Jean Renoir, actor e realizador do filme "La nuit du Carrefour" (de Georges Simenon)
Livro especial, pois, cheio de emoções, recordações que fazem sorrir, que fazem sofrer.
O livro começa quando Jean Renoir, ferido na Guerra (1915), é desmobilizado e volta para Paris, a viver com o pai.
Auguste Renoir e a mulher, Aline
A mãe morrera há pouco e Renoir-pai sente-se fragilizado, triste, não consegue sequer ter vontade de pintar.
Então, para o distrair, Jean vai-lhe perguntando coisas do passado, da sua pintura, da infância.
E Renoir vai contando.
Escrito ao correr da pena, recordando as conversas, os momentos especiais, as pessoas, os encontros, sem qualquer ordem cronológica, tem por isso uma grande frescura.
Parece-nos vê-lo sorrir das coisas que o pai lhe vai contando.
Le bal au Moulin
Renoir era uma pessoa simples, boa, que quando se ria todo o rosto se agitava: “parecia que a alegria lhe saia por todos os poros”, conta o filho. "A barba tremia, como que agitada pela alegria interior, os olhos castanhos bem vivos de natureza, franziam-se e brilhavam ainda mais...”
Auto-retrato de Renoir
Jean Renoir conta com ternura a história do pai. Os tempos de Montmartre, quando essa zona de Paris parecia uma pequena aldeia onde todos se conheciam, havia o bal-musette, onde se dançava e namorava;
La Grenouillère
Ou os almoços à beira-rio, os passeios de barco, tudo vivido numa convivência simples em que a camaradagem era importante.
No quadro, "Déjeuner des canotiers" encontra-se (à esquerda) Aline que vai ser a sua mulher bem-amada.
Le déjeuner des canotiers
Lugar onde se divertiam, dançavam. O conhecido quadro de Renoir, “Le Moulin de la Galette” retrata esse mundo: o domingo à tarde, no parque, à sombra das acácias.
Le bal du Moulin de la Galette
O Moulin tinha uma clientela especial e muita juventude. Jovens mulheres que trabalhavam durante a semana, vinham ali com os namorados; muitos artistas apareciam para coniver e distrair-se e até encontrar modelos não profissionais.
São os tempos em que conhece Aline, com quem depois virá a casar, com quem viverá toda a vida.
Uma vez, por acaso, vem à conversa o trabalho que Renoir fizera durante muitos anos (desde os 13 aos 17 anos) como pintor de porcelanas numa pequena empresa.
A dada altura, a invenção de uma máquina que passa a imprimir os desenhos, obriga a empresa a fechar. Os compradores preferiam essa nova técnica “porque assim ficavam com as chávenas todas iguais, sem a irregularidade da pintura à mão!”
Renoir ri. E diz: "o que mais me aborreceu foi ter de procurar outro trabalho, detesto tomar decisões...”
E fala ao filho da teoria da rolha...
“É melhor seguir a corrente às vezes... Só os loucos e os orgulhosos nadam contra a corrente... O melhor é dar com o remo um pouco mais para a esquerda, ou para a direita, no nosso caminho, mas nunca opormo-nos à corrente quando não é essencial...”
O filho indigna-se; «Tu, que fizeste a revolução impressionista? Dizem que mudaste mesmo a concepção da arte moderna!”
Ele responde, irónico: “Que revolução?”
E, calmamente, explica-lhe o que pensa. Para ele, os homens que fizeram algo de válido foram "os catalisadores de forças existentes e ainda desconhecidas do comum dos mortais".
Renoir pintou o retrato da mulher de Monet, de quem era muito amigo
Os grandes homens, insistia, " são aqueles que sabem olhar e compreender". Os que têm a percepção de uma necessidade do mundo moderno.
A propósito disso lembra-lhe que, apesar de achar que o pintor faria melhor se fosse ele próprio a “misturar” as suas tintas (no estado sólido, as tintas deviam tritar-se e ser misturadas) como dantes e fazia, quando não eram eles eram os aprendizes que trabalhavam no atelier...
Hoje não se justificava que se fizesse o mesmo, comenta.
“Prefiro estar a pintar em vez de perder o meu tempo a misturar as tintas. Como não há aprendizes, prefiro ir ali à rue Pigalle comprar os tubos ao meu amigo Mullard que já as misturou para mim...”
E continua a explicar as vantagens dessa "modernidade": “sem as tintas em tubo que se levam facilmente connosco, pintores não haveria Cézanne, e Monet, Sisley e Pissarro, não poderiam pintar em plena natureza! E não haveria aquilo a que os jornalistas de hoje chamam impressionismo...”
retrato do realizador Jean Renoir
Ao longo da biografia, Jean Renoir conta uma série de histórias muito vivas e interessantes sobre a vida do pai.
Um dia volto outra vez, para lhes contar mais coisas!
(*) Pierre-Auguste Renoir nasce em 25 de Fevereiro de 1841 em Limoges. O pai, era alfaiate e a mãe, Marguerite, costureira.
Pertenciam a uma família da classe média, com alguns problemas financeiros, que, em 1844, decide ir viver em
Adoro pintura, esta biografia deve ser muito interessante pelo que descreve!
ResponderEliminarObrigada por tanta beleza.
Hoje falei em Marvão e recuei ao tempo que lá vivi. Coloquei duas fotografias oferecidas por um amigo. Na altura não havia câmaras digitais.
Apoderei-me do castelo mas foi só por um dia.
Beijinhos! :)
Interessante,o que conta, e todas as pinturas são lindas.
ResponderEliminarUm beijinho
Isabel
Já voltei de Granada, a Carolina está bastante bem, vim satisfeita.
ResponderEliminarRenoir! Que posso dizer eu mais de esse génio? Tenho um livro sobre ele e a sua obra de François Fosca. Sempre cantou a felicidade e a alegria de viver,a pintura foi até ao fim dos seus dias um refúgio para ele, por isso mesmo nunca quis expressar nela os seus sofrimentos.
¡Un besito!
Renoir é um dos meus pintores prediletos. Amo os Impressionistas. Muito obrigada.
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