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Lá está a estação de Santa Apolónia outra vez, hoje mais moderna, com as grandes janelas envidraçadas do café da gare, que abrem para o exterior.
Do café que não existia nesse tempo.
Mas as casinhas coloridas, azuis, amarelas da zona ribeirinha da velha Lisboa pouco mudaram.
Alguns prédios "subiram" é certo e os carros invadiram a cidade... 
Essa primeira ida de comboio, ao Porto, foi há uns bons anos! Teria uns catorze anos, acabara o 5º ano do liceu.
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Sozinhas, eu e a minha irmã mais velha, íamos passar umas férias na praia, a casa dos meus tios, então em São Mamede de Infesta.
Praia que lembro de ondas bravias e espraiando-se em espuma branca na areia clara.
Mar do Norte, penso hoje, pois nessa altura ignorava o que era o mar do norte...
Hoje vejo desfilar a mesma paisagem –igual não decerto, tanto se modificou o perfil da nossa terra.
E - sabe-se lá por quê?-, volta-me o mesmo enjoo...
E - sabe-se lá por quê?-, volta-me o mesmo enjoo...
O Alfa estremece como nesses tempos o tal foguete e, logo à saída de Santa Apolónia, sinto-me agitada, nervosa.
“Angustiada”, diria a Florinda que nesses tempos estava ainda em casa dos meus pais. Para ela, a palavra era sinónimo de “enjoada”, doente.
Enjoa-me agora o cheiro da comida que os outros comem, tapo a boca e o nariz com um lenço. Mal consigo olhar para o copo de sumo de laranja que mandei vir...
Nem respiro.
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Na outra viagem, sei que, apesar de enjoar, comi sopa de tomate com um ovo escalfado no cimo do prato –e é só do que me lembro.
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Para trás, ficara -hoje, e então- a estação de Lisboa. Santa Apolónia como todas as estações lugar de solidão e melancolia.
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E lugar de abandono...
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São felizes os que partem?
E lembro o grande Cesário Verde, o inigualável poeta do Sentimento dum Ocidental:
"Batem os carros de aluguer, ao fundo,
"Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista exposições, países;
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!"
Quantos por ali ficam nos cais de que nunca partem, com a "maresia dos dias" -de que falava Pessoa?
Quantos estão ali, porque está quente lá dentro e não têm para onde ir?
O que nos entristece é solidão de quem fica? Preso, num horizonte fechado?
O que nos entristece é solidão de quem fica? Preso, num horizonte fechado?
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É a melancolia de quem parte e deixa para trás alguma coisa, que às vezes nem sabe o que é?
Ou, apenas, a melancolia dos lugares de onde partimos?
Ou a esperança de chegar a um lugar diferente? Outros céus, outras gentes...
Continuo "angustiada"...
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Oh! Quem me dera já nas ruas movimentadas, sob os céus cinzentos do Porto!
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Nota:
S.Mamede de Infesta é a denominação que esta freguesia tem no ano de 1706, pois anteriormente só se chamava S. Mamede, como vem nas Inquirições de 1258 e no censo de 1527.
Achei muito interessante o blog sobre "caminhos de ferro", linhas e comboios - coisas que sempre me encantaram:
Gosto de estações de comboio, talvez porque significa partir, signicaa solidão e melancolia mas também tem o reverso: o que se poderá encontrar? Que mundos existem para além deste nosso que é tão pequeno?
ResponderEliminarBeijinho!
Uma viagem de comboio!!!
ResponderEliminarHá anos que não ando de comboio. Nem me recordo muito bem essa viagem que terei feito entre Abrantes e Portalegre, pois na altura vir de carro era um luxo para poucos.
Adorei as fotos.
Porto, como eu adoro o Porto!!!
Espero que a estreia tenha corrido bem..
Beijokas do Alentejo!
O teu olhar fez-me lembrar um passarinho, nâo sei que pássaro exactamente, ou seria um cachorrinho,ou os olhos de um recém-nascido?
ResponderEliminarNao saberia dizer exactamente, mas foi uma sensaçâo curiosa.
Beijinhos desde Palma.
Ana, eu sinto o mesmo...
ResponderEliminarÓ Maria, que bonito! Eu queria mesmo ter esses olhos!!! Obrigada...
Carlota querida, bem vinda outra vez! O comboio é a descoberta que nunca cansa..
Adoro andar de combóio. Será que foi po passar os meus melhores anos a andar de combóio na linha de Cascais?
ResponderEliminaré pena que a nossa rede de transportes ferroviários seja tão pequena. Nem há conbóios em Bragança!!como é possível?