senti vergonha de ser portuguesa e de pertencer à espécie humana, juro;
3º- Pensava que cenas destas, na cidade de Coimbra, só aconteciam nos livros de ficção.
Mas finalmente, lugares seguros, já não existem.
Apesar de conhecer apenas de vista, a pessoa em causa, o requinte de malvadez com que brutalizaram Manuel Rocha, não tem uma explicação racional, pelo menos para mim. Jamais compreenderei o motivo de tanta violência, bater sem dó nem piedade ou matar, a troco de nada, quando muito, apenas, para ficar com um mísero e execrável telemóvel.
Nesta história real, fica registado um segundo capítulo, tanto ou mais, grave que o anterior.
Refiro-me à aparente indiferença e apatia de quem estava por perto e nada fez para auxiliar ou socorrer a vítima.
Afinal, um povo que se solidariza com tudo e mais alguma coisa, que padece com o infortúnio alheio e depois na hora H, não é capaz de demonstrar quanto vale, é um povo de medricas e de velhacos.
Estaria alguém, nesse dia, a essa hora, à espera de alguma recompensa, ou, porventura, estaria alguém à espera de alguma câmara de filmar para obter uns minutos de fama, numa qualquer estação rasca de televisão?!...
O terceiro capítulo desta história, terminou com fracturas e escoriações, e, quiçá, marcas psicológicas que o Tempo se encarregará de "apagar".
Parece que Portugal está cada vez mais parecido com o pior que tem a sociedade americana, nesta matéria.
Parece que Portugal está cada vez mais parecido com o pior que tem a sociedade americana, nesta matéria.
Apesar dos cenários não serem os mais animadores, acredito piamente que só teremos cidadãos cumpridores nos seus deveres cívicos, cidadãos activos, participativos e Solidários, se houver investimento pessoal e político na Educação e na Formação do povo.
Neste caso, EDUCAR e FORMAR, PRIMEIRO, OS ADULTOS para que estes, possam depois, EDUCAR e FORMAR os MAIS PEQUENOS.
Quem sabe se assim, um dia, eu não tenha que ouvir mais uma resposta disparatada como aquela que ouvi duas vezes, este ano.
Já agora e, dado que a "Gainsbougomania" me tem afectado nos últimos tempos,
Já agora e, dado que a "Gainsbougomania" me tem afectado nos últimos tempos,
dedico este "REQUIEM POUR UN CON" (*) a TODOS os brutamontes, ladrões e apáticos cidadãos deste país.Termino com o texto publicado na página do Facebook de Manuel Rocha."
Estou de acordo com tudo o que diz "relógio de corda" sobre a estupidez, violência e a horrível indiferença dos nossos dias.
Sinto-me solidária com Manuel Rocha.
Podem ler toda esta triste "história" de violência e indiferença, no link:
http://quantotempotemotempo.blogspot.com/2011/01/violencia-fisica-ou-brutalidade-da.html
http://quantotempotemotempo.blogspot.com/2011/01/violencia-fisica-ou-brutalidade-da.html
(*) sobre Serge Gainsbourg, in wikipedia:
Nota 1:
"Serge Gainsbourg (nome real: Lucien Ginzburg) (nasce em 2 de Abril de 1928, em Paris e morre em 2 de Março de 1991, também em Paris) foi um músico, cantor e compositor francês.
Gainsbourg escreveu canções para diversos intérpretes, dentre os quais destacam-se Juliette Gréco, Françoise Hardy, France Gall, Brigitte Bardot, Jacques Dutronc, Catherine Deneuve, Alain Chamfort, Alain Bashung, Anna Karina, Isabelle Adjani, Vanessa Paradis e para a mulher, Jane Birkin, mãe da sua filha Charlotte Gainsbourg.
Nasceu em Paris, filho de judeus russos que haviam emigrado para a França, fugindo da revolução de 1917.
O pai era pianista e tocava em clubes da cidade.
A mudança de Lucien Ginzburg para Serge Gainsbourg aconteceu no final da década de 50.
Estreou em vinil em 1958 com Du Chant à la Une! A sua carreira arrancou, em 1966, em meio da loucura dos Ye-Ye".
Nota 2:
Gainsbourg está enterrado no cemitério de Montparnasse, onde se encontram também Sartre, Simone de Bauvoir, Marguerite Duras, Beckett, Guy de Maupassant, Baudelaire e outros escritores e artistas.
Não sei há quanto tempo foi professora, mas a escola está cada vez pior. É uma luta diária, às vezes inglória para tentarmos fazer o nosso trabalho.E no que diz respeito à tentativa da transmissão de valores, é uma luta ainda maior.
ResponderEliminarGrande parte das pessoas acha que só tem direitos.E transmite isso aos filhos.Depois são os programas de televisão a passar ideias erradas...
Sou uma pessoa optimista (embora alguns dias também venha bastante desanimada da escola )mas acredito que temos que insistir na tentativa de transmitir aquilo que penso são valores que interessam.Às vezes somos nós a dizer uma coisa e os pais em casa outra, mas penso que o meu dever é continuar a tentar transmitir aquilo que acredito que é certo.
E de vez em quando acontecem pequenos episódios que me fazem pensar:
"Alguma coisa ficou!"
E isso faz valer a pena o esforço.(Já que temos que por cá andar até aos 65...)
Um abraço
Isabel
Isabel, continue a fazer o que faz, como faz... Transmitir valores, conhecimentos, saber...É o que mais falta a jovens e até mais velhos...
ResponderEliminarEnsinei até há 4 anos. Penso que me foi "poupada" uma parte do vosso "martírio", mas saí "de gatas", como se costuma dizer.
Continuo "presa" ao ensino, por isso me ponho para aqui a escrever tanto!
Mas vejo que há quem se preocupe e fico contente!
"Alguma coisa fica sempre!", nisso eu acredito mesmo: o mais pequeno gesto,ou palavra, ou atitude...fica!
Bom trabalho!
M.João
O que mais me supera é a violencia, dentro duma problemática muito complexa da sociedade actual. Às vezes as coisas têm que chegar primeiro a uns limites insuportáveis para por fim mudar. Entretanto temos que não perder de vista as pessoas boas e decentes,ver a rosa e não as espinhas sempre que fôr possível, para evitar cair na amargura. Penso eu!
ResponderEliminarBeijinhos e abraços
Querida amiga e estimada mulher, a você oferecemos esse poema, ele fala por nós.
ResponderEliminarAninha e suas pedras
Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.
Cora Coralina (Outubro, 1981)
Mulheres como você, escrevem chorando e chorando continuam a escrever...são raras porque sabem chorar e vivas porque não deixam de escrever ... ou será vice e versa.
Aconteça o que acontecer, nunca deixe de se indignar, é isso que te faz Maria.
Nós - Cozinha dos Vurdóns, cinco abraços.
MJ Falcão,
ResponderEliminarA história que narra é lamentável. Infelizmente, a violência faz parte do quotidiano das grandes cidades e não só!
Superar a violência é um combate diário e por vezes infrutífero.
Sem regras e sem carinho, o egoísmo ou defesa recaem nas reacções mais incríveis que possa imaginar.
Quando se maltratam crianças e são tiradas aos pais, vivem em instituições até atingir a maioridade e são largados à vida, sem emprego e com uma formação incipiente, muitos dos resultados são a violência.
A educação para o saber não é a prioridade de quem manda. Os valores que se transmitem chegam a alguns, e já se pode considerar uma pequena vitória, mas é tão pouco!
Conheço a Brigada Vitor Jara desde a sua fundação, é uma tristeza e lamentável toda esta situação sofrida por Manuel Rocha.
Gostei de ouvir Gainsbourg, pois, não o ouvia há muito tempo!
Bom Domingo!
Claro que continuarei a indignar-me, queridas amigas!
ResponderEliminarAna, Cada gesto "conta"! E sei que os faz...
Abraços a todas