sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Quem não se lembra de Jonh Lurie, do grupo The Lounge Lizards e do filme de Jim Jarmusch "Stranger than Paradise"?

John Lurie, "âncora presa"

John Lurie, "you are here..."

John Lurie, "the bones are outside"

Quem não se lembra de John Lurie e do filme “Stranger Than Paradise”, de Jim Jarmusch ?



Quem não conhece John Lurie? O actor, o músico, o saxofonista dos Lounge Lizards?

capa do álbum "No pain for cakes", desenho de John Lurie

Aqui fica uma notícia, para quem não sabe.
Nascido em 14 de Dezembro de 1952, é um actor americano, estrela de Jazz, músico, e pintor e realizador de programas de televisão.

Nasceu no Worcester, Massachusetts, e aos 6 anos muda-se para New Orleans. Mais tarde, volta novamente ao Massachusetts.


John Lurie, "the pigs of Ben Franklin"


A estrela de “Stranger Than Paradise” e de “Down by Law”, compositor, (mais tarde vai entrar no filme de Wim Wenders, “Paris, Texas”), é o saxofonista e chefe do grupo jazz-punk “The Lounge Lizards".

Era uma personagem intensamente carismática, segundo dizem.
Usava o seu chapéu Borsalino, vestia velhos fatos, frequentava o Mudd Club, e pintava em estilo expressionista as capas dos seus álbuns de discos.

Em 1978, John Lurie, saxofonista, cria com o irmão Evan Lurie (piano e órgão), com Arto Lindsay na guitarra, Steve Piccolo basso, e o ex-"Feelie", Anton Fier, na bateria o grupo The Lounge Lizards (2), inicialmente espécie de "fake-jazz”, em 1981.

Pouco depois Lindsay, Piccolo e Fier saem do grupo, seguindo outros projectos.
O conjunto gravou o primeiro disco com o próprio nome, The Lounge Lizards (que continha duas canções de Thelonious Monk), e teve críticas positivas.

Mais tarde, o grupo desfaz-se e John cria outro, com Evans.

Gravam apenas um disco, em 1983, Live from the Drunken Boat, o único álbum dos Lounge Lizards que nunca saíu em CD.

Nos anos seguintes, os Lounge Lizards perderam um pouco sua actividade.
John Lurie passou a escrever mais músicas para bandas sonoras de filmes e Evan Lurie trabalha no programa The Backyardigans, um show para crianças.

Em 1986 "recriam" a banda: os dois Lurie, o saxofonista Roy Nathanson, o trombonista Curtis Fowlkes, o guitarrista Marc Ribot, o bassista Erik Sanko, e o baterista Dougie Bownecom .

Lembro o maravilhoso Stranger Than Paradise, filme de 1984 (traduzido cá por "Estranhos no Paraíso", o que não é bem a mesma coisa), com John Lurie num papel arrebatador! Uma viagem de loucos numa velha carripana pela América.

Os actores não-profissionais, John Lurie (Willie) e o ex-baterista dos Sonic Youth, o actor-aprendiz Richard Edson (Eddie) desempenham muito bem o seu papel!.

Lá vão eles, percorrendo as estradas da Califórnia, à procura da casa da tia Lotte para onde foi a prima da província, recém-chegada da Hungria, a bela Eszter Balint.

Um filme que fala do absurdo da vida, da capacidade de inventar os dias, cheio de humor negro, de encanto e de ternura.

a actriz Eszther Balint, em 2009

Vi o filme em Roma, com a minha filha. Íamos muitas vezes as duas ao cinema.

O filme distingue-se por ser filmado a preto e branco e por os actores que Jarmusch escolheu serem amadores.

É uma história, em 3 actos. Uma história muito simples...

Willie é um “hipster” (1) que vive em New York e um dia recebe, contrariado, a visita de uma prima, que vem da Hungria, Eva.
Ela fica em casa dele uns dias antes de ir para Cleveland, porque a tia Lotte -em cuja casa deveria ficar- está no hospital.
Willie protesta no início, não a quer lá. Depois, acaba por gostar da companhia divertida daquela miúda simples e generosa, que um dia vai roubar comida para lhe preparar um bom jantar a verem a TV.
Mais tarde Willie e o seu amigo Eddie vão visitá-la a Cleveland.

E...
O melhor é tentarem encontrar o filme, vale muito a pena!

Mais tarde vimos outro filme Jarmush, eu e a minha filha, "Down by Law" (Daunbailó), inesquecível, louco e cómico, em 1986, com Lurie e outro fantástico músico-actor Tom Waits e com um Roberto Benigni que vai muito bem.

Tom Waits
Desaparecido durante anos do ecrã e do cinema, John Lurie perdera-se nas brumas da vida.

Vagos rumores correram, muito se especulou sobre o afastamento (desaparecimento) dele.
Que não me interessa evocar.


pintura de John Lurie, "juiz pasmado a olhar para uma garrafa de rum"

John Lurie, "homem das cavernas a curtir uma pele"


Reencontrei-o como pintor, com quadros cheios de cores quentes, voluntariamente “naïfs”.

No entanto, uma pintura não-ingénua. Desenho fino, delicado que por vezes lembra traços da pintura japonesa.

"mensagem"

John e Jaya
"o meu esqueleto dentro do armário"...

"esqueleto no armário que veio passear ao jardim...

Pintura em que continua “aprisionado” o adolescente crescido -que não quer crescer- que foi, o jovem herói salingeriano, de expressão amuada, e ar pensativo-carrancudo, de Stranger than Paradise.
"a invenção dos animais"

John Lurie "pega!"

Vejo nele, hoje, o mesmo espantado- adolescente retardado-, que vai continuar, na pintura, a procura e descoberta e a desilusão e recusa do mundo das pessoas crescidas.

E conserva o humor de sempre e a poesia das cores, nos seus desenhos.



Nota:

James R. "Jim" Jarmusch:

Nascido em 22 de Janeiro de 1953, é um realizador independente.
Foi um dos maiores defensores do chamado “cinema independente” entre os anos 1980 e 1990.
Passa uns anos em Paris e quando regressa, em 1976, instala-se em New York City e vai estudar na prestigiosa “Graduate Film School, da
New York University's Tisch School of the Arts (sob a direcção do director cinematográfico László Benedek).

Quando termina, Jarmusch vai trabalhar como assistente do realizador Nicholas Ray.


(1) Hipster is a slang term that first appeared in the 1940s, and was revived in the 1990s and 2000s to describe types of young, recently settled urban middle class adults and older teenagers with interests in non-mainstream fashion and culture, particularly indie rock, independent film, magazines such as Vice and Clash, and websites like Pitchfork Media.


(2) The band's initial incarnation was led by saxophonist John Lurie, with brother Evan on piano, Arto Lindsay on guitar, Steve Piccolo on bass, and ex-Feelie Anton Fier on drums; this lineup appeared only on the band's acclaimed, all-instrumental, self-titled 1981 debut. Lindsay and Fier left shortly thereafter, each embarking on a lengthy series of projects, and the Luries recorded Live From the Drunken Boat in 1983 with a different and less compelling lineup.
In 1985, during a hiatus in which Evan Lurie recorded his first solo piano album, the collection Live 79/81 was released; the group also recorded with producer Teo Macero and the London Philharmonic. The Lounge Lizards regrouped in 1986 with both Lurie brothers, saxophonist Roy Nathanson, trombonist Curtis Fowlkes, guitarist Marc Ribot, bassist Erik Sanko, and drummer Dougie Bowne. This lineup recorded Big Heart Live in Tokyo (1986) and the studio LP No Pain for Cakes (1987), the latter of which featured the group's first vocal number. 1989's Voice of Chunk was initially sold only through the mail, but has since been reissued on CD. John Lurie has also done scoring work for several Jim Jarmusch films, including Stranger Than Paradise (1986), Down By Law (1988), and Mystery Train (1989).
Alguns links:


Ver os quadros de John Lurie:



video do filme de Jim Jarmusch, Mistery Train:



Música de John Lurie, em Mistery Train:



Músicas dos Lounge Lizards:





links sobre The Lounge Lizards:

6 comentários:

  1. "Stranger than paradise" foi um filme independente estupendo.John Lurie é um génio de imaginação criadora em tudo o que faz. Adoro os seus quadros,são uma maravilha de frescura e originalidade. Voltaste a oferecer-nos um post de muito bom gosto.Beijinhos
    Estamos a ficar demasiado "académicas"!!!

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  2. Pois é, querida Maria. Parece que já ninguém se lembra destas coisas...
    "Académicas"!
    Mas olha que o filme era tudo menos "académico"!
    E a pintura dele também não o é.
    Será que a tua palavra aqui é um eufemismo???!
    beijinhos

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  3. Referia-me a NÓS, a ti e a mim, não sei se te lembras que existimos, detrás dos nossos comentarios...
    Continuo sem encontrar aquilo de que ando à procura, e tu?
    Não há que perder a tal "HOPE".Bjs.

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  4. julguei que achavas que estávamos "velhas"...
    Andar à procura é o nosso estado natural, acho.
    Aliás, já muito boa gente disse que o que interessa é a procura (uma espécie de "graal"?), não o que se encontra...
    Brinco.
    Percebo o que dizes, mas procuro não pensar nisso.
    E luto, para guardar a tal "hope", esteja ela onde estiver, num mundo de que não gosto!
    Enfim.
    Muitos beijinhos. A amizade is forever, não ér? Já é uma coisa boa.

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  5. Gostei da pintura, achei-a de um purismo que toca o infantil, gostei mesmo. A música vou ouvir daqui a pouco mas a referência a Tom Waits marca pontos a seu favor. Adoro o Tom Waits, tenho álbuns em vinil e alguns já em CD.
    Vou procurar saber mais e apreciar a música.
    Obrigada por esta mais-valia!
    Bjs

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  6. Ainda bem que gostou, Ana. Às vezes pergunto a mim mesma se vale a pena...A sua resposta ajuda-me.
    vai gostar dos Lounge Lizards. Eu gostei sempre muito do Tom Waits e já vi que também gosta do Nick Cave...
    Um beijinho

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