domingo, 3 de abril de 2011

Poesia: Gomes Leal e "A Senhora de Brabante"

Simeon Salomon, A mulher de azul

Quando falei da lenda da "Lady de Shalott!, de Tennyson, e, dias depois, recordei uma história que costumava ler (ainda pequena, na varanda lá no alto da casa amarela), da triste história Duquesa de Brabante e que tinha lindas imagens para colorir.



Lembrei-me também da tragédia do Lohengrin de Wagner e de outra Duquesa de Brabante ( a internet nestas coisas é de grande ajuda) e da intervenção do sobrenatural...




Qual seria a história verdadeira da Duquesa de Brabante?







Depois lembrei-me de procurar o poema de Gomes Leal. Aqui fica...





A Senhora de Brabante


Tem um leque de plumas gloriosas,


na sua mão macia e cintilante,


de anéis de pedras finas preciosas


a Senhora Duquesa de Brabante.




N'uma cadeira d'espaldar dourado,


escuta os galanteios dos barões.


- É noite: e, sob o azul morno e calado,


concebem os jasmins e os corações.




Recorda o senhor Bispo acções passadas.


Falam damas de jóias e cetins.


Tratam barões de festas e caçadas


à moda goda:- aos toques dos clarins.




Mas a Duquesa é triste. - Oculta mágoa


vela seu rosto de um solene véu.


- Ao luar, sobre os tanques chora a água...


- Cantando, os rouxinóis lembram o céu...




Dizem as lendas que Satã vestido


de uma armadura feita de um brilhante,


ousou falar do seu amor florido


à Senhora Duquesa de Brabante.




Dizem que o ouviram ao luar nas águas,


mais louro do que o sol, marmóreo e lindo,


tirar de uma viola estranhas mágoas,


pelas noites que os cravos vêm abrindo...




Dizem mais, que na seda das varetas


do seu leque ducal de mil matizes...


Satã cantara as suas tranças pretas,


- e os seus olhos mais fundos que as raízes!




Mas a Duquesa é triste. - Oculta mágoa


vela seu rosto de um solene véu.


- Ao luar, sobre os tanques chora a água...


- Cantando, os rouxinóis lembram o céu...




O que é certo é que a pálida Senhora,


a transcendente Dama de Brabante,


tem um filho horroroso... e de quem


cora o pai, no escuro, passeando errante.




É um filho horroroso e jamais visto!


- Raquítico, enfezado, excepcional,


todo disforme, excêntrico, malquisto,


- pelos de fera, e uivos de animal!




Parece irmão dos cerdos ou dos ursos,


aborto e horror da brava Natureza...


- Em vão tentam barões, com mil discursos,


desenrugar a fronte da Duquesa.




Sempre a Duquesa é triste. - Oculta mágoa


vela seu rosto de um solene véu.


- Ao luar, sobre os tanques chora a água...


- Cantando, os rouxinóis lembram o céu...




Ora o monstro morreu. - Pelas arcadas


do palácio retinem festas, hinos.


Riem nobres, vilões, pelas estradas.


O próprio pai se ri, ouvindo os sinos...



Riem-se os monges pelo claustro antigo.

Riem vilões trigueiros das charruas.

Riem-se os padres, junto ao seu jazigo.

Riem-se nobres e peões nas ruas.


Riem aias, barões, erguendo os braços.

Riem, nos pátios, os truões também.

Passeia o duque, rindo, nos terraços.

Só chora o monstro, em alto choro, a mãe!..


Só, sobre o esquife do disforme morto,

chora, sem trégua, a mísera mulher.

Chama os nomes mais ternos ao aborto...

- Mesmo assim feio, a triste mãe o quer!


Só ela chora pelo morto!.. A mágoa

lhe arranca gritos que ninguém mais deu!

Ao luar, sobre os tanques chora a água...

- Cantando, os rouxinóis lembram o céu...



em "Claridades do Sul" de Gomes Leal


Prelúdio do Lohengrin, de Wagner






Ilustrações:




os pré-rafaelitas ingleses:




Simeon Salomon, Mulher de Azul


William Morris, papel pintado


Burne-Jones, a despedida do cavaleiro


John William Waterhouse, O missal


John William Waterhouse, Destino


William Morris, alcachofra, papel pintado


o pintor romântico alemão:




Casper David Friederich, corvos de Inverno




6 comentários:

  1. O poema de Gomes Leal é muito bonito e dos pré-rafaelitas gosto muito.
    Foi aliciante rever estas telas tão "medievais" depois do tempo.
    Beijinho!:)

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  2. MJ
    Não conhecia este texto de Gomes Leal (ó meu Deus, como é possível ?!:) e fiquei encantada...
    Importa-se que eu o coloque no Castelo?
    Abraço

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  3. Claro que pode, Virgínia! Até fico contente!
    Beijo às duas

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  4. Não sei quem será a senhora de Brabante,mas aconselho-te, se não a conheces já, a ouvir o "Lohengrin" de Wagner con Hans Sotin como o rei Henrique " o passareiro", Plácido Domingo como Lohengrin, Jessye Norman como a princesa Elsa de Brabante ( filha de Henrique o passareiro), além de cantantes da talha de Sigmund Nimsger, Dietrich Fischer-Dieskau,etc.
    Sir Georg Solti dirige a orquestra filarmónica de Viena.
    É uma das melhores versões desta ópera.Beijinhos

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  5. Tudo lindo neste post.

    Isabel

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