segunda-feira, 18 de abril de 2011

Auguste Renoir, o pintor, visto por Jean Renoir, o filho

Auto-retrato de Auguste Renoir, jovem (1876) capa do livro de Jean Renoir (Folio)






RENOIR, CONTADO POR RENOIR

Renoir, "Les parapluies"



Renoir, "Menina a pentear os cabelos"



Comecei a ler um livro que me encanta.


Trata-se da biografia de Auguste Renoir (*), o grande impressionista francês, escrita pelo filho, Jean Renoir, cineasta (**) de valor. Intitula-se “Pierre-Auguste Renoir, mon père”.

Jean Renoir, actor e realizador do filme "La nuit du Carrefour" (de Georges Simenon)


Livro especial, pois, cheio de emoções, recordações que fazem sorrir, que fazem sofrer.

O livro começa quando Jean Renoir, ferido na Guerra (1915), é desmobilizado e volta para Paris, a viver com o pai.

Auguste Renoir e a mulher, Aline


A mãe morrera há pouco e Renoir-pai sente-se fragilizado, triste, não consegue sequer ter vontade de pintar.


Então, para o distrair, Jean vai-lhe perguntando coisas do passado, da sua pintura, da infância.


E Renoir vai contando.


Escrito ao correr da pena, recordando as conversas, os momentos especiais, as pessoas, os encontros, sem qualquer ordem cronológica, tem por isso uma grande frescura.


Parece-nos vê-lo sorrir das coisas que o pai lhe vai contando.

Le bal au Moulin

Renoir era uma pessoa simples, boa, que quando se ria todo o rosto se agitava: “parecia que a alegria lhe saia por todos os poros”, conta o filho. "A barba tremia, como que agitada pela alegria interior, os olhos castanhos bem vivos de natureza, franziam-se e brilhavam ainda mais...”



Auto-retrato de Renoir


Jean Renoir conta com ternura a história do pai. Os tempos de Montmartre, quando essa zona de Paris parecia uma pequena aldeia onde todos se conheciam, havia o bal-musette, onde se dançava e namorava;

La Grenouillère

Ou os almoços à beira-rio, os passeios de barco, tudo vivido numa convivência simples em que a camaradagem era importante.


No quadro, "Déjeuner des canotiers" encontra-se (à esquerda) Aline que vai ser a sua mulher bem-amada.


Le déjeuner des canotiers




Lugar onde se divertiam, dançavam. O conhecido quadro de Renoir, “Le Moulin de la Galette” retrata esse mundo: o domingo à tarde, no parque, à sombra das acácias.


Le bal du Moulin de la Galette

O Moulin tinha uma clientela especial e muita juventude. Jovens mulheres que trabalhavam durante a semana, vinham ali com os namorados; muitos artistas apareciam para coniver e distrair-se e até encontrar modelos não profissionais.


São os tempos em que conhece Aline, com quem depois virá a casar, com quem viverá toda a vida.


Uma vez, por acaso, vem à conversa o trabalho que Renoir fizera durante muitos anos (desde os 13 aos 17 anos) como pintor de porcelanas numa pequena empresa.


A dada altura, a invenção de uma máquina que passa a imprimir os desenhos, obriga a empresa a fechar. Os compradores preferiam essa nova técnica “porque assim ficavam com as chávenas todas iguais, sem a irregularidade da pintura à mão!”


Renoir ri. E diz: "o que mais me aborreceu foi ter de procurar outro trabalho, detesto tomar decisões...


E fala ao filho da teoria da rolha...


É melhor seguir a corrente às vezes... Só os loucos e os orgulhosos nadam contra a corrente... O melhor é dar com o remo um pouco mais para a esquerda, ou para a direita, no nosso caminho, mas nunca opormo-nos à corrente quando não é essencial...”


O filho indigna-se; «Tu, que fizeste a revolução impressionista? Dizem que mudaste mesmo a concepção da arte moderna!”


Ele responde, irónico: “Que revolução?”


E, calmamente, explica-lhe o que pensa. Para ele, os homens que fizeram algo de válido foram "os catalisadores de forças existentes e ainda desconhecidas do comum dos mortais".

Renoir pintou o retrato da mulher de Monet, de quem era muito amigo


Os grandes homens, insistia, " são aqueles que sabem olhar e compreender". Os que têm a percepção de uma necessidade do mundo moderno.


A propósito disso lembra-lhe que, apesar de achar que o pintor faria melhor se fosse ele próprio a “misturar” as suas tintas (no estado sólido, as tintas deviam tritar-se e ser misturadas) como dantes e fazia, quando não eram eles eram os aprendizes que trabalhavam no atelier...


Hoje não se justificava que se fizesse o mesmo, comenta.


Prefiro estar a pintar em vez de perder o meu tempo a misturar as tintas. Como não há aprendizes, prefiro ir ali à rue Pigalle comprar os tubos ao meu amigo Mullard que já as misturou para mim...”


E continua a explicar as vantagens dessa "modernidade": “sem as tintas em tubo que se levam facilmente connosco, pintores não haveria Cézanne, e Monet, Sisley e Pissarro, não poderiam pintar em plena natureza! E não haveria aquilo a que os jornalistas de hoje chamam impressionismo...”

retrato do realizador Jean Renoir

Ao longo da biografia, Jean Renoir conta uma série de histórias muito vivas e interessantes sobre a vida do pai.


Um dia volto outra vez, para lhes contar mais coisas!



(*) Pierre-Auguste Renoir nasce em 25 de Fevereiro de 1841 em Limoges. O pai, era alfaiate e a mãe, Marguerite, costureira.


Pertenciam a uma família da classe média, com alguns problemas financeiros, que, em 1844, decide ir viver em Paris para tentar uma vida melhor.


http://www.mundodececi.com/?tag=renoir-que-pintava-a-beleza


(**) nascido em Paris (Montmartre) em 5 de Setembro de 1894, Jean Renoir morre em 12 de Fevereiro 1979 em Beverly Hills.


Filmes que realizou :


La Nuit du Carrefour, Boudu sauvé des eaux, Madame Bovary, Le Crime de Monsieur Lange, Partie de campagne, Les Bas-Fonds, La Grande Illusion, Le carrosse d' Or.


4 comentários:

  1. Adoro pintura, esta biografia deve ser muito interessante pelo que descreve!
    Obrigada por tanta beleza.
    Hoje falei em Marvão e recuei ao tempo que lá vivi. Coloquei duas fotografias oferecidas por um amigo. Na altura não havia câmaras digitais.
    Apoderei-me do castelo mas foi só por um dia.
    Beijinhos! :)

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  2. Interessante,o que conta, e todas as pinturas são lindas.

    Um beijinho
    Isabel

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  3. Já voltei de Granada, a Carolina está bastante bem, vim satisfeita.
    Renoir! Que posso dizer eu mais de esse génio? Tenho um livro sobre ele e a sua obra de François Fosca. Sempre cantou a felicidade e a alegria de viver,a pintura foi até ao fim dos seus dias um refúgio para ele, por isso mesmo nunca quis expressar nela os seus sofrimentos.
    ¡Un besito!

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  4. Renoir é um dos meus pintores prediletos. Amo os Impressionistas. Muito obrigada.

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