domingo, 6 de março de 2011

Harlan Coben, escritor policial, um escritor do nosso tempo

imagem do filme de Guillaume Canet, "Ne le dis à personne" (2006)
Li uma entrevista com Harlan Coben no El País (Suplemento Vida & Arte de 03/03/2011) feita pelo enviado especial em N.Y. Carlos Geli, a propósito da saída do seu novo romance, Live Wire.
fotografia de "El País"
E confesso que, apesar da minha desconfiança em relação ao fenómeno dos escritores “best-seller”, fiquei interessada no autor.
O título da entrevista é uma frase de Coben: “Os leitores já não se contentam com os detectives que investigam apenas”.

De acordo.

Pensei logo noutros escritores(as) policiais: Batya Gur (israelita), Margaret Atwood (canadiana), Ruth Rendell (inglesa), Simenon (francês) etc.

Os seus heróis, detectives, comissários, não “investigam” apenas.
Explicam, compreendem (tentam compreender) a psicologia do assassino e –mais- a razão, o movimento que os conduz, o motivo profundo que “está” por detrás do crime, da acção hedionda de tirar a vida a alguém.

tradução portuguesa de "Long Lost", da Editorial Presença


Desculpem a interrupção...

capa da edição brasileira de "Caught"(Sextante)

Harlan Coben nasceu no Newark (Nova Jersey), em 1962.

Escreveu até hoje um grande número de livros policiais, livros apreciados, premiados, etc, tornando-se pois num dos tais best-sellers de que falei...

Pelo seu último livro “Alta Tensão”, que espero seja traduzido em breve ("Live Wire", à venda a partir de 22 de Março na Amazon), recebeu o 4º Prémio Internacional do Romance Policial RBA.

Vendeu já 47 milhões de livros, foi traduzido em mais de 30 idiomas, etc etc.
O sucesso!

O que ele diz é, por vezes, muito interessante. E o seu rosto um tanto "patibular" -de thriller- é simpático!

À pergunta do jornalista se não será ele o autor americano que mais “reflecte” o seu tempo, responde:

Pode ser que os meus livros reflictam o mundo de hoje, mas, no entanto, eu não escrevo para retratar nenhuma sociedade; o que podem revelar dela é para mim secundário em relação à minha história”.

Quando o entrevistador lhe diz que o seu detective, Myron Bolitar, se comove com demasiada facilidade, não hesita:

As personagens de Chandler são normalmente heróis que caminham solitários pelas ruas, com um grande vazio interior. Eu tentei passar isso para o século XXI e saiu-me o Bolitar, personagem bem menos “cool” e elegante do que tinha pensado...
Bolitar tem um pequeno grupo de amigos, quer fazer as coisas bem, e às vezes saem-lhe mal, por isso sente-se frustrado...Com os anos tornou-se mais inseguro perante a vida e é por isso mesmo que o acho hoje mais interessante do que era no passado
.”

Quando o tentam “aproximar” da novela policial nórdica (hoje com tanto sucesso), diz, simplesmente:


Talvez haja parecenças... Nunca tinha pensado nisso. Mas o que me interessa é o elemento humano. Se as emoções não forem reais (...), sem sentimento, uma história é um pouco como uma grande carro potente e sem gasolina: não vai a lado nenhum.”


E acrescenta:
“Quando criei Myron Bolitar há mais de 20 anos, os detectives não envelheciam e muitas vezes só resolviam um caso na vida e nada confessavam da sua situação pessoal.
No meu 1º livro, Bolitar tem 27 anos e a sua vida privada. Hoje o leitor já não aceita detectives que se limitam a investigar”.


Termina, afirmando:
Sabe, nós, os escritores policiais, somos um pouco os escritores sociais do nosso tempo...”

Penso em Ruth Rendell, no seu comissário Wexford mais o ajudante Burden, nas discussões infindáveis para perceberem, nas “interpretações”, nas dúvidas, nas mais variadas e trágicas situações “sociais” e humanas que surgem; lembro Batya Gur e o detective Michael Ohayon que se debate com as rivalidades, ambições, a criação nos mais diversos ambientes culturais e sociais ; lembro Simenon e o humaníssimo Miagret que nada esqueceu da vida de todos os dias, dos dramas morais, das causas psicológicas, das vidas vividas em ambientes sórdidos.

Da flor que sai do esterco, tantas vezes...
Os grandes escritores são realmente os que falam de tudo isso.

Escritores policiais (ou não), bons são os que falam do homem na sua totalidade: os escritores sociais – e humanos.
Do nosso tempo... E de sempre.

Biografia:

Harlan Coben começa a escrever a série com o detective Bolitar (Myron Bolitar) em 1995
Ganha nesse ano o Prémio Edgar Poe
Mystery Writers of America’s
Ganhou o Prémio Anthony Award da “World Mystery Conference” e o
Shamus Award, atribuído pelo “Private Eye Writers of America, além de outros.
O romance “One False Move” ganhou no Reino Unido o prestigioso prémio literário (concedido anualmente pela maior cadeia de livrarias inglesa, a “W. H. Smith” ).

O romance “Tell No One” (Ne Le Dis A Personne) ganhou “Le Grand Prix des Lectrices de Elle”.


Livros traduzidos em português

Círculo de Leitores:
A Última Vez que a Viram/​Uma Vida em Jogo (1995)
Ati­rar a Matar (1996)
O Atleta Desa­pa­re­cido (1996), publi­cado pelo Cír­culo dos Lei­to­res em 2004
Um Passo em Falso (1998), publi­cado pelo Cír­culo dos Lei­to­res em 2005 

Editorial Presença:
Não Con­tes a Nin­guém (2001), publi­cado pela Edi­to­rial Pre­sença em 2003
Desa­pa­re­cido Para Sem­pre (2002), publi­cado pela Edi­to­rial Pre­sença em 2005
Na Pista de um Rapto (2003), publi­cado pela Edi­to­rial Pre­sença em 2004 
Ape­nas um Olhar (2004), publi­cado pela Edi­to­rial Pre­sença em 2006  
Um Estra­nho Caso de Culpa (2005), publi­cado pela Edi­to­rial Pre­sença em 2007 
Promete-​me (2006), publi­cado pela Edi­to­rial Pre­sença em 2007 
Morte no Bos­que (2007), publi­cado pela Edi­to­rial Pre­sença em 2008 
Inva­são de Pri­va­ci­dade (2008), publi­cado pela Edi­to­rial Pre­sença em 2009 
A Ver­dade nos Olhos (2009), publi­cado pela Edi­to­rial Pre­sença em 2010

Filmes:

O romance “Tell no One” foi adaptado para o cinema, com grande sucesso, em França, pelo realizador Guillaume Canet (2006) , com os actores Francois Cluzet e Kristin Scott Thomas.

o realizador francês, Guillaume Cantet

Ganhou, então, o Prémio Lumière e foi nomeado para 9 Césars (o Oscar francês) dos quais conseguiu quatro: melhor filme, melhor actor, melhor música e melhor realizador.


Para os fanáticos de literatura policial “consultarem”:


http://www.harlancoben.com/static/bio.htm
http://www.mysterywriters.org/
http://www.mysterybooksellers.com/
http://portugalcreative.blogspot.com/2011/02/opinioes-literarias-morte-no-bosque-de.html


5 comentários:

  1. Gostei muito do primeiro livro que li dele. Li o segundo e achei-o parecido com o primeiro. Li o terceiro e achei-o parecido com o 1º e com o 2º. Penso que ainda terei lido um 4º e talvez um 5º, mas como também os achei parecidos com os anteriores, deixei de os ler...(naqueles que eu li, havia sempre alguém que se pensava que tinha morrido, mas que afinal estava vivo e se revelava perto do final e os bons acabavam bem, por isso gostei muito do primeiro). Gosto muito de policiais. Li livros dos outros autores citados que comparativamente gostei mais por cada livro de cada autor não se parecer na história com o anterior.
    um beijinho

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  2. Boa, Gábi! Acontece muitas vezes... Ainda bem que me disse: vou pensar e compro só um! Qual era o 1º, aquele de que gostou??
    É o que distingue os "bons" dos outros, nunca se repetem, apesar de falarem sempre do mesmo: o homem.
    Leia a Batya Gur, se a encontrar claro. Acho que não está traduzida: essa fala do mesmo, mas é sempre diferente.
    Já morreu e tive pena, porque sei que teria mais para dizer...
    beijinhos

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  3. Eu tbm gostaria saber o titulo do 1°.
    Fico um pouco curiosa dum detective que comove-se.
    Quanto a Batya Gur, alguns são traduzidos em portugués, eu mismo li O ASSASSÍNIO DE SÁBADO DE MANHÃ e sei que por Mj é um dos melhor livros da B Gur. Verdade, MJ? :-)

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  4. Já não me lembro de qual foi o 1º que li, mas o 2º era igualmente bom, assim como o 3º, o único problema era a semelhança nas histórias, por isso será indiferente começar pelo 2º ou pelo 3º :)

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  5. Grande mestra MJ Falcão

    Apreciei seu comentário no meu blog "bons livros para ler" sobre Harlan Coben. E como bom aluno que sou estarei sempre aqui para aprender mais sobre esse escritor e outros também. Alguns títulos por você mencionados ainda não chegaram ao Brasil. Se chegaram vieram com títulos diferentes.

    Concordo com sua amiga Gabi que existe uma fórmula do autor na condução dos enredos, no entanto, existe em alguns livros sempre um elemento inesperado. Algo divertido, um fim no mínimo inusitado. No livro "Não há segunda chance" tem um final que eu considero no mínimo hilário. Daí, que eu acabei postando esse livro como sugestão.

    Mas de qualquer maneira agradeço sua visita.

    Um grande abraço

    Luiz Guilherme de Beaurepaire ( Bons Livros Para ler)

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