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Não, não é um conto de fadas, conto fantástico, daqueles em que o príncipe vive aprisionado num corpo de pássaro azul, ou a princesa Zoé se vê transformada em cãozinho, pela sua maldade.
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O príncipe Leonel, ao nascer, traz, em vez das orelhinhas róseas dos recém-nascidos, umas pequenas orelhas de burro...
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capa da 2ª edição, de 19146, ilustrada com desenhos de Júlio, irmão do poeta
A mãe, a Rainha, chora desesperada, inconsolável.
Mas aceita, porque houvera um pacto que ela selara um dia, com forças sobrenaturais...
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Num dia de temporal.
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Primeiro, são as touquinhas de renda, depois, os turbantes de seda e cetins coloridos que vão, enquanto os anos correm velozes, encobrir as tais orelhas de burro.
Descobri este romance por volta dos 10, 11 anos e tudo me encantava e comovia naquela história.
Descobri este romance por volta dos 10, 11 anos e tudo me encantava e comovia naquela história.
Lembro ainda, na distância do tempo, a tristeza que me deixou o destino do Príncipe.
Quando, à noite, ele desfazia as faixas de seda e as orelhas saíam, elas pareciam tão tristes como os olhos do Príncipe. E eu ficava triste também.
Um dia, o Príncipe apaixonou-se pela Princesa Letícia.
Mas não conto mais. Era bom que pudessem encontrar o livro de Régio, para saber o fim da história de encantar...
Talvez numa Biblioteca Pública, quem sabe?
A última editora, a Brasília, acabou já, mas talvez encontrem na edição das Obras Completas da Imprensa Nacional...
Vale tanto a pena! É tão bonito!
Bem. Agora, conto a parte divertida da história.
Eu tinha uma grande amiga –a minha melhor amiga na infância- que se chamava Letícia!
Nós chamávamos-lhe “Tiça” e, como era uma moreninha de olhos brilantes, por vezes brincávamos chamando-lhe “tição”, escura como o carvão e a arder.
Havia lareiras e braseiras naquele tempo e o tição a arder, em brasa, era uma coisa comum.
Vivíamos na mesma rua, eu dum lado, ela do outro.
A mãe era a melhor amiga da minha mãe e o pai era o meu professor de Desenho e Trabalhos Manuais, no Liceu, o Professor João Tavares, aguarelista de valor, na cidade.
Não era assim tão estranho, no fundo, que ela se chamasse assim... José Régio era o padrinho dela.
“Les beaux esprits se rencontrent toujours?” Talvez sim, ou talvez não...
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“Era duma vez, no reino de Traslândia, um casal que não tinha filhos. Grande mágoa, suponho, dever ser não ter filhos um casal que se entende bem. E assim era nesse casal. Eis por que o marido começara de precocemente encanecer, entretendo seus ócios com aprender jogos chineses, coleccionar pássaros e armas brancas, estudar dialectos e outras futilidades semelhantes; e a mulher se tornava rabugenta, caprichosa, avarenta, fanática, histérica (tendo sido a própria imagem da alegria!) como se não houvera casado, e antes do tempo envelhecera de inutilidade e amargor. Esse casal que se adorava principiara, até, a não poder tolerar-se: Como quasi todos os infelizes ligados por uma desgraça comum e odiada, cada um via no outro o espelho do seu infortúnio.
(...) Pois não me ia esquecendo de um pormenor importante?: Ele era o próprio rei e ela a rainha da Traslândia(...)"
(...) Pois não me ia esquecendo de um pormenor importante?: Ele era o próprio rei e ela a rainha da Traslândia(...)"
E assim vai continuando...
NOTAS: 1ª edição: “História do Príncipe com Orelhas de Burro. História para crianças grandes”, Editorial Inquérito, Limitada, Colecção “os melhores romances dos melhores romancistas”, Lisboa, 1942
2ª edição: O Príncipe com orelhas de burro. História para crianças grandes" (esta 2ª edição da Editorial Inquérito tem capa e ilustrações de Júlio -o poeta Saúl Dias, irmão de Régio), Brasília Editora, Lisboa, 1946
Seguem-se outras edições na Brasília Editora e, ultimamente, na edição das Obras Completas do autor, da Imprensa Nacional
Olá Falcão :)
ResponderEliminarInteressante o seu post :) e adivinhe!!! A minha mãe tem este livro lá em casa, mas agora será por pouco tempo, vou pegar nele. Quanto era novinha (pois...quando era ahaha) peguei nele e li, mas não cheguei ao fim, tenho de colmatar esta falha :)
Abraço
Adoreim mais fiquei com vontade de ler. Parece Monteiro Lobato e o Sítio do Pica Pau Amarelo.
ResponderEliminar5 bjs
A pesquisar imagens para a divulgação do livro "O Píncipe com orelhas de Burro", encontro esta preciosidade. Parabéns pelo blog.
ResponderEliminarUm abraço
Boa noite,
ResponderEliminarSou grande apreciadora da obra de José Régio, poesia e prosa e, embora não seja algo fácil de definir, é o autor português que mais me toca.
Tinha agora mesmo acabado de ler "O Príncipe com Orelhas de Burro" e vim parar aqui ao seu blog.
Felicito-a pelo post, pelo incentivo à leitura desta obra tão rica e tão singular. Gostei bastante do toque da sua história pessoal, da referência ao Dr. Reis Pereira, pessoa real e não personagem inatingível. Acredito que ter tido José Régio como professor tenha sido um privilégio singular.
Um bem haja,
Cristina
Obrigada, Cristina! Não imagina a alegria que me deu! Por mim, claro, pois todos gostamos que "gostem" de nós e das nossas "criaturas"/criações ou lá o que for o que escrevemos com amor... Mas também pelo Régio de quem muito fui amiga de pequenina e que tanto apreciaria o seu comentário!
ResponderEliminarObrigada! um beijo~...
Venha sempre visitar-"nos"!
o falcão
Reli o post e vi que há imensas repetições e uma apressentaçãográfica péssima, no final. Peço desculpa, deve ter sido do entusiasmo......
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