sábado, 5 de março de 2011

Viajando pela nossa terra: de Lisboa ao Porto...

Viagem ao Porto, de comboio.

Hoje no Alfa Pendular (que nome estranho...), ontem talvez no “flecha de prata” –ou seria o “foguete”? Era um nome que recordo com esse "toque" um tanto “espacial”, sugestivo de velocidade e espaço e maquinarias...

Lá está a estação de Santa Apolónia outra vez, hoje mais moderna, com as grandes janelas envidraçadas do café da gare, que abrem para o exterior.

Do café que não existia nesse tempo.

Mas as casinhas coloridas, azuis, amarelas da zona ribeirinha da velha Lisboa pouco mudaram.

Alguns prédios "subiram" é certo e os carros invadiram a cidade... Essa primeira ida de comboio, ao Porto, foi há uns bons anos! Teria uns catorze anos, acabara o 5º ano do liceu.


Sozinhas, eu e a minha irmã mais velha, íamos passar umas férias na praia, a casa dos meus tios, então em São Mamede de Infesta.

Praia que lembro de ondas bravias e espraiando-se em espuma branca na areia clara.

Mar do Norte, penso hoje, pois nessa altura ignorava o que era o mar do norte...

Hoje vejo desfilar a mesma paisagem –igual não decerto, tanto se modificou o perfil da nossa terra.
E - sabe-se lá por quê?-, volta-me o mesmo enjoo...

O Alfa estremece como nesses tempos o tal foguete e, logo à saída de Santa Apolónia, sinto-me agitada, nervosa.

“Angustiada”, diria a Florinda que nesses tempos estava ainda em casa dos meus pais. Para ela, a palavra era sinónimo de “enjoada”, doente.

Enjoa-me agora o cheiro da comida que os outros comem, tapo a boca e o nariz com um lenço. Mal consigo olhar para o copo de sumo de laranja que mandei vir...
Nem respiro.

Na outra viagem, sei que, apesar de enjoar, comi sopa de tomate com um ovo escalfado no cimo do prato –e é só do que me lembro.


Para trás, ficara -hoje, e então- a estação de Lisboa. Santa Apolónia como todas as estações lugar de solidão e melancolia.

E lugar de abandono...
São felizes os que partem?
E lembro o grande Cesário Verde, o inigualável poeta do Sentimento dum Ocidental:

"Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista exposições, países;
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!"
Quantos por ali ficam nos cais de que nunca partem, com a "maresia dos dias" -de que falava Pessoa?
Quantos estão ali, porque está quente lá dentro e não têm para onde ir?

O que nos entristece é solidão de quem fica? Preso, num horizonte fechado?
É a melancolia de quem parte e deixa para trás alguma coisa, que às vezes nem sabe o que é?

Ou, apenas, a melancolia dos lugares de onde partimos?

Ou a esperança de chegar a um lugar diferente? Outros céus, outras gentes...
Continuo "angustiada"...
Oh! Quem me dera já nas ruas movimentadas, sob os céus cinzentos do Porto!

Nota:

S.Mamede de Infesta é a denominação que esta freguesia tem no ano de 1706, pois anteriormente só se chamava S. Mamede, como vem nas Inquirições de 1258 e no censo de 1527.

Achei muito interessante o blog sobre "caminhos de ferro", linhas e comboios - coisas que sempre me encantaram:

5 comentários:

  1. Gosto de estações de comboio, talvez porque significa partir, signicaa solidão e melancolia mas também tem o reverso: o que se poderá encontrar? Que mundos existem para além deste nosso que é tão pequeno?
    Beijinho!

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  2. Uma viagem de comboio!!!
    Há anos que não ando de comboio. Nem me recordo muito bem essa viagem que terei feito entre Abrantes e Portalegre, pois na altura vir de carro era um luxo para poucos.
    Adorei as fotos.
    Porto, como eu adoro o Porto!!!
    Espero que a estreia tenha corrido bem..
    Beijokas do Alentejo!

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  3. O teu olhar fez-me lembrar um passarinho, nâo sei que pássaro exactamente, ou seria um cachorrinho,ou os olhos de um recém-nascido?
    Nao saberia dizer exactamente, mas foi uma sensaçâo curiosa.
    Beijinhos desde Palma.

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  4. Ana, eu sinto o mesmo...
    Ó Maria, que bonito! Eu queria mesmo ter esses olhos!!! Obrigada...
    Carlota querida, bem vinda outra vez! O comboio é a descoberta que nunca cansa..

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  5. Adoro andar de combóio. Será que foi po passar os meus melhores anos a andar de combóio na linha de Cascais?
    é pena que a nossa rede de transportes ferroviários seja tão pequena. Nem há conbóios em Bragança!!como é possível?

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