Além dos bolos e queijos, serviam-se ali pratos quentes. O chamado "prato do dia" era barato e vinham ali os que trabalhavam perto e não tinham grandes posses.
Renoir vinha todos os dias.
É nessa leitaria que vai conhecer a jovem Aline Victorine Charigot.
Os sonhos de casamento de Mme Camille para as filhas acabam no dia em que descobriu que Auguste e Aline estavam apaixonados.
o baloiço
Então, bom coração como era, resolve ajudá-los e aconselhar Aline, para começar a tomar conta da roupa de Renoir, que bem precisava, não contar esses amores à mãe - personagem de língua viperina que só a desgraça dos outros alegrava...
mulher amamentando
Aline vai ser seu modelo, sua amante e, finalmente, sua mulher, quando o filho mais velho, Pierre, nasce. E o grande amor da sua vida.
E continua a contar as suas recordações.
Auguste lembra então a Fontaine des Innocents onde o pai o levava a passear, nos domingos.
a Fonte dos Inocentes, obra do arquitecto Lescot com baixos-relevos de Goujon
A bela e elegante "Fonte dos Inocentes", construída no reinado de Carlos IX, era contemporânea da grande “matança do dia de São Bartolomeu em que o jovem rei católico, sobretudo pressionado pela pérfida, intolerante e religiosíssima Catarina de Médicis sua mãe, manda chacinar milhares de protestantes!
De facto, enquanto os arquitectos construíam a fonte e os artesãos desenhavam e esculpiam as os baixos-relevos da fonte, perto do velho cemitério, outros havia que empilhavam os mortos, ao lado...
Renoir gostava de ir ver a fonte e admirar os trabalhos dos escultores, sobretudo as figurinhas de Jean Goujon.
Crescera, eram os tempos em que trabalhava na fábrica de porcelana dos irmãos Levy e muitas vezes ia em busca de inspiração para as suas pinturas nas loiças finas.
Trazia sempre caderno e lápis e parava a desenhar, copiando as figuras das ninfas cheias de vida.
Foi então que começou a distinguir os trabalhos de Jean Goujon dos outros.
Comentava ele com o filho este entusiamo: “As mulheres eram mais ou menos as mesmas, porque deviam ser os mesmos modelos."
Jean ouvia, atento:
"Corpos jovens e agradáveis, amigas com certeza dos escultores. Por que razão as de Jean Goujon eram mais excitantes do que as de Lescot? Por que é que diante delas podia passar horas a observá-las, a admirá-las, enquanto as outras me aborreciam logo?”
E concluía: “Se soubesse a resposta, era bom era...”
Mas Jean Renoir pensa que sabe qual é a razão desse encantamento do seu pai.
“Renoir, inconscientemente, sentia-se feito da mesma essência de Goujon. Falava muitas vezes de um livro que amava, O Livro da Selva, de Kipling, e citava sempre a frase de Mowgli: “somos do mesmo sangue, tu e eu”...
Assim, o filho sabia que era essa mesma sensação que Renoir tinha ao ver Goujon: eram do mesmo sangue...
“Entre pessoas do mesmo sangue a conversa torna-se mais fácil .”
Comunica-se mais facilmente com quem está “próximo” de nós, da nossa essência, do “nosso sangue”.
“Eis aqui toda a questão da difusão das obras de arte”, diz Renoir-filho. “Só os que se elevam ao nível do artista, podem participar na conversa. O seu número é forçosamente limitado.”
Quantas vezes nos acontece o mesmo a nós todos? Com certos artistas podemos “conversar” com outros não... Empatia, mas também, inconscientemente, coisas que vêm do instinto, da emoção e da sensibilidade que diferem de uns para outros: nós e os artistas...
Continua Jean Renoir a contar.
“Eu espantava-me e perguntava-lhe : então por que se abrem os Museus a toda a gente, a essa multidão ignorante?”
O pai respondia, tranquilamente: “A melhor maneira de aprender uma língua não é ir ao país onde ela é falada? Do esmo modo aceder à compreensão das pinturas, é olhar para as pinturas!”
Concluía sempre o pintor: “ E se em um milhão de visitantes, há apenas um a quem essa pintura faça sentir alguma coisa, isso é o suficiente para justificar a existência dos museus.”
Estres da Renascença. Em 1888, Renoir adopta um novo estilo, algumas vezes chamado “ nacré “ (nacarado), com uma coloração mais forte.
Conhece os grandes centros da cultura italiana: Entusiasma-se com a pintura de Rafael.
A viagem foi uma inspiração para buscar mais consistência em sua obra tentou tornar-se um artista em grande estilo renascentista. As figuras de suas obras tornaram-se mais imponentes e formais, e muitas vezes abordou temas da mitologia clássica.
O contorno das figuras tornara-se mais precisos, formas desenhadas com mais rigor e cores mais frias.
Em Dezembro de 1888, Renoir sente os primeiros ataques de artrite que abalaram as suas mãos; em 1898, depois de um ataque sério da doença, o seu braço direito fica paralisado. Daí em diante pinta, superando a grande dor, atando um pincel ao pulso...
Pinta até morrer.
http://en.wikipedia.org/wiki/Pierre-Auguste_Renoir
http://www.maguetas.com.br/impressionismo/renoir/
(*) O trabalho de Jean Goujon nesta fonte inspira-se em artistas italianos que vieram trabalhar no reinado de Francisco I, no Castelo de Fontainebleau, como p.ex. Rosso Fiorentino (1495-1540) ou Francesco Primaticcio (1504-1570). J
ean Goujon introduz uma nova concepção do baixo-relevo: as figuras procuram adaptar-se ao ambiente e bastam-se a si próprias. Consegue criar a ilusão do espaço. As ninfas de Goujon aparentam-se às da Antiguidade até então desconhecidas em França.
Terão vindo, pois, através dos renascentistas italianos de Fontainebleau.
(* *) "La Grenouillère não se referia apenas à quantidade de batráquios ali existente que populavam os prados em volta (grenouille, quer dizer rã), -diz Jean Renoir- mas também se aplicava a outra categoria, as jovens de pouca virtude –não propriamente prostitutas - que de espírito um tanto livre característico dos costumes do Paris que antecedeu e se seguiu à á queda do Império. Essas jovens tiveram o seu papel importante no mundo boémio: corriam os ateliers dos artistas, servindo de modelo grátis a este ou aquele, mudando de amante facilmente. (...)
Adorei ler.
ResponderEliminarAs pinturas escolhidas são todas muito belas.
Um beijinho
Isabel
Adorei este post.
ResponderEliminarAdorei!
ADOREI também. Tão leve este texto ! Apeteceu-me ir ver logo as pinturas do Renoir, mais e mais...`
ResponderEliminar"Pintou até morrer"... Gostei mesmo.
Beijnho!Mamé