Quando falei da lenda da "Lady de Shalott!, de Tennyson, e, dias depois, recordei uma história que costumava ler (ainda pequena, na varanda lá no alto da casa amarela), da triste história Duquesa de Brabante e que tinha lindas imagens para colorir.
Lembrei-me também da tragédia do Lohengrin de Wagner e de outra Duquesa de Brabante ( a internet nestas coisas é de grande ajuda) e da intervenção do sobrenatural...
Qual seria a história verdadeira da Duquesa de Brabante?
Depois lembrei-me de procurar o poema de Gomes Leal. Aqui fica...
A Senhora de Brabante
Tem um leque de plumas gloriosas,
na sua mão macia e cintilante,
de anéis de pedras finas preciosas
a Senhora Duquesa de Brabante.
N'uma cadeira d'espaldar dourado,
escuta os galanteios dos barões.
- É noite: e, sob o azul morno e calado,
concebem os jasmins e os corações.
Recorda o senhor Bispo acções passadas.
Falam damas de jóias e cetins.
Tratam barões de festas e caçadas
à moda goda:- aos toques dos clarins.
Mas a Duquesa é triste. - Oculta mágoa
vela seu rosto de um solene véu.
- Ao luar, sobre os tanques chora a água...
- Cantando, os rouxinóis lembram o céu...
Dizem as lendas que Satã vestido
de uma armadura feita de um brilhante,
ousou falar do seu amor florido
à Senhora Duquesa de Brabante.
Dizem que o ouviram ao luar nas águas,
mais louro do que o sol, marmóreo e lindo,
tirar de uma viola estranhas mágoas,
pelas noites que os cravos vêm abrindo...
Dizem mais, que na seda das varetas
do seu leque ducal de mil matizes...
Satã cantara as suas tranças pretas,
- e os seus olhos mais fundos que as raízes!
Mas a Duquesa é triste. - Oculta mágoa
vela seu rosto de um solene véu.
- Ao luar, sobre os tanques chora a água...
- Cantando, os rouxinóis lembram o céu...
O que é certo é que a pálida Senhora,
a transcendente Dama de Brabante,
tem um filho horroroso... e de quem
cora o pai, no escuro, passeando errante.
É um filho horroroso e jamais visto!
- Raquítico, enfezado, excepcional,
todo disforme, excêntrico, malquisto,
- pelos de fera, e uivos de animal!
Parece irmão dos cerdos ou dos ursos,
aborto e horror da brava Natureza...
- Em vão tentam barões, com mil discursos,
desenrugar a fronte da Duquesa.
Sempre a Duquesa é triste. - Oculta mágoa
vela seu rosto de um solene véu.
- Ao luar, sobre os tanques chora a água...
- Cantando, os rouxinóis lembram o céu...
Ora o monstro morreu. - Pelas arcadas
do palácio retinem festas, hinos.
Riem nobres, vilões, pelas estradas.
O próprio pai se ri, ouvindo os sinos...
Riem-se os monges pelo claustro antigo.
Riem vilões trigueiros das charruas.
Riem-se os padres, junto ao seu jazigo.
Riem-se nobres e peões nas ruas.
Riem aias, barões, erguendo os braços.
Riem, nos pátios, os truões também.
Passeia o duque, rindo, nos terraços.
Só chora o monstro, em alto choro, a mãe!..
Só, sobre o esquife do disforme morto,
chora, sem trégua, a mísera mulher.
Chama os nomes mais ternos ao aborto...
- Mesmo assim feio, a triste mãe o quer!
Só ela chora pelo morto!.. A mágoa
lhe arranca gritos que ninguém mais deu!
Ao luar, sobre os tanques chora a água...
- Cantando, os rouxinóis lembram o céu...
em "Claridades do Sul" de Gomes Leal
Prelúdio do Lohengrin, de Wagner
Ilustrações:
os pré-rafaelitas ingleses:
Simeon Salomon, Mulher de Azul
William Morris, papel pintado
Burne-Jones, a despedida do cavaleiro
John William Waterhouse, O missal
John William Waterhouse, Destino
William Morris, alcachofra, papel pintado
o pintor romântico alemão:
Casper David Friederich, corvos de Inverno
O poema de Gomes Leal é muito bonito e dos pré-rafaelitas gosto muito.
ResponderEliminarFoi aliciante rever estas telas tão "medievais" depois do tempo.
Beijinho!:)
MJ
ResponderEliminarNão conhecia este texto de Gomes Leal (ó meu Deus, como é possível ?!:) e fiquei encantada...
Importa-se que eu o coloque no Castelo?
Abraço
xx
ResponderEliminarClaro que pode, Virgínia! Até fico contente!
ResponderEliminarBeijo às duas
Não sei quem será a senhora de Brabante,mas aconselho-te, se não a conheces já, a ouvir o "Lohengrin" de Wagner con Hans Sotin como o rei Henrique " o passareiro", Plácido Domingo como Lohengrin, Jessye Norman como a princesa Elsa de Brabante ( filha de Henrique o passareiro), além de cantantes da talha de Sigmund Nimsger, Dietrich Fischer-Dieskau,etc.
ResponderEliminarSir Georg Solti dirige a orquestra filarmónica de Viena.
É uma das melhores versões desta ópera.Beijinhos
Tudo lindo neste post.
ResponderEliminarIsabel