Resta-nos a poesia, neste mundo em que nos sentimos perdidos, solitários, incompreendidos, usados, trocados pelos mercados, bolsas, vendidos, em último lugar - quando deveríamos estar em primeiro...
Tanta ilusão, tanto ideal, tanta esperança...
O que vai ser feito de tudo isto? Vamos deixar-nos roubar também a esperança?
Não! Nem a esperança, nem o sonho...
Nós queremos o sonho! E ainda temos a Poesia!
"Abre-se uma porta. Uma espécie de luz surge, como a brancura da madrugada. Ouve-se o como o murmúrio de uma fonte, o vento nas folhas, o rumor da cidade ao pôr do sol. Como um fósforo que riscamos. E que, fugitivamente, ilumina as paredes. É como uma respiração este sopro que acalma, que nos enche de esperança, um instante apenas -e é tão precioso! (...) Uma página, des linhas e dá-se o milagre. Uma palavra só e é um incêndio que nos traz felicidade. Que dá vontade de sonhar a vida."
"Un peu de poésie", Alain Rémond (in "Marianne", nº 725, 12-18 de Março)
Estas palavras de Alain Rémond, que li hoje, ajudaram-me a continuar a sonhar ...
Marc Chagall, o ramo de flores
Os olhos rasos de água
de Eugénio de Andrade
Cansado de ser homem durante o dia inteiro
chego à noite com os olhos rasos de água.
Posso então deitar-me ao pé do teu retrato,
entrar dentro de ti como num bosque.
É a hora de fazer milagres:
posso ressuscitar os mortos e trazê-los
a este quarto branco e despovoado,
onde entro sempre pela primeira vez,
para falarmos das grandes searas de trigo
afogadas a luz do amanhecer.
Posso prometer uma viagem ao paraíso
a quem se estender ao pé de mim,
ou deixar uma lágrima nos meus olhos
ser toda a nostalgia das areias.
Eugénio de Andrade, in"As palavras interditas"
Pintor, gravador e vitralista judeu bielorusso, Marc Chagall nasceu em Vitebsk em 7 de Julho de 1887.
Duas escolhas magníficas!
ResponderEliminarSonhe MJ Falcão. Tem tudo para poder continuar a sonhar e congratulo-me com isso.
Tudo o que emana de si é carinho e sonho e uma beleza no viver. Olhe à volta do que a rodeia ou simplesmente para o lado.
Tudo muito belo, mesmo sendo suspeita porque adoro estas duas personagens, elas merecem o rótulo.
Beijinhos :)
À procura de um texto sobre Georges Simenon, encontrei seu blog. E gostei muito dele.Parabéns.
ResponderEliminarObrigada, Ana, claro que vou querer sonhar ainda mais! Nunca voi desistir de acreditar que as coisas podem mudar...para melhor!
ResponderEliminarbeijo amigo
Paulo, fico contente pelo que disse do meu blog. Vi os seus "ossos todos iguais"; descobri que também tem uma atracção pelo "policial"... Já escrevi muito sobre Hammett, Chandler, Ag. Christie, Ruth Rendell...
Abraço
Brinca a manhã feliz e descuidada,
ResponderEliminarcomo só a manhã pode brincar,
nas curvas longas desta estrada
onde os ciganos passam a cantar.
Abril anda à solta nos pinhais
coroado de rosas e de cio,
e num salto brusco, sem deixar sinais
rasga o céu azul num assobio.
Eugénio de Andrade, ( Poemas )
Canção
ResponderEliminarEugénio de Andrade
Tu eras neve.
Branca neve acariciada.
Lágrima e jasmim
no limiar da madrugada.
Tu eras água.
Água do mar se te beijava.
Alta torre, alma, navio,
adeus que não começa nem acaba.
Eras o fruto
nos meus dedos a tremer.
Podíamos cantar
ou voar, podíamos morrer.
Mas do nome
que maio decorou,
nem a cor
nem o gosto me ficou.
Amei o seu blog!