sábado, 20 de agosto de 2011

Inglaterra: Continuam os erros?

desenho in The Economist, Bagelot

A delação e a repressão parecem ser a estratégia seguida pelo Governo de Cameron e pela polícia britânica.

Primeira medida: "NAME AND SHAME": nomear e envergonhar.

Tal medida (“name and shame”) é acompanhada pelo pedido, aos cidadãos, de “denunciar” as pessoas, presumíveis culpados.
A justiça faz-se, pois, segundo Cameron, denunciando. Publicando o nome dos condenados, sistematicamente acompanhada pela direcção e data de nascimento que leva sem dúvida à maior estigmatização ainda de certas zonas, de um local e apelando para a denúncia.

A pessoa “procurada” é, por sua vez, apresentada como dantes o eram os assassinos do Far West: “WANTED”, em letras garrafais, fotografia em grande plano.

Ou em cartazes gigantescos colados aos carros da polícia, que passam continuamente, em certos bairros.
A delação é sempre condenável.

Deixo-voss esta passagem do blog de Pierre Assouline que me interessou:

O que distingue “denúncia” e “delação”? As duas palavras dizem praticamente o mesmo. Só que a primeira é salva pela a sua ambiguidade polissémica, o que não é o caso da segunda que é vista como uma coisa nojenta, malcheirosa...
O paradoxo é que as duas estão ligadas a um verbo comum: “denunciar”.
A possibilidade de denunciar um escândalo para o bem comum não absolve “denúncia” da sua faculdade de "apanhar" um indivíduo".

Trata-se sempre de delação.

Senti, pois, um grande alívio quando li um artigo no Monde (17/08/2011) intitulado "Uma revolta mundial da juventude", assinada por Michael Fize (1), sociólogo do CNRS.

Escreve ele a dada altura: "A repressão policial decretada pelo primeiro ministro, David Cameron, não vai resolver nada em Inglaterra, como nada resolveu (...) noutros países confrontados a um tal problema social.”

Quais seriam as soluções?, perguntamos nós.

As soluções? Elas existem mas exigem grande coragem política e boa vontade económica”.

A Utopia?

Michael Fize explica: “todos sem excepção (...) devem poder viver decentemente e sem ter medo do dia seguinte.”

De facto, muitos dos jovens que participaram nas manifestações violentas, e se excederam, na maior parte não tinham cadastro.
Não são meros salteadores ou "canalhas", mas sim, como diz o articulista, “desesperados – desesperados que não tendo nada a perder, estão decididos a tudo para que lhes concedam um pouco de atenção”.

Outra coisa importante que assinala o sociólogo: a necessidade de “uma classe política mais próxima das realidades sociais e menos ligada aos poderosos que detêm o dinheiro.”

Utopia, ainda?

Soluções bem improváveis e bem longínquas”, reconhece.

Restam as soluções sociais: “(...) o estabelecimento, por via de mediação, de um diálogo entre os poderes públicos e a juventude que sente a necessidade de que seja reconhecida a gravidade da situação em que vivem e na qual são mantidos – um escândalo humano e uma indignidade democrática ao mesmo tempo.”

Pois é, ao ler este artigo, fiquei aliviada por ver que há gente que pensa de outra maneira e sabe que as soluções não podem ser resolvidas “só” com cargas de polícia, ou penas dignas de “estado de sítio”, ignorando as causas profundas!

Acusando de"decadência moral" a sociedade inglesa, onde se terá perdido o sentido da "responsabilidade", considerando "doentes" certas comunidades, o PM apela para a “renovação do código de valores e atitudes", “decidindo declarar uma guerra contra os presumíveis autores das desordens, aos gangs, às famílias com problemas, aos adolescentes sem civismo e até os defensores dos direitos do homem" (Marc Roche, Le Monde 20/08/2011).

Ao ponto de alguns (por exemplo o jornal conservador Daily Telegraph) lhe responderem que essa decadência de valores pode ligada ao mau exemplo dos bancos responsáveis do crash
.
A imoralidade tornou-se na norma: "A decadência moral da nossa sociedade é tão forte no cimo como no baixo da escala".

Um deputado conservador, Matthew Hancock, afirma mesmo que os revoltados se limitarama copiar as elites "cúpidas, imprudentes e irresponsáveis."

A repressão nunca serviu nem serve nem servirá. É preciso é pensar!
(Deixo também um artigo de Tony Blair, com bastante interesse, em The Guardian)

Eu detesto a repressão!

http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2011/aug/20/tony-blair-riots-crime-family


(1) Michael Fize é autor de um livro sobre os gangs de adolescentes, “Bandes, de ‘entre-soi adolescent’ ”, DDB, 2008


6 comentários:

  1. Assino em baixo! Nada de mais humilhante do que a repressão por si só, a delação instituida, a força sem razão! Como é possível, em pleno sec. XXI, assistir a isto? Onde ficam as Pessoas e a LIBERDADE (responsabilidade, individualidade e dignidade!)
    Beijinhos
    Luísa

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  2. A repressão leva inevitavelmente à revolta.
    Continuar a repressão é não deixar outro caminho.

    Cordial abraço,
    mário

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  3. Não concordo com a violência seja ela de que forma for e venha de onde vier.
    Há um caminho difícil a percorrer.
    Todos deveriamos ser responsáveis e responsabilizados pelos nossos actos.
    A liberdade assim o exige.
    Infelizmente não é isso que acontece.Nem com muitos dos que nos governam, nem com outros tantos dos que são governados.
    Temos que continuar a ter esperança e a acreditar que um dia o mundo vai ser um lugar mais justo para todos.
    Um beijinho

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  4. Obrigada pelo apoio! Tive que protestar!

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  5. Há uma crise de valores por todas partes e algo bom vai sair, tenho a certeza.
    Já estou aqui outra vez para dar também as minhas sentenças, fiquei comovida por as minhas amigas teram notado a minha curta ausência.
    Espero que estejas bem, importa-me mais que os teus protestos, neste momento... Um beijo enorme

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