“Deus ouve e julga as gentes; julga-me, Senhor, de acordo com os meus actos, com a minha rectidão, e de acordo com a minha integridade, julga-me ( recompensa-me).”
(Salmos, VII, 10)
Isto vem a propósito de um artigo que li no “El País”, há dias: educação sexual nas escolas, sim ou não?
Para mim é uma pergunta “retórica” porque a resposta é obviamente “sim”!
Perante as estatísticas portuguesas, e de outros países considerados mais “avançados” como a França, o número de adolescentes grávidas aumenta de dia para dia e atinge proporções abnormes.
Abrem centros de acolhimento para as jovens-mães em vários países da África (ligados entre outras razões à violência de países em guerra em que o estupro é uma das armas de atque) mas também da Europa, não tenhamos ilusões...
Inúmeros são os casos de abortos (cá como lá e como na vizinha Espanha) procurados por jovens que não aceitam a ideia de ser mães; imensas as gravidezes de adolescentes cujas vidas ficam destruídas: mães com 15 anos, imaturas, cortadas de qualquer hipótese de “crescer”, estudar...O tal instinto maternal, de que tanto se fala, não é “inato” nem “obrigatório”.
E perante uma gravidez não esperada - nem desejada- nem todas as jovens mães terão a expressão suave e seráfica da Madonna de Filippo Lippi...Muitas dessas jovens engravidaram, sem saber como evitá-lo, e aceitam “resignadas” as consequências dessa ignorância.
Postas de parte, hoje como ontem, olhadas de lado, inferiorizadas - mas sobretudo queixando-se de "abandono"...
Lembro uma jovem francesa entrevistada num programa televisivo. Procurara apoio numa organização para mães-solteiras e falava do “erro” que a obrigara a deixar estudos, abandonada pelo pai do filho em primeiro lugar, pelos pais em seguida.
Sem futuro, com um olhar vazio e triste, dizia: “agora tenho que “pagar”, tenho o meu filho para criar...”
lar de acolhimento para jovens mães, hoje em Parislar para mães-solteiras, "Ledru-Rollin", finais do século XIX-XX
Isto vem a propósito do tal artigo no “El país” em que o articulista referia a contra-ofensiva da Igreja (no caso especial da cidade de Valência) contra a “educação sexual” nas escolas.
As soluções eram uma espécie de binómios de opostos: abstinência/“vícios”; disfuncionalidade familiar/noviciado casto.
Como sempre, bem/mal...
“A Igreja tem hoje via livre para ensinar a sua moral sexual nos colégios de Valência a alunos dos 5 aos 14 anos.
Isto, apesar de a Administração Autónoma contar já com manuais próprios, programa organizado (PIES, Programa de Intervenção em Educação Escolar) e elaborado pelas “Consejerias de Sanidad e Educación”, tendo sido esses programas e cursos convalidados por sociedades científicas que têm tido bom acolhimento nos centros de ensino onde já funcionam.” (El País, 03/03/2011).
A Igreja, porém, não concorda com esses cursos de sexualidade "laicos", considerando que há neles “uma visão muito reduzida do ser humano”, e anuncia que vai “contra-programar” os cursos oficiais.
"Assim, o Arcebispado (no jornal a notícia referia-se à cidade de Valência (*) apresentou há dias a sua alternativa: educar a sexualidade para o amor através de cursos a que chama de: “educação afectivo-social”."
Os conteúdos basicamente são:
1) A famíla funcional (?) é a melhor família;
2) As relações sexuais entre homossexuais não devem considerar-se esposos/pais (sic)
(*) A Federação de Associações Mães e Pais dos alunos de Valência criticou já os cursos da Igreja Católica, considerando-os retrógrados.
Apenas umas –poucas- palavras de "reflexão":
O que é essa "educação especial afectivo-sexual”?
Parece-me a descoberta da pólvora, assim de repente, a solução à mão...
Tenho ouvido os desabafos de alguns professores/as, colegas jovens e cheias de entusiasmo. Sentem um certo “desconforto”, insegurança, confessam a sua impreparação para falar de sexualidade com os seus alunos. Não se sentem à vontade: talvez não devessem ser “eles” a falar do assunto. Pensam que nem todos estarão “aptos” para falar dessa matéria.
Deveria haver cursos especializados – e creio que os há já- alguém que “soubesse” (e tivesse a sensibilidade) ensinar sem ofender susceptibilidades, causar “sustos” inúteis, ou “des-romantizar” o acto que deveria continuar, acima de tudo, um acto de amor...
O amor...
Mas quem é que sabe falar de amor?, pergunto...
E os tais cursos “afectivo-sexuais”, que a Igreja vai trazer como salvadores, como vão eles falar da sexualidade e do amor?
Parece que esses tais cursos têm a receita certa: Continência/abstinência/noviciado casto. Qual o significado?
Quem são esses “religiosos” que vêm falar de amor e sexo? Ou de "sexo-afectivo"? Ou de afecto e sexo?
Não sei, confesso, não os “ouvi”.
Deixo as minhas dúvidas, e umas perguntas elementares, como diria Sherlock Holmes ao amigo Dr. Watson:
"Elementar, meu caro Watson, elementar...”
Que sexualidade?
Quais os riscos de uma sexualidade ignorante? Qual a atitude - e como “aconselhar”?
É difícil falar de sexualidade...
Sim, é difícil... E de amor, é fácil falar?
Falar do amor a esses jovens sbandati, abandonados, solitários em casa, na rua.
Sempre, a solidão...
Estaremos nós todos –educadores, professores, religiosos, pais – preparados para falar do Amor?
Quem está “preparado” para falar do amor?
O que é o amor? Qual amor? Quais os perigos do amor?
Voltando aos tais cursos de salvação:
A afectividade de que falam –o que significa a afectividade para esses jovens?
Ensina-se "afectividade", nesses cursos “afectivo-sexuais” ?
Mas quem dá esses cursos? Que Igreja? Que pessoas?
Que amor?
O amor do Cristo?
Não foram "eles" nas igrejas que esqueceram o “amor do Cristo” em tudo o que fazem?
Não é só hipocrisia?
E penso, angustiada: "A que alunos vão eles ensinar afectividade e amor? O que sabem deles, das vidas deles?"
De onde vêm? A que famílias funcionais pertencem?
A família “funcional” ama-os? Pôde tomar conta deles?
Ensinou-lhes o amor? A eles, os filhos da solidão... Como ensinar-lhes o amor?
Respostas não as tenho. As respostas serão as que cada um encontrar dentro de si...
Mas, pergunto ainda: “e a hipocrisia, Senhor?”
Como cantava Léo Ferré: “Mais la solitude?”
Sim. A solidão...
Parafraseando Saddam Hussein, antes de morrer enforcado:
“A solidão? Ah! Essa é a mãe de todas as perguntas!”
Cara Falcão,
ResponderEliminarQue mulher maravlhosa es tú.
Portugal devia te conceder algum ministério, pelo ao menos as pessoas teriam voz as suas dúvidas e metas para suas angústias.
A solidão sim, sempre, entretanto esta é conseguencia da falta coletiva de humanidade. Somos separatistas e egoistas com tudo a nossa volta, isso nos ensinou a modernidade.
Pressa ... rapidez, falta de tempo ... individualismo.
O asunto é vasto e a angústia tremenda.
Educação sempre, a ignorancia é contudo a pior das madrastas e o pior dos carrascos.
5 grandes beijos para uma grande mulher.