Mesmo ali na minha rua, houve a história da vizinha do lado que nos roubou o gato...
Ela vivia ao pé de nós, numa casa baixa, e via-a muitas vezes à janela. Cumprimentava e nós também dizíamos “bom dia”.
O gato... era um gato! Um simples gato, um gato sem raça, a coisa mais vulgar deste mundo, cinzento e com malhas brancas, uma delas no focinho. Alguém o encontrou abandonado na rua e o trouxe para nossa casa.
Eu adorava animais, sobretudo os cães, mas nunca tínhamos podido ter nenhum porque o meu pai tinha medo das doenças deles, falava sempre no “quisto hepático” que eu não sabia bem o que era, mas um dia a tia Zezinha adoeceu com o tal quisto hepático, e foi o meu pai quem a salvou.
Demos-lhe leite com bolachas num pratinho e nunca mais o largámos.
Estava sempre no meio das nossas brincadeiras, mas a maior parte do tempo ia para o canto da sala, deitava-se nos degraus que subiam para a varanda e enrolava-se a olhar para nós. E adormecia.
Parecia-me que queria estar sozinho, e deixava-o em paz com o seu ronronar suave. Outras vezes, empoleirava-se no parapeito das janelas, sentado, a olhar para a rua, com o seu olhar verde, de esfinge.
Por causa dessa mania, um dia caiu da janela do primeiro andar, nunca soubemos como, e ficou com o focinho ferido guardando sempre uma cicatriz na manchinha branca que tinha ao pé da boca cor de rosa. Talvez por isso, me sentia mais presa a ele, e, quando desapareceu durante uns dias, e, depois, a filha da vizinha do lado se mostrou à janela abraçada a um gato que era igualzinho ao nosso, foi chorar e chorar.
O gato olhava-nos indiferente, lambia-se e não mostrava nenhum sentimento por nós, deixando-se abraçar por outra, uma estranha, o que me chocou.
Ninguém conseguia consolar-nos. Durante dias e dias protestámos, íamos espreitá-lo da porta da rua, umas atrás das outras, e cada uma chorava de sua vez, a pedir o gato.
Ela vivia ao pé de nós, numa casa baixa, e via-a muitas vezes à janela. Cumprimentava e nós também dizíamos “bom dia”.
O gato... era um gato! Um simples gato, um gato sem raça, a coisa mais vulgar deste mundo, cinzento e com malhas brancas, uma delas no focinho. Alguém o encontrou abandonado na rua e o trouxe para nossa casa.
Eu adorava animais, sobretudo os cães, mas nunca tínhamos podido ter nenhum porque o meu pai tinha medo das doenças deles, falava sempre no “quisto hepático” que eu não sabia bem o que era, mas um dia a tia Zezinha adoeceu com o tal quisto hepático, e foi o meu pai quem a salvou.
Demos-lhe leite com bolachas num pratinho e nunca mais o largámos.
Estava sempre no meio das nossas brincadeiras, mas a maior parte do tempo ia para o canto da sala, deitava-se nos degraus que subiam para a varanda e enrolava-se a olhar para nós. E adormecia.
Parecia-me que queria estar sozinho, e deixava-o em paz com o seu ronronar suave. Outras vezes, empoleirava-se no parapeito das janelas, sentado, a olhar para a rua, com o seu olhar verde, de esfinge.
Por causa dessa mania, um dia caiu da janela do primeiro andar, nunca soubemos como, e ficou com o focinho ferido guardando sempre uma cicatriz na manchinha branca que tinha ao pé da boca cor de rosa. Talvez por isso, me sentia mais presa a ele, e, quando desapareceu durante uns dias, e, depois, a filha da vizinha do lado se mostrou à janela abraçada a um gato que era igualzinho ao nosso, foi chorar e chorar.
O gato olhava-nos indiferente, lambia-se e não mostrava nenhum sentimento por nós, deixando-se abraçar por outra, uma estranha, o que me chocou.
Ninguém conseguia consolar-nos. Durante dias e dias protestámos, íamos espreitá-lo da porta da rua, umas atrás das outras, e cada uma chorava de sua vez, a pedir o gato.
Até que a minha mãe se aborreceu, vestiu o casaco, pôs a mala debaixo do braço como nas grandes ocasiões e foi bater à porta da vizinha. Nós ficámos à janela, a espreitar.
A outra protestou, que não que não era nada o nosso, que o gato era dela, que o tinham oferecido à filha e mais isto e mais aquilo!
Só que o nosso gato tinha a tal cicatriz, e o que ela dizia ser dela tinha a mesma, coisa estranha, explicou-lhe a nossa mãe, quase zangada.
Passados poucos minutos, da janela, vimos a mãe voltar vitoriosa, com o gato ao colo.
A vizinha nunca mais nos falou. Mas não me ralei porque ela era uma pessoa azeda, cinzenta e não gostava dela.
Só que o nosso gato tinha a tal cicatriz, e o que ela dizia ser dela tinha a mesma, coisa estranha, explicou-lhe a nossa mãe, quase zangada.
Passados poucos minutos, da janela, vimos a mãe voltar vitoriosa, com o gato ao colo.
A vizinha nunca mais nos falou. Mas não me ralei porque ela era uma pessoa azeda, cinzenta e não gostava dela.
Ilustração:
Gatos e pintores
1. Mary Cassatt, Menina com o gato
Gatos e pintores
1. Mary Cassatt, Menina com o gato
2. Pierre-Auguste Renoir, Rapariga com um gato ao colo
Sempre a maravilha que só a força de uma alma boa e poética consegue transmitir...
ResponderEliminarM.