Sim, mudar de rumo... Quer dizer ir à procura do tempo que ainda não está perdido... Já falei da indignação de que falava Hessel. Mas já não chega.
Às vezes vendo o que se passa –por aqui, por ali- sinto-me paralisada.
Vassiliy Kandinsky, Composição
Pasmo. Perplexidade. Raiva. Então não se pode fazer nada?!
É inevitável a “queda” no abismo? Não há esperança?
Paolo Ucello, a esperança
No Reino Unido continuam as manifestações anti-cortes (slogan: “Uncut! “não cortem!”): porque o governo de Con/Lib de Cameron anuncia cortes dramáticos que vão atingir hospitais, bibliotecas, a cultura.
Indesculpável... no momento em que economicamente o Reino Unido tem tido benefícios financeiros. Lucros. É isso que choca e revolta os ingleses. Por isso protestam...
Se há benefícios, para quem são? Por que razão continuar com os “cortes” naquilo que é “essencial”?
O que fazer, pois?
Li umas opiniões interessantes no Nouvel Observateur, um artigo e uma entrevista sobre essa mesma preocupação.
Apontam para a recusa de seguir o mesmo rumo, quando se percebeu que esse rumo estava errado.
Logo, mudemos de rumo! ("Changeons le cap!", intitulava-se o artigo Não tenho soluções, claro, ninguém as tem à partida, mas pensar até faz bem! É tempo de se apontarem soluções.
"Porque, no ritmo a que vamos, sem uma boa travagem, nem a terra aguenta a propulsão da técnica, da economia, do lucro que os homens procuram desregradamente. Iremos de catástrofe em catástrofe. "
Urgência: novos desígnios, novos caminhos...
Citando um livro que saiu de Edgar Morin, que tem 90 anos (“La Voie: pour l’avenir de l'Humanité”, Fayard), o jornalista Jean-Claude Guillebaud (autor do tal artigo) escreve:
"Corrupção endémica, educação desorientada, justiça em panne, pobreza em crescimento mais novas tecnologias, tudo tem de ser revisto."
Segundo ele, devemos “abordar frontalmente os problemas do tempo”.
Amadeo Souza Cardoso, máquinas
Porque o tempo – quero dizer, a “visão” que temos do tempo hoje - é uma das causas desse mal. Não há pausas, o tempo corre e nós atrás dele, sem fôlego, sem respeito pelos ritmos do mundo, da vida...
Ouve-se constantemente: “agora não tenho tempo!”; ”não dá tempo”; “não posso perder tempo”!
Quem o não diz? A propósito de tudo e de nada.
É a “doença do tempo” diz Guillebaud.
Conselhos?
Começar por mudar a perspectiva: ganhar tempo é às vezes perder tempo = perder tempo de vida, não aproveitar o tempo que temos, não ver o que se passa à nossa roda, não conhecermos os que nos rodeiam, não ir ver o campo, nem poder contemplar a beleza de um pôr do sol...
Alfred Sisley, à beira rio
Monet, nascer do sol
Não ver os amigos, não ir ao café...
Manet, a empregada
A ideia de pressa não deve nunca sobrepor-se à ideia do que é essencial.
Correr, correr... Qual é a meta? O que nos espera no fim?
Só que não é isso que se vê, nem se faz: na economia só ouvimos falar de “a curto prazo”, na vida social são as deslocalizações, que implicam "separações", a mobilidade e a flexibilidade, aceleradas, movimento, corrida, velocidade, fast-food, fast-vida...
“Noutros tempos havia um respeito pelo tempo, as pausas que correspondiam ao ritmo do tempo, com o fim de assegurar a continuidade do destino colectivo", afirma Guillebaud.
“Hoje não sabemos habitar nem promover um tempo que corresponda ainda às necessidades minimais da vida. O tempo já não é oferecido como um projecto. É sim uma injunção dominadora.”
Edward Hopper, quarto em New York
Mudar! A solução é pensar “como” alterar isto tudo que, no fundo, sabemos que é uma estupidez que nos impõem! Ter tempo para nós, para fazermos o que gostamos de fazer.
Mudar o tempo? Difícil. Mudar a velocidade e recusar a pressa, pensar nos ritmos essenciais. Isso sim. Isso talvez seja possível.
Edouard Manet, repouso
A entrevista que li (na mesma revista) era sobre o viver em comum, ecologia, ambiente, educação. Porque para tudo é preciso haver uma preparação, uma educação.
Percebi que "nós", portugueses, temos uma maneira de viver a relação trabalho/casa/família parecida com a dos franceses (provavelmente a nossa origem latina...) muito diferente do modo anglo-saxónico...
De facto, vamos para o trabalho carregados com os problemas familliares/pessoais, a correr, e voltamos para casa agora carregados com os problemas profissionais e com o emprego, o patrão, às costas!
Nós ainda mais... com o peso da vida mais difícil, dos ordenados mais baixos, da segurança social imperfeita, etc. Daí, uma tensão permanente, uma “gestão voraz do tempo, acomanhada de sentimentos de culpa, pelo tempo não aproveitado.” Com a sensação incómoda de nem fazer bem o trabalho, nem dar atenção à família.
Em Inglaterra, no Canadá, na Alemanha há um distanciamento, uma separação necessária entre trabalho e vida. Muito saudável.
Devíamos lutar contra esses (maus) hábitos!
Abandonar a ideia ( a prisão) do tempo: números, rendimento, produtividade que no fundo vai influenciar negativamente a vida, porque em detrimento da “qualidade” das relações humanas.
Porque, bem lá no fundo, nós humanos temos é necessidade de conviver.
Baccio Maria Bacci, a janela (blog "art incconu)
Temos sede de relações humanas! Com seres humanos!
Vamos mudar?
Não podemos contar com todos. Há casos perdidos já à partida... Os que se alimentam de velocidade, lucros, quilómetros, coisas, mais coisas, mais coisas!
Mas se tentarmos, num pequeno grupo, ir lutando para mudar, alguma coisa há-de acontecer!
Ideias?
- recusar os mecanismos dos outros que nos empurram para fazer isto ou aquilo, desta maneira ( a deles) e não de outra (a nossa!)
Como?
Educando-nos no aproveitamento do nosso tempo, nas escolhas de vida, etc...
- tentar fugir à imitação do outro: o que ele compra, o que ele faz, os sítios onde ele vai...
- arranjar um sistema de trocas (livros, objectos que não nos servem, até roupas...
- ter tempo para fazer o que é essencial!
- contemplar o que resta da natureza
- ter tempo para os outros que são importantes para nós ...mesmo que para isso tenhamos que abandonar certos pequenos vícios : TV, futebol a toda a hora, má-língua a propósito de tudo...
Pela minha parte confesso que o blog me distrai de coisas mais importantes...
Mais?
- lutar contra a agressividade, logo pela manhã... No trânsito, no autocarro, na rua... contra o vizinho, no trabalho...
- tentar viver melhor juntos
- não deixar que o quotidiano nos caia em cima dos ombros como um peso morto!
- não deixar que a mediocridade da vida dos outros nos destrua
- mudar pequenas coisas nem que seja ter um sorriso para aquela pessoa antipática que, se calhar, é só uma pessoa desgraçada ou frustrada...
- lutar contra a violência verbal que hoje aparece nas escolas, nos estádios, nos lugares públicos, nos transportes, nos hospitais...
- evitar termos de ter lições de haikido, judo ou Karaté...
Vejam se têm algumas ideias...
Podíamos formar o nosso grupo de “revolta contra o tempo perdido a correr atrás do tempo!"
Sócia nº1 do clube!
ResponderEliminarIsabel
Obrigada!!!! Vamos já inaugurar o clube e até podemos dar-lhe um nome!
ResponderEliminarE toca a ter ideias...
beijinhos e boa noite
Que tal "O Clube dos poetas vivos"?
ResponderEliminarPOR AQUI TENS MAIS CINCO, SEMPRE.
ResponderEliminarSÓ HÁ UMA SAÍSA: MUDAR O RUMO.
QUE TAL "MUDANDO O RUMO DAS COISAS" já estamos nos metendo né? faz bem lutar sempre, flores em punho e lá vamos nós.
5 bjs
Tento sempre viver ao ritmo da natureza,também da minha.
ResponderEliminarMuitas vezes não sei o que quero mas,sei sempre o que não quero.
Caio muitas vezes sempre com vontade de me levantar.
Luto sempre por aquilo em que acredito.
Também gosto de preguiça,preguiça a ouvir a natureza,preguiça a ver o Sol nascer,preguiça a ouvir uma voz de sonho,preguiça...,preguiça.
Não quero ultrapassar ninguém.
Cordial abraço,
mário
Gostei.Pode ser já esse...
ResponderEliminarImportante mesmo é o clube começar a funcionar!
Isabel
Adorei o nome. Sócia nº2!
ResponderEliminarSim...im...im.
ResponderEliminarConfesso, MJ Falcão quando li o titulo do seu post que me assustou porque é uma mulher com fibra e optimista.
No entanto, à medida que fui lendo acompanhada das belas imagens comecei a entender.
Magnífico este grito!
O tempo, é algo angustiante, passa num fio e as horas tecidas não nos deixam aproveitar o dia.
É preciso ter tempo sim. Mas não chega...
Beijinhos e obrigada!
Ana
Cara M. J. Falcão,
ResponderEliminarSolicito a minha carteira de sócio do clube!
Maravilha de texto - quisera poder abandonar a síndrome da falta de tempo e poder fazer um pouco do que sugeres!
Obrigado!
Faço minhas as palavras do Mário,"con a devida vénia", e por uma vez...
ResponderEliminarGosto de ver-te tão guerreira,é bom sinal. Só não quero ver-te triste. Beijinhos
Isto promete!
ResponderEliminarOs sócios a aumentar...
Maria João se me permite usar o seu espaço deixe-me dizer : Trepadeira, 200% de acordo.
Um beijinho
Isabel
Amigos! Que boa a vossa energia! Até me convenceram quando eu já estava a pensar "oh! como tu és ingénua!"...
ResponderEliminarVamos organizar (como? ainda não sei) a nossa espécie de clube, seja lá como for: de vez em quando um grito! e, sempre, uma flor no punho!
Bom domingo a todos.