Gabriel ficara sentado a olhar para as chamas, agitando o whisky no copo. Pensava na conversa com Joan. Ouvia a chuva. Sabia que o nevoeiro envolvia a casa isolada.
Se as circunstâncias fossem outras, poderia até dizer que se sentia bem. Gostava do Inverno, de ouvir chover e das noites ventosas.
As horas iam passando e o sono não chegava. Levantou-se, serviu-se de outra bebida e pôs-se a andar pela sala de um lado para o outro.
Tinha rugas vincadas na testa e as sobrancelhas franzidas como se pensasse em qualquer coisa que lhe custava a compreender.
-Procurar no passado, como sugere a Joan?, perguntou a si próprio em voz alta.
Ia pensando: "No passado? Só se for em África... A verdade é que estivemos lá todos!"
"E o David? O que terá acontecido ao David? Ainda hoje não sei o que se passou exactamente, nem por que se foi embora e deixou a família...
Por onde andará? E os outros? O que saberão disto tudo?
A verdade é que nos conhecemos todos ali."
De facto, Stephen Travis e o Rudolph Croft também tinham passado, como eles, por África.
Stephen era o marido de Alice e Rudolph fora casado com Helen até há uns anos. Tinham sido amigos sempre.
"Os papéis de Abigail?, mas como é que posso saber onde andam os papéis?
Onde é que vou procurar? Oh! Sim! Na pasta dela!"
A velha pasta de veludo cinzento onde Abigail guardava tudo.
"É a minha memória", dizia.
Sorriu, constrangido, parecia-lhe estar a ouvir as palavras dela.
Continha velhas fotografias, contas, as cartas que recebia de David.
Chegavam todos os meses, regularmente. Gabriel lembrava-se bem dos envelopes sempre iguais. Nunca lhe perguntara o que eram, mas via escrito o nome David Brenner e uma direcção em Nova Iorque.
No quarto de Abigail encontrou o que procurava. Dirigiu-se ao escritório, sentou-se à secretária e, quando abriu a pasta de veludo, descobriu três cadernos cobertos com a caligrafia irregular de Abigail.
Começou a ler e não deu pelas horas passarem.
Fora, o vento soprava com força e a chuva batia nas vidraças.
A expressão do rosto ia-se modificando à medida que ia mudando as páginas. O interesse crescia, a ansiedade também.
Quando terminou a leitura e fechou devagarinho os cadernos, o espanto e a preocupação carregavam-lhe o olhar.
Amanhecia quando se foi deitar.
Que teriam os cadernos?!!!
ResponderEliminarUm beijinho
Isabel
Agora é uma pena termos de esperar, a história é aliciante!
ResponderEliminarObrigada.
Beijinho. :)