segunda-feira, 27 de julho de 2009

Brighton "revisited": querem vir comigo?


Entramos por esta praça. Venham, que eu depois a seguir explico por que razão "voltei"...
Voltei mesmo?









































































































































































































































































































































































































"Voltei" a Brighton. Onde só tinha estado em imaginação -quando a escolhi para “cenário” do meu livro policial “Os Olhos de Jade”.
Nessa altura, o meu filho estava em Brighton, e, afectivamente, sentia-me perto dessa cidade. Procurei mapas, vi a internet, “estudei” ruas, escolhi percursos, “pubs”, procurei o Pier (no fundo, um pontão, mas tão especial...), imaginei a praia de Inverno, na minha invenção do lugar.
Desta vez, fui "vê-la", “fisicamente”.
Tinha-a recriado dentro de mim e agora receava que me desiludisse.
Mas a Promenade estava lá, com as suas balaustradas de ferro pintadas a azul-cobalto, o Pavilhão que ardeu há uns anos, e, mais longe, a construção sobre estacas, dentro do mar, do Pier Palace: do Brighton Pier.
E veio-me à memória a figura inesquecível, na sua desgraça, do Pinkie do “Brighton's Rock”, de Graham Greene. Recordo a fuga, a angústia, a perseguição pelas ruas, descendo até ao Pier Palace, com as suas máquinas de jogos, o barulho infernal, os vitrais lindos e as luzes funestas que estavam lá também e o esperavam.
A primeira coisa que fiz foi comprar o “stick” de açúcar que dá o nome ao livro de Greene: o pau de açúcar, vermelho por fora e branco por dentro, embrulhado num papel celofane e, gravadas a vermelho, em cada corte do stick, as escritas “Brighton rock”, tal marca indelével de uma condição: a do condenado Pinkie, que teria sempre –faça o que fizer- gravada, como o destino, a “marca” da sua origem.
Pus, finalmente, os pés na praia de seixos redondos e coloridos, lembrando fósseis polidos pelas ondas e marés, e pelo vento agreste que sopra.
Era um lindo dia de sol, ventoso e fresco, e havia gente a brincar na praia, ou apenas deitados ao sol em cadeiras de lona, ou a comer “fish and chips” nas esplanadas dos restaurantes simples, alguns quase quiosques apenas, mas o peixe (filetes de bacalhau fresco...) era bom e as batatas óptimas, acabadas de fritar. Gente simples que estava com a família, gente de todos os mundos, de todas as culturas que gozam o sol e a frescura do dia.
Vi o pequeno "Fishing Museum", com a entrada em arco e as paredes pintadas de vermelho escuro. Lá dentro, uma coisa que me comoveu: a notícia dos barcos de pesca -e de recreio também- que saíram de Brighton em socorro dos soldados ingleses e aliados, feridos, a morrer nas praias de Dunquerque, durante a missão de evacuação das tropas derrotadas, depois da incursão alemã nos portos do Canal da Mancha, em 1940.
Mas havia, igualmente, uma âncora gigantesca com conchas encrustadas, muitas imagens de marinhas e de barcos, do porto de Brighton, ao longo dos tempos e um grande barco velho, com os cabos gastos, o leme, e um pouco de areia e do cheiro a maresia da madeira que parecia húmida, acabada de sair das águas do mar.
Na praia, os divertimentos de feira –que me lembraram “la fête foraine” , o sonho, do livro maravilhoso de Alain Fournier, "Le Grand Meaulnes": os carrocéis com cavalinhos dourados, elegantes, que rodavam, ondulando, subiam e desciam, destacando-se no fundo azul-turquesa do mar, o céu mais claro, acima, cheio de nuvens que pareciam voar ao lado das gaivotas.
Mais adiante, os elásticos que levavam ao alto, quase ao céu com gritos, as jovens de pernas ao léu.
No Pier, ao fundo, a "roda da fortuna", espécie de montanha russa que só rodava, rodava, tal "eye of Brighton" - à imitação do "eye of London"...
Depois, outro carrocel pequenino que faz girar, chiando, monotonamente, os carrinhos cor de rosa, o “bus” vermelho, tipicamente inglês, onde duas ou três crianças, receosas, olham para fora à procura dos pais.
O pôr do sol cai, devagar, arrefece, é hora de voltar.
Para trás fica Brighton, reencontrada, igual ao que sonhara.
P.S. Vejam as fotografias e digam o que pensam... Desculpem a "disposição" das fotos, que deveria ser ordenada e não é, mas aqui quem manda é a máquina...

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