terça-feira, 28 de julho de 2009

Sigrid Undset, a indomável



























Talvez por me encontrar nestas paragens do Norte da Europa, e pensar na criação da Inglaterra, nas invasões dos vikings, dos normandos, depois, não esquecendo a dos romanos que ficou para trás...de repente fui atrás dos vikings e, na memória, tocou uma campainha: tlim, tlim. Já a tinha ouvido há tempos quando em arrumações infindáveis nas estantes da casa –que nunca levam a nada, porque os livros continuam a não caber e eu não consigo desfazer-me deles...- vi os livros da Sigrid Undset que, na minha juventude, adorei.
Inesquecível a saga de “Cristina Lavransddater”...
Tinha os três volumes, enormes, (A Coroa, A Mulher e A Cruz), com capas lindas, publicado na colecção “Os Romances Universais”, da Portugália, - traduzido por Maria Franco, e prefaciado na 2ª edição, 1958, por João Gaspar Simões- mas foram-se perdendo pelas viagens.
Houve outro livro, que li dela há muitos anos, “Vigdis, a Indomável”, título em português, (A Filha de Gunnar), publicado pelas Edições Cor, em 1957, que me impressionou, pela força e violência e mesmo crueldade. A saga, a tragédia que persegue famílias na sede da vingança e e crueldade da mesma ("saga", seguida de"feud"). Iriginada pela opressão, rigidez e uma certa forma de primitivismo da vida, na Idade Média.
A jovem Vigdis, rebelde por natureza, orgulhosa, não perdoa a ofensa, mesmo que feitas (ou sobretudo por isso) pela pessoa que amava, sendo a sua vingança inesperada e terrível...
(Nota: creio que este livro foi publicado numa edição de 2009, como “Livro da Colecção Prémios Nobel”, do Diário de Notícias.)
Sigrid Undset nasce em 20 de Maio de 1882, em Kalundborg, na Dinamarca, onde o pai, um cientista norueguês se encontrava de momento. Aos dois anos a família muda-se para a Noruega, país de origem, devido à doença do pai.
Cresce em "Kristiaia", hoje Oslo. Os primeiros onze anos de vida foram muito influenciados pela doença do pai mas também pela sua personalidade e extensa cultura histórica. Foi ele que lhe deu a conhecer os segredos da arqueologia e também das sagas e das canções populares escandinavas.
Aos 11 anos perde o pai. A mãe vive dificuldades enormes para educar as três filhas com poucos meios. Esta tragédia familiar marca-a mito a sua infância e adolescência. Tem de desistir da aspiração a entrar na Universidade e limita-se a acabar o curso médio e fazer um curso de secretária. Aos 16 anos trabalha já como secretária numa grande companhia alemã de Oslo, onde trabalha mais de dez anos..
E dez anos de trabalho num escritório são um tormento para Sigrid que começa a escrever sempre que tem um momento livre para isso: de noite, até tarde, nos fins de semana e nas férias rouba todos os minutos disponíveis do seu repouso para escrever. Tinha pouco mais de 16 anos quando faz a sua primeira tentativa de entrar numa novela baseada na nórdica Idade Média. Durante anos anda atrás desse assunto. Ao mesmo tempo, cultiva-se, lê, estudadndo a literatura nórdica, e a literatura estrangeira, sobretudo a inglesa.
Emociona-se com Shakespeare, que muito admira, Chaucer e os Contos de Canterbury, e lê, também, a literatura escandinava (Ibsen e August Stindberg).
É também fiel leitora e admiradora de escritores como as Irmãs Brontë (Brontë sisters) e Jane Austen (Jane Austen).
Assim, por sua iniciativa, aproveitando todos os bocadinhos do tempo livre, adquire conhecimentos na arte de escrever preparando-se para aquilo que, desde miúda, pensara ser o seu destino, na vida.
O manuscrito da sua primeira novela está pronto aos 22 anos. É o resultado de muitas noites, durante muitos anos, a queimar o óleo do candeeiro e as pestanas, uma novela ambientada na Dinamarca medieval, ligado à escola literatura. O manuscrito foi devolvido pela casa editora o que foi um grande golpe para Sigrid Undset. Dois anos mais tarde, acabou outro manuscrito, desta vez menos volumoso. Pusera de parte a Idade Média e ebruçara-se sobre a descrição reaista de uma figura de mulher da pequena burguesia contemporânea: Fru Marta Oulie.
Sigrid Tem 25 anos.

Undset é autora duma obra que reflecte experiências autobiográficas centradas na problemática feminina contemporânea. Mas é, também a escritora de romances históricos nos quais plasma, com um estilo realista, a vida medieval, fazendo ressaltar as contradições das relações humanas, a capacidade de destruição e auto-destruição, e, também, a contradição entre amor divino e amor humano.
Morre em 10 de Junho de 1949, na Noruega.
As sagas, “Kristin Lavransdatter” e “Olaf Audunsson” inserem-se na tradição medievalista norueguesa. O primeiro foi publicado, em três volumes, de 1920 a 1922, e o segundo, de 1925 a 1927.
“Cristina Lavrandsdatter” (três episódios: a Vida, A Coroa, A Cruz) vai seguir a vida de Kristin, mulher norueguesa, pura ficção, que vive no século XIV.

Recebeu o Prémio Nobel no ano de 1928.
Razões evocadas para a atribuição do prémio: “(...) principalmente pelo seu fortíssimo poder de descrição da vida na Idade Média norueguesa.”
O ciclo desse seu primeiro romance –uma trilogia modernista em que a autora experimenta modos de narrar, como o fluxo da consciência -passagens essas que, na tradução original inglesa, o tradutor, Charles Archer, acha por bem cortar.
Mais tarde, em 1997, aparece nova tradução de Tina Nunally que vai ganhar o Prémio PEN/Faulkner de Ficção na categoria “tradução”.
Figura inconformista, defensora da liberdade individual e de qualquer outra liberdade, é obrigada a fugir da Noruega quando este país é invadido e ocupado pelo regime nazi alemão, devido às posições tomadas.
Mulher corajosa, indomável, como as suas personagens, foge para os USA em 1940, e skia (já com 67 anos), debaixo de neve, pelas planícies e montanhas geladas, vai de ski, aguentando frio e fome até conseguir chegar a um país livre. Dali parte para a América, ficando até à libertação do seu país, onde regressa em 1945.
Da próxima vez, vou falar um pouco mais da saga “Cristina Lavransdatter”.
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Ilustrações:
1. retrato de Sigrid Undset, muito jovem
2. capa da edição portugues do livro "Vigdis, a indomável"
3. contra-capa do livro "Vigdis, a indomável"
4. capa da edição italiana de "La saga di Vigdis"

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Brighton "revisited": querem vir comigo?


Entramos por esta praça. Venham, que eu depois a seguir explico por que razão "voltei"...
Voltei mesmo?









































































































































































































































































































































































































"Voltei" a Brighton. Onde só tinha estado em imaginação -quando a escolhi para “cenário” do meu livro policial “Os Olhos de Jade”.
Nessa altura, o meu filho estava em Brighton, e, afectivamente, sentia-me perto dessa cidade. Procurei mapas, vi a internet, “estudei” ruas, escolhi percursos, “pubs”, procurei o Pier (no fundo, um pontão, mas tão especial...), imaginei a praia de Inverno, na minha invenção do lugar.
Desta vez, fui "vê-la", “fisicamente”.
Tinha-a recriado dentro de mim e agora receava que me desiludisse.
Mas a Promenade estava lá, com as suas balaustradas de ferro pintadas a azul-cobalto, o Pavilhão que ardeu há uns anos, e, mais longe, a construção sobre estacas, dentro do mar, do Pier Palace: do Brighton Pier.
E veio-me à memória a figura inesquecível, na sua desgraça, do Pinkie do “Brighton's Rock”, de Graham Greene. Recordo a fuga, a angústia, a perseguição pelas ruas, descendo até ao Pier Palace, com as suas máquinas de jogos, o barulho infernal, os vitrais lindos e as luzes funestas que estavam lá também e o esperavam.
A primeira coisa que fiz foi comprar o “stick” de açúcar que dá o nome ao livro de Greene: o pau de açúcar, vermelho por fora e branco por dentro, embrulhado num papel celofane e, gravadas a vermelho, em cada corte do stick, as escritas “Brighton rock”, tal marca indelével de uma condição: a do condenado Pinkie, que teria sempre –faça o que fizer- gravada, como o destino, a “marca” da sua origem.
Pus, finalmente, os pés na praia de seixos redondos e coloridos, lembrando fósseis polidos pelas ondas e marés, e pelo vento agreste que sopra.
Era um lindo dia de sol, ventoso e fresco, e havia gente a brincar na praia, ou apenas deitados ao sol em cadeiras de lona, ou a comer “fish and chips” nas esplanadas dos restaurantes simples, alguns quase quiosques apenas, mas o peixe (filetes de bacalhau fresco...) era bom e as batatas óptimas, acabadas de fritar. Gente simples que estava com a família, gente de todos os mundos, de todas as culturas que gozam o sol e a frescura do dia.
Vi o pequeno "Fishing Museum", com a entrada em arco e as paredes pintadas de vermelho escuro. Lá dentro, uma coisa que me comoveu: a notícia dos barcos de pesca -e de recreio também- que saíram de Brighton em socorro dos soldados ingleses e aliados, feridos, a morrer nas praias de Dunquerque, durante a missão de evacuação das tropas derrotadas, depois da incursão alemã nos portos do Canal da Mancha, em 1940.
Mas havia, igualmente, uma âncora gigantesca com conchas encrustadas, muitas imagens de marinhas e de barcos, do porto de Brighton, ao longo dos tempos e um grande barco velho, com os cabos gastos, o leme, e um pouco de areia e do cheiro a maresia da madeira que parecia húmida, acabada de sair das águas do mar.
Na praia, os divertimentos de feira –que me lembraram “la fête foraine” , o sonho, do livro maravilhoso de Alain Fournier, "Le Grand Meaulnes": os carrocéis com cavalinhos dourados, elegantes, que rodavam, ondulando, subiam e desciam, destacando-se no fundo azul-turquesa do mar, o céu mais claro, acima, cheio de nuvens que pareciam voar ao lado das gaivotas.
Mais adiante, os elásticos que levavam ao alto, quase ao céu com gritos, as jovens de pernas ao léu.
No Pier, ao fundo, a "roda da fortuna", espécie de montanha russa que só rodava, rodava, tal "eye of Brighton" - à imitação do "eye of London"...
Depois, outro carrocel pequenino que faz girar, chiando, monotonamente, os carrinhos cor de rosa, o “bus” vermelho, tipicamente inglês, onde duas ou três crianças, receosas, olham para fora à procura dos pais.
O pôr do sol cai, devagar, arrefece, é hora de voltar.
Para trás fica Brighton, reencontrada, igual ao que sonhara.
P.S. Vejam as fotografias e digam o que pensam... Desculpem a "disposição" das fotos, que deveria ser ordenada e não é, mas aqui quem manda é a máquina...

domingo, 26 de julho de 2009

O Museu Sherlock Holmes, em Baker Street: algumas fotos...

























































































































O meu entusiasmo foi tão grande, ao ver -ao vivo!- "a casa" do Sherlock Holmes, a sala, os móveis, o sofá ao canto da lareira, a janelinha sobre Baker Street com a cortina meio erguida, tal como a imaginara, que não resisti e tirei fotografias atrás de fotografias...
Parecia-me, de certo modo, ter recuperado o espírito da minha infância, quando tudo era possível, até tirar uma fotografia sentada no sofá de Holmes, em frente do [falso, mas tão verdadeiro!] Dr. Watson, com o boné do Sherlock Holmes na cabeça, a rir, tão divertida como quando ia ao circo (esta foto não a mostro, claro!).

Comecei logo à porta, a fotografar o polícia que, na brincadeira, enquanto endireitava o chapéu e ajeitava a capa das noites de nevoeiro, da Londres dos tempos de Jack o Estripador, e das aventuras de Sherlock e do Dr. Watson, dizia:
-"E se ela voltasse a estar na moda?..."
Depois, entrei e, deslumbrada, fui subindo as escadas: primeiro, segundo andar, e tudo era igual às histórias:
a mesa do Dr. Watson -cuja "figura" perfeitamente reconstituída nos pormenores, que, por acaso, entrou antes de nós, vindo do "pub" ali ao lado- nos ia explicando:
-"Esta é a minha mesa e aqui em cima da cadeira está a minha mala com os instrumentos...". Apontava noutra mesa, a lupa de Holmes, o violino ao lado do sofá, a mesinha com os cachimbos, o boné de abas levantadas, enfim, tudo...
-" Quer uma fotografia com o Dr. Watson?"
E quando eu, atabalhoada, me sentava no sofá, com a mala de mão ao colo, disse, ironica e suavemente:
-" A mala, não o Sherlock Holmes não ia gostar... Pode pôr o boné dele..."
E, pronto, aí está a tal fotografia!
Continuei a olhar em volta.
Num canto, uma vitrina com várias "armas do crime", revólveres, navalhas de ponta e mola enormes e até a faca que Jack o Estripador poderia ter utilizado, longuíssimo bisturi.
Na parede, uma nota sobre cães (só aparecem cães raivosos, agressivos nos livros, a não ser um cãozinho do Dr. Watson que se perde logo no princípio da história (ou o autor se "esquece" dele...), o ópio (Holmes era um fumador de ópio e drogava-se com cocaína, tomava substâncias estimulantes. Ali explicam como, naquela época, essas drogas eram usadas para fins "curativos", como anti-depressivos, tratamento para a neurastenia e outras doenças...); as substâncias e experiências químicas de Holmes; e a lupa e a sua utilidade quase miraculosa no método de Sherlock Holmes...
Enfim, tudo perfeito ...como nos crimes!
Deixo-vos com as fotografias...